“Contemple sem se aproximar”, alertam especialistas após ataque de capivara
Criança sofreu ferimentos na cabeça, continua internada com quadro de saúde estável, mas sem previsão de alta
O episódio de uma criança de 4 anos que precisou levar 35 pontos na cabeça após ser atacada no domingo (15) por uma capivara, na Lagoa Maior, em Três Lagoas, cidade a 327 quilômetros de Campo Grande, acendeu o alerta. Como conviver de forma harmônica com animais silvestres? Com peso médio de 50 quilos e 60 centímetros de altura, a capivara é o maior roedor do mundo e chega a viver até 12 anos.
Conforme Kwok Chiu Cheung, superintendente executivo da Fundação Neotrópica do Brasil e docente da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), é importante lembrar que ataques ocasionais podem acontecer até mesmo com animais domésticos, como cães e gatos. O ideal é manter os limites nas áreas de convívio coletivo.
“Manter a distância, contemplar e fotografar sem se aproximar do animal e seu grupo. Aqui no Parque das Nações Indígenas [na Capital], vejo muitas pessoas tentando tocar ou sentar ao lado das capivaras para fazerem fotos. Não é correto, em algum momento, pode acontecer o mesmo que aconteceu em Três Lagoas”, alertou.
O professor explica que os animais silvestres são mais permissivos em áreas onde convivem com muitos humanos. “Até ocorre uma tolerância maior à proximidade humana, mas não significa que podem ser tocados ou alimentados. “É importante não tocar nos animais, não se aproximar demais, não tentar alimentar, pois a pessoa pode ter os dedos e mãos mordidas acidentalmente. Jamais abraçar ou agir como se fossem animais domésticos conhecidos”.
Kwok ressalta que capivaras normalmente são pacatas e o fato ocorrido em Três Lagoas não pode servir de estímulo para que se haja de forma agressiva com os animais silvestres. “Cabe às autoridades do parque aumentarem as sinalizações e monitoramento. É a nossa biodiversidade que torna MS diferente de outras regiões do Brasil”.
Sem previsão de alta - O menino está internado recebendo atendimento médico com quadro de saúde estável, consciente e orientado, mas sem previsão de alta.
Por meio de nota, o Hospital Regional da Costa Leste Magid Thomé informou que a criança deu entrada às 13h10 na última terça-feira (16), vítima de mordida de animal (capivara).
“O paciente recebe atenção médica (Pediatra, Cirurgião Pediátrico e Infectologista), do serviço de Assistência Social e principalmente do setor de Psicologia”, informou o hospital.
Caso - A mulher de 55 anos, mãe da criança, contou que o menino brincava com sua prima por volta das 9h no parque onde havia capivaras deitadas entre a grama e a calçada. Um dos animais acabou correndo atrás do garoto e o derrubou no chão. Em seguida, passou a mordê-lo na cabeça. A tia que acompanhava o menino afirmou que em momento algum ele encostou na capivara, mas ela estava com filhote e o ataque pode ter sido por proteção.
“Cada espécie tem sua área de segurança. Nessa situação específica, a capivara pode ter se sentido, de fato, ameaçada. E mesmo sem a criança ter feito algo ameaçador aos nossos olhos, para o animal talvez a proximidade já seja o suficiente”, afirmou o professor Kwok.
Conforme a Prefeitura de Três Lagoas, cerca de 100 capivaras vivem na Lagoa Maior, habitat natural delas. “Essa foi a primeira vez que um fato como esse aconteceu. Os biólogos responsáveis explicam que animais como as capivaras, mesmo sendo silvestres, não são agressivas e agem em defesa própria, por se sentirem ameaçadas”, informou.
Segundo a prefeitura, o manejo das capivaras é feito sempre que detectado o aumento de população e vai ampliar as orientações visuais alertando dos cuidados necessários para o bom convívio entre pessoas e animais.
De acordo com a médica veterinária do Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), Jordana Toqueto, animais silvestres estão cada vez mais presentes nos centros urbanos e a população deve aprender a conviver com eles, respeitando o espaço e o comportamento deles. "Estamos em época de reprodução dos animais, com isso é comum vermos muitos deles acompanhados com seus filhotes, devido a isto eles ficam mais atentos e em alerta para proteger suas proles, provavelmente o animal sentiu-se ameaçado e buscou protegê-lo".
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News.