Lar de capivara e jacaré, Lago do Amor viu progresso trazer lixo e assoreamento
A projeção é de um futuro sombrio e o lago na UFMS tem até data para desaparecer: 2036
Ao mirar o Lago do Amor na manhã desta segunda-feira (dia 15), Maria José Vaz, 72 anos, vê lixo, assoreamento e lembranças no espelho de água que é seu velho conhecido. Há quase cinco décadas ela é vizinha do local, na Avenida Senador Filinto Müller, no campus da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande.
Nas águas da memória, ela reencontra um lago limpo que permitia até competições de nado e também turbulências, como a trágica morte por afogamento de um jovem, filho do seu vizinho. Se o presente preocupa pelo lixo e assoreamento, a projeção é de um futuro sombrio. O lago tem até data para desaparecer: 2036.
“O progresso foi contaminando a água. Hoje, está todo assoreado e cheio de lixo. Precisa de um tratamento correto para esse local, que é um cartão-postal de Campo Grande. Todos que visitam a cidade querem conhecer”, afirma Maria José, que mora há 48 anos no Bairro Piratininga.
Na manhã de hoje, no entorno da área verde, a limpeza era realizada por equipe da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos). A faxina acontece da cerca para fora, enquanto garrafas plásticas, como mostrado ontem pelo Campo Grande News, ficam na margem do lago. A limpeza da área externa é feita as segundas e quartas-feiras. Hoje, foram recolhidos dez sacos de lixo.
Ponto de visitação, o entorno do Lago do Amor tem várias lixeiras, mas falta consciência ambiental aos visitantes. Por lá, funcionário da limpeza teve que pedir doação de borrachas a um borracheiro para prender os sacos de coleta na lixeira, pois, até esse plástico é furtado. Outra questão é que o público abandona as garrafas plásticas, que são levadas pelo vento para dentro do lago.
Na área externa, uma melhoria apontada pelos frequentadores foi a instalação de um contêiner, que suporta maior volume de lixo, principalmente quando se trata do descarte dos cocos, após o consumo da água. Cinco cocos já enchiam uma lixeira comum.
Fábio Cavalcanti, 47 anos, que tomava tereré em frente ao lago, afirma que o descarte irregular de lixo reflete uma questão cultural da sociedade. “Hoje, a sociedade vive de forma individual. Vim de uma geração de pais que instruíam os filhos sobre o que era ou não correto”, diz,
Ele conta que se incomoda com o lixo na água, mas destaca que é área da instituição federal. “Se alguém for ali fazer a limpeza, com certeza vai aparecer algum segurança para reprimir”.
Há quatro meses, o lago passou por limpeza numa iniciativa de dois grupos do Rotary Club, com auxílio do Corpo de Bombeiros.
O Lago do Amor foi inaugurado em 1968 para atender problemas relacionados à drenagem urbana, mas também serviria de ornamento urbanístico para a UFMS.
Por lá, se encontram as águas dos córregos Cabaça e Bandeira, que cortam região fortemente urbanizada. O Cabaça passa por bairros como Vilas Boas, Jardim TV Morena e Jardim Paulista. Enquanto o Bandeira corta bairros como Tiradentes e Rita Vieira, esse último com acelerada expansão imobiliária.
O Lago do Amor tem jacarés e é ponto para avistar capivaras. Ao todo, estudo aponta que o local tem 231 espécies de animais, entre residentes e visitantes ocasionais, sendo 150 de aves, 30 de mamíferos, 23 de répteis, 19 de peixes e nove de anfíbios.
Depois de passar pelo lago, que também funciona como uma piscinão para conter enchente, o córrego segue com nome de Bandeira até o Rio Anhanduí. O Campo Grande News questionou a UFMS sobre a limpeza e sobrevida do lago, mas não obteve resposta até a publicação da matéria.