ONG pretende triplicar brigadas em 2020 para combater fogo no Pantanal
Estrutura de combate às chamas carece de investimentos públicos em fiscalização para funcionar de forma efetiva
A devastação do Pantanal pelo fogo revelou a estrutura insuficiente de combate a incêndio disponível na região. Para evitar dificuldades nos próximos anos, a Ecoa pretende triplicar o número de brigadistas qualificados para evitar a consumo da mata pelo fogo. No entanto, apenas formação de voluntários não é suficiente, já que as ações carecem de investimentos públicos em veículos, instrumentos de trabalho e principalmente ações de fiscalização.
Desde a intensificação dos focos de incêndio próximo a Corumbá, município distante 420 quilômetros de Campo Grande, em agosto, 30 brigadistas formados pela ong (organização não governamental) trabalham para deter o fogo. Foram investidos R$ 60 mil na aquisição de equipamentos e os voluntários receberam treinamento Prevofogo no decorrer deste ano.
Conforme o diretor da Ecoa, Alcides Faria, apenas a formação das brigadas não basta. “A capacidade de fiscalização dos órgãos governamentais teve redução significativa. O Ibama enfrenta dificuldades e a vigilância deve crescer”, destacou.
O biólogo explica que o número é de 30 brigadistas é insuficiente para atender toda a região do Pantanal. No entanto, o fato de parte dos voluntários pertencerem a comunidades ribeirinhas funciona na proteção destas populações. “O primeiro passo é a proteção de suas casas e suas famílias”, explica.
Legislação – Apesar dos esforços e da eficácia que representam, a formação de brigadas voluntárias esbarram em dificuldades. De acordo com o analista de conservação da ong WWF, Cássio Bernadino, no Brasil, não há legislação responsável por regulamentar a atuação de brigadistas, o que dificulta a elaboração de políticas públicas.
“As brigadas comunitárias são muito importantes nas ações de combate a incêndio. Muitas não têm treinamento correto. O ideal é que elas recebessem capacitação todos os anos e equipamentos de proteção individual”, ressalta.
A ong atua no desenvolvimento de ações estruturantes junto as comunidades em relação a gestão de fogo de forma prudente.
Incêndios criminosos – Desde 2003, a Ecoa realiza a campanha “Queimada Mata” que, além da formação de brigadistas, atua no sentido de conscientizar quanto às queimadas irregulares. “Calculo que 90% dos focos surgem de incêndios irregulares provocados por incendiários”, explica Faria.
O principal alvo dos incêndios criminosos são as beiradas de rodovia. Práticas utilizadas em áreas de produção agrícola e para extração de mel selvagem, em que as abelhas são espantadas por fumaça, por exemplo, se não foram executadas de forma correta representam risco o meio ambiente.
Conforme o Inpe, neste ano foram registrados em Mato Grosso do Sul 6,3 mil focos de incêndio, sendo que 1,5 mil somente em setembro. O número já supera a quantidade de focos acumulados em seis dos últimos dez anos (2.380 em 2018; 5.737 em 2017; 4.617 em 2015; 2.214 em 2014; 3.615 em 2013; 3.731 em 2011).
O diretor da Ecoa atribui o aumento de registros também ao ano de águas baixas no Pantanal. Ou seja, a cheia foi menor em 2019, em relação a anos anteriores, o que facilitam a proliferação do fogo.
A WWF calcula um aumento de 370% dos focos de incêndio em relação aos anos anteriores. No ano passado, até setembro, a área incendiada no pantanal equivalia a 309 mil hectares, neste ano o território devastado já ultrapassa os 600 mil hectares.
De acordo com o analista de conservação da WWF, desde os anos 90 o período de picos de incêndio no Pantanal começa cada vez mais tarde. Antes, agosto era o mês de maior incidência. Agora, setembro apresenta o maior número de focos. Desde 2012, não havia tantos focos de calor e tanta área queimada. “A tendência é que o pior ainda está por vir”, acredita Bernadino.