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Meio Ambiente

No convívio com onças-pintadas, comunidades recorrem ao conhecimento como "arma"

Repelente luminoso é exemplo de medida simples e que pode evitar ataque de onças em áreas habitadas

Gabriela Couto | 31/07/2022 08:38
Onça-pintada descansando no barranco do rio Paraguai. (Foto: IHP)
Onça-pintada descansando no barranco do rio Paraguai. (Foto: IHP)

O maior felino das Américas, a onça-pintada, precisa do Pantanal para sua existência. Vítima de caçadores ancestrais, o animal agora é um atrativo turístico para o bioma. Mas para a convivência em harmonia entre homem e bicho é preciso de muito conhecimento sobre a importância das partes que coexistem no mesmo habitat.

Responsável pelo programa Felinos Pantaneiros, do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), o médico veterinário Diego Viena, fez um alerta sobre a necessidade da conservação da espécie.  “Uma das principais ameaças para a onça-pintada é a caça por retaliação devido a este felino, eventualmente, atacar animais domésticos, como bovinos, caprinos, equinos e até mesmo cães e gatos”, explica.

No começo do mês, o corpo de uma onça-pintada foi encontrado boiando no rio Paraguai, em Corumbá. Ela tinha a marca de um tiro na cabeça. A Polícia Federal ainda investiga o caso.

Repelente luminoso acoplado a tronco de árvore protege casa de ribeirinhos contra ataque de onças. (Foto: IHP)
Repelente luminoso acoplado a tronco de árvore protege casa de ribeirinhos contra ataque de onças. (Foto: IHP)

O IHP frisa que não há nenhum dado técnico que confirme que está ocorrendo um aumento de casos de ataques de onças-pintadas a cachorros e gatos na região pantaneira. “A percepção pode ser subestimada, como já ocorreu em trabalhos referentes ao número de casos de ataques de onças a rebanhos bovinos. Muitas vezes, o impacto percebido é maior do que o impacto real, intensificando as ameaças aos felinos”, pontua Viana.

É preciso acrescentar que não é de hoje que histórias de ataques raros de onças a animais domésticos de ribeirinhos são relatados. Há 300 anos, quando o homem pantaneiro começou a ocupar o lugar com uma pecuária sustentável já haviam registros esporádicos sobre o fato.

Vale lembrar que a onça-pintada é um animal carnívoro, do topo da cadeia alimentar, que está apenas vivendo e se alimentando no seu território natural.

Seres humanos - Com atuação de décadas no Pantanal, o presidente do IHP, coronel Ângelo Rabelo, afirma que ataques de onças-pintadas a seres humanos são raros e, geralmente, estão associados a situações de caça ilegal.

“Oficialmente, o registro que temos é um ataque fatal em Cáceres, em 2008. E é uma situação bem específica, que ocorreu em uma área onde havia a prática de fornecer alimento às onças-pintadas, o que é proibido por lei. Isso potencializou o risco de ataque”, lembra Rabelo.

Médico veterinário, Diego Viana, implantando repelente luminoso. (Foto: IHP)
Médico veterinário, Diego Viana, implantando repelente luminoso. (Foto: IHP)

Uma equipe formada por médicos-veterinários e biólogos do IHP tem acompanhado os casos de ataques de onças-pintadas a cães da comunidade Barra do São Lourenço, na Serra do Amolar.

“No Pantanal, as onças-pintadas tendem a escolher suas presas por influência do regime de inundação do bioma. Foi justamente no período de cheia que os casos de ataques a cães aumentaram na região do Rio Paraguai”, destaca o coordenador do Felinos Pantaneiros.

Diego explica que a onça vê o homem como uma ameaça, por ser bípede e maior que ela. "O comum é o animal parar e te encarar. O comportamento correto é manter o contato visual, não virar e sair correndo, para não apresentar comportamento de presa, porque assim como um gato ela vai querer brincar com você. Então mantém o contato visual e vai se afastando dela. As três vezes que tive contato com uma onça na trilha agi assim e em nenhum momento precisei me afastar. Ela se afastou primeiro”, orienta.

Tecnologias - De acordo com Rabelo, é importante destacar que o IHP tem prestado auxílio à população, por meio da implementação de estratégias já testadas pelo programa Felinos Pantaneiros, como instalação de repelentes luminosos. O equipamento emite luzes de diferentes cores em formatos e direções variáveis para espantar as onças e também funciona com energia solar. Outra sugestão é o manejo para os animais domésticos, principalmente no período noturno.

Equipe do IHP implantando repelente luminoso que afasta onças-pintadas durante a noite. (Foto: IHP)
Equipe do IHP implantando repelente luminoso que afasta onças-pintadas durante a noite. (Foto: IHP)

“Temos buscado apoio de outras instituições, mas, principalmente, temos amparado estas comunidades. Não podemos colocar a onça-pintada como uma vilã. Por isso, temos investido em ações de educação ambiental, implementado estratégias que surtem efeito e, claro, prestado atendimento aos cães feridos”, explica o presidente do IHP.

Atualmente, existe um grupo de discussão formado por pesquisadores do IHP, ICMBio/Cenap, Embrapa, Ecoa, Panthera e Onçafari. O grupo tem o objetivo de apresentar possíveis estratégias de mitigação para o conflito, além de apurar o número de casos de ataques de onças a animais domésticos, nas regiões de Corumbá, Ladário (ambas em MS) e Poconé (MT).

“É sabido que a coexistência harmônica é totalmente possível. Hoje, os moradores das comunidades da Serra do Amolar já têm se beneficiado do turismo de base comunitária desenvolvido na região e também tem participado ativamente com os pesquisadores que trabalham no monitoramento das onças-pintadas na região. A coexistência entre as onças-pintadas e o homem pantaneiro é histórica. A onça é um dos principais atrativos turísticos e beneficia uma cadeia enorme”, finaliza Ângelo Rabelo.

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