MS tem 23 pequenas hidrelétricas em estudo e ONG questiona danos
Mato Grosso do Sul tem 23 PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) com implantação em análise pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) somente na Bacia do Alto Paraguai. Segundo dados divulgados pela ONG Ecoa (Organização Não Governamental Ecologia e Ação), existem quatro já em operação no estado.
A entidade montou um mapa interativo onde é possível conferir o local de instalação e em que ponto está o processo de implantação. Além das PCHs, o gráfico também monitora as hidrelétricas e atualmente existem duas cuja construção está sob análise do órgão regulador: a Sucuri, entre Coxim e Alcinópolis; e a Fazenda Carandá entre São Gabriel do Oeste e Camapuã.
Vistas como mecanismo para expandir a matriz energética do país, têm seus impactos ambientais tratados de forma controversa.
De um lado está o poder público, que segundo a ONG fomenta a construção dando inclusive subsídios fiscais para a execução das obras e flexibilizando as leis ambientais para autorizar os empreendimentos. Do outro quem fale nos prejuízos que essas construções trazem ao ecossistema.
O biólogo mestre em meio ambiente e desenvolvimento regional Marco de Barros Costacurta pondera que a real necessidade da construção das PCHs deve ser avaliada de tal forma que os impactos e benefícios sejam colocados na balança. Não há como negar, segundo ele, que existam vantagens para a população, mas a implantação deve vir acompanhada por estudos.
"As hidrelétricas podem causar tantos danos quanto benefícios ao ambiente e tudo deve ser pesado e medido muito bem, tanto pelo governo quanto empreendedores e a população, tendo como bases o principio da precaução e estudos desenvolvidos por pesquisadores da área e avaliados de forma conjunta com demais empreendimentos", afirma.
Segundo ele, para a produção dessa energia é necessário que rios sejam adaptados para possibilitar uma queda d'água suficiente para mover as turbinas geradoras de energia. Assim é preciso elevar a cota de água em barragens para que a água caia em de uma altura suficiente para tal.
“Dentre os principais impactos ambientais causados para a geração de energia hidroelétrica temos a supressão da vegetação ciliar, para evitar a deterioração da qualidade da água, a formação do reservatório, que alterará as características físicas do trecho de rio, transformando-o em um lago [no trecho do reservatório] e o afugentamento da fauna do entorno e a interrupção da migração de peixes rio acima”, diz o biólogo.
Segundo ele, a lei obriga as hidrelétricas a reconstituir a mata ciliar no entorno de seu reservatório, proporcionando ambientes semelhantes aos originais para a sobrevivência da fauna, além de instalar mecanismos de transposição, caso necessário, para manter o fluxo dos peixes migratórios. Além disso a qualidade da água deve ser permanentemente monitorada.
Na avaliação de Costacurta, não há como instalar hidrelétricas na planície pantaneira por não haver desnível suficiente para que a água possa entrar em queda suficiente para movimentar as turbinas, mas existem áreas de planalto próximas que permitem esses empreendimentos.
“A criação de hidrelétricas até ajudaria na retenção de sedimentos que desde muito tempo assoreiam alguns rios do pantanal, como o Taquari, mas de forma oposta, pode causar problemas na produção pesqueira em áreas adjacentes com a redução do fluxo migratório de peixes importantes para a economia local”, afirma o mestre em meio ambiente.
Para o biólogo, a solução seria o incentivo em tecnologias menos danosas, como a solar e eólica, que no Brasil ainda são pouco usadas em comparação com outros países.