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Meio Ambiente

Decoada deste ano não teve impacto de incêndios do Pantanal

Fenômeno registrado em fevereiro nas regiões pantaneiras não está relacionado às queimadas de 2020

Gabriela Couto | 29/03/2021 18:39
Espécies que morreram durante fenômeno da decoada em fevereiro foram estudadas por técnicos do Imasul (Foto Divulgação)
Espécies que morreram durante fenômeno da decoada em fevereiro foram estudadas por técnicos do Imasul (Foto Divulgação)

Os técnicos do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) concluíram o estudo da decoada registrada em fevereiro deste ano e chegaram ao veredito de que o fenômeno não esteve relacionado com as queimadas que assolaram o Pantanal no ano passado.

Os peixes morreram justamente pela diminuição do oxigênio dissolvido nos rios. A principal causa é o acúmulo de material orgânico. Foram coletadas amostras de água e espécies de peixes que morreram asfixiados.

Foram três campanhas a campo entre 12 e 25 de fevereiro para verificação in loco da mortalidade de peixes no rio Miranda, na região do Passo do Lontra. Ao todo 10 pontos georreferenciados foram amostrados, incluindo as confluências dos rios Vermelho e Miranda e Miranda e Paraguai.

Para o biólogo, coordenador do Laboratório de Ictiofauna e integrante da equipe que pesquisou o fenômeno, Heriberto Gimênes Junior, foi possível concluir que as queimadas ocorridas no ano passado não tiveram influência na morte dos peixes. A causa é, mesmo, o acúmulo de matéria orgânica no fundo dos rios que, quando entram em decomposição, reduzem a quantidade de oxigênio dissolvido e aumentam a de dióxido de carbono.

“Em outros anos, como em 2017, que não teve queimadas tão intensas como as do ano passado, a intensidade da decoada foi mais grave, verificando-se morte de espécies de grande porte”, frisou Heriberto.

O estudo gerou uma Manifestação Técnica que detalha como ocorre o fenômeno da decoada. “(...) quando o nível fluviométrico do rio Paraguai ultrapassa 3,5m de acordo com a régua de Ladário, localizada no 6º Distrito Naval, provocando a depleção do oxigênio dissolvido (OD < 3,0 mg/L), alta concentração de Dióxido de Carbono (CO2) e potencial hidrogeniônico baixo (pH),  adicionalmente podem ser observadas alterações na cor e odor da água no local do evento”.

Espécies mais afetadas - O estudo teve importância substancial porque, pela primeira vez, foi possível identificar quais as espécies que mais são afetadas pelo fenômeno da decoada. Das 83 espécies registradas na região pesquisada, verificou-se que os bagres, cascudos e tuviras eram as que mais sentiam os efeitos da redução do oxigênio dissolvido. “São espécies que vivem no fundo dos rios, em que o nível de oxigênio já é mais baixo em situação normal, e quando ocorre a decoada são as primeiras a sentir”.

 Para avaliar a qualidade de água foram analisados os seguintes parâmetros: oxigênio dissolvido (OD), Potencial Hidrogênico (pH), temperatura da amostra (°C), temperatura do ar (°C), turbidez e condutividade. “Ao todo 82 espécies de peixes, pertencentes a sete ordens, 25 famílias e 66 gêneros foram registradas durante o fenômeno de decoada no rio Miranda, na região do Passo do Lontra. Numerosos indivíduos de várias espécies foram observados na tentativa de captar OD na interface água/ar na margem direita do rio Miranda”, prossegue o estudo.

Estudo encontrou mutação genética no formato da boca de peixe que funcionaria para sobreviver a falta de oxigênio (Foto Divulgação)
Estudo encontrou mutação genética no formato da boca de peixe que funcionaria para sobreviver a falta de oxigênio (Foto Divulgação)

Outra constatação importante foi que algumas espécies sofreram mutações para se adaptar ao meio e conseguir sobreviver mesmo com oxigênio reduzido. Isso ocorre em peixes de escama, como pacus, sardinhas, lambaris. Eles apresentam uma extensão labial que são reversíveis, mas que em tempo de decoada potencializa a captação de água de modo a melhorar o fluxo e compensar os baixos índices de oxigênio.

Desse modo, o estudo chega à seguinte conclusão: “Frente ao exposto, a mortalidade dos peixes no rio Miranda, na região do Passo do Lontra em fevereiro de 2021 está relacionada através da depleção de oxigênio dissolvido pelo fenômeno de Decoada, fenômeno este já registrado e esperado para a região, conforme dados disponíveis na literatura. Destacamos que o fenômeno pode ocorrer em diferentes intensidades e em diferentes meses do ano, pois os efeitos dependem diretamente da intensidade dos ciclos de seca e cheia do Pantanal, e não ocorrem simultaneamente em todos os rios.”

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