Água de graça e cama na varanda ajudam a suportar 40°C na Capital
Segundo o meteorologista da Uniderp, Natálio Abrão, a quarta-feira será o dia mais quente do ano na Capital
Para enfrentar as temperaturas mais quentes do ano e a baixa umidade do ar na Capital, os campo-grandenses recorrem à clássica toalha molhada nas janelas e cabeceiras das camas, hidratação e roupas mais leves no dia a dia. Mas anda difícil suportar as temperaturas recordes. Quando as medidas para driblar o calor não são suficientes, tem comerciante que dá até água de graça para cliente e morador que vai dormir na varanda de casa.
O calor de quase 40ºC já mudou a rotina de uma lanchonete no bairro Moreninha II, região sul de Campo Grande. Jaqueline Bandeira da Silva Constantino, de 35 anos, ampliou a oferta de água no estabelecimento, mas de graça.
“Eu nunca vendi água aqui, sempre tive uma garrafa para atender tanto os funcionários como os clientes. Mas com o calor eu aumentei e agora eu deixo garrafinhas menores que eu dou para cada cliente”, detalha. Ela conta que a ideia surgiu com a mudança do clima para facilitar a vida dos clientes, que tinham que levantar o tempo todo para pegar mais água.
Jaqueline reutiliza as garrafas de refrigerantes comercializadas, higieniza e congela. “O ciente chega e eu já coloco na mesa dele, facilita. E se quiser levar pode levar também. Porque tem gente que chega aqui com meio metro de língua para fora”, brinca. “É o que a gente pode fazer”, completa.
Ela mudou até as roupas que usa para trabalhar nos últimos dias. “Minha cozinha é muito quente e pela minha atividade o certo é eu trabalhar com sapato fechado, mas nos últimos dias eu não consigo”, afirma.
Com três crianças, o calor também mudou a rotina na casa de Jaqueline. “Tenho deixado eles descalços, porque acho que fica mais fresquinhos e deixo com o mínimo de roupa possível. Os gêmeos, de 1 ano e dois meses, por exemplo, nós deixamos sem fralda, porque como é plástico fica muito quente e acaba até machucando. Eles ficam de cueca e não tem nem problema sujar porque nesse calor seca rapidinho”, conta a dona da salgadeira.
Na lista de mudança de rotina ainda estão o aumento da hidratação e, apesar do pedido de racionamento, ela não abre mão das brincadeiras com água. “Tenho um pé de acerola em casa, então eles tomam suco o tempo todo e enchemos um balde de água e colocamos os três dentro”, relata. As toalhas molhadas na janela durante todo o dia completam as medidas para evitar o calor.
A comerciante Jossieni Dias Passos, de 30 anos, também aposta nas toalhas molhadas para aliviar tanto o calor como o tempo seco em casa. Já no trabalho ela conta que abandonou o uniforme nos últimos três dias. “O uniforme é de manga, gola alta e um tecido mais grosso, o jeito é usar roupas mais leves”, conta.
Exposto ao sol durante toda a jornada de trabalho, o servente, de 40 anos, Juarez Augusto dos Santos, que trabalha na obra do Reviva Campo Grande, sentiu na pele as consequências do calor. Na última quinta-feira (5), ele passou mal no ônibus na volta do trabalho. “Tive que ir para UPA [Unidade de Pronto Atendimento], fui consultado e o médico falou que passei mal por causa do tempo quente”, afirma.
O calor intenso trouxe mudança nos EPI (Equipamentos de Proteção individual). “Estamos usando essa toca árabe e blusas de manga comprida para proteger do sol forte, mas acaba deixando o clima mais abafado”, explica. Segundo ele, a água gelada o tempo todo é jeito encontrado para refrescar.
Assim como Juarez, Viviane Costa Medeiros, de 33 anos, também passou mal nos últimos dias. “Como minha pressão é baixa eu sempre passo mal no calor. Só nessa semana eu passei mal dois dias seguido”, conta. Para aliviar o calor ela dá preferência para roupas mais leves e toma tereré o dia todo.
Até a rotina de sair para ir no Centro mudou na última semana. “Hoje, por exemplo, a gente chegou 6h40 para resolver algumas coisas e até às 10h eu já quero ir embora. Não dá para andar no Centro no calor da tarde”, explica. Em casa, Viviane também mudou os cuidados com a filha. “Dou bastante água para ela e evito alimentos pesados”, completa.
Já para a professora Raiane Ribeiro, de 33 anos, o clima de Campo Grande está “tranquilo” em comparação com Corumbá. “Viajei no fim de semana lá está muito mais quente. Não consegui nem aproveitar, fiquei o dia inteiro no hotel e só saia a noite”, afirma.
Na Capital, para driblar o calor a professora relata que a solução é ficar com o ventilador ligado e tomando tereré o dia inteiro. “Nos últimos dias eu ainda durmo em rede, na varanda de casa. Quando começa a sair o sol é que eu vou para o quarto”.
Dia mais quente do ano – O calor não dá trégua e continua em Campo Grande e em todo o Estado de Mato Grosso do Sul. É o que aponta o meteorologista da Uniderp, Natálio Abrão.
Segundo ele, hoje deve ser o dia mais quente do ano na Capital. As temperaturas devem chegar a 39°C, com sensação térmica de mais de 40°C. Na terça-feira (10), a máxima chegou a 38.1°C.
“É preciso ficar em alerta, pois estamos com uma previsão de temperatura alta, baixa umidade do ar e nevoa seca. Estamos esperando que a umidade do ar fique abaixo de 15% hoje e não há previsão de chuva essa semana”, aponta o meteorologista.
Questionado sobre a onda de calor que atinge o Estado, Natálio explicou que a intensidade está atípica. “Essa massa de ar quente é normal na primeira semana de setembro, mas ela está potencialmente mais forte que nos últimos anos”, completa.