Registro noturno de javaporcos em lavoura anuncia "terror" na temporada do milho
“Tem uns 20 anos que esses animais aparecem e cada ano que passa vai piorando”, diz produtor
Registro noturno de javaporcos (resultado do cruzamento de javalis com porcos domésticos), aglomerados em lavoura de milho no município de Maracaju, a 159 km de Campo Grande, anuncia que o problema dos produtores rurais está só no começo em Mato Grosso do Sul.
Como a melhor janela para semeadura do grão vai de meados de janeiro a meados de março, o maior volume de plantio foi há um mês. Desta forma as plantações nascentes atraem javalis e javaporcos, considerados poderosa praga invasora. O bando pode destruir plantações, pisoteando ou escavando a terra em busca de alimentos.
“Pelo vídeo, aparentemente são animais dessa realidade [javaporco]. Normalmente, acontece nessa época, como ocorreu a colheita da soja e a lavoura de milho está recém-plantada, esses animais passam a ficar mais visíveis”, afirma o presidente do Sindicato Rural de Maracaju, Marco Antônio Guimarães Marcondes.
O problema se repete em Caarapó, a 274 km da Capital. "Tem uns 20 anos que esses animais aparecem, cada ano que passa vai piorando. Tem ataque durante todo ano, mas é mais comum na época do plantio do milho. Tem época que atacam em um lugar, aí migram para outra região", enfatiza o presidente do Sindicato Rural do município, Carlos Eduardo Macedo Marquêz.
Ele explica que produtores rurais buscam ações para evitar que os javalis e javaporcos cheguem às plantações, como cerca de choque e valetas.
Pesquisadora da Embrapa Pantanal, Aiesca Oliveira Pellegrin afirma que os animais estão distribuídos em muitos municípios de Mato Grosso do Sul. Também é crescente o tamanho dessas populações. Os animais atacam a lavoura de milho praticamente durante todo o ciclo da lavoura. Desde o embonecamento (quando os cabelos das espigas começam a surgir) a depois da colheita.
“O período em que os javalis mais começam a atacar a lavoura vai da época de embonecamento do milho até as espigas que ainda ficam no solo. Eles revolvem o solo para comer o que sobra", diz a pesquisadora.
No Simaf (Sistema de Informação de Manejo da Fauna), ligado ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), o último boletim disponível mostra que MS foi o terceiro Estado com mais aparecimento de javalis entre 4 de abril de 2019 a 31 de agosto de 2021. No período, o total foi de 899. Atrás de Santa Catarina (1.316) e São Paulo (1.287).
No ano passado, houve um período, que foi de setembro a dezembro, em que o Ibama suspendeu autorizações para controle desses animais. Os javalis não têm predador natural e podem ser abatidos.
A Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS) recebe e acompanha relatos da presença dos animais considerados exóticos em várias cidades do Estado. Segundo a Federação, os invasores causam prejuízos ao meio ambiente e a economia de Mato Grosso do Sul.
"Estes animais danificam APPs (Áreas de Preservação Permanente) e são capazes de devastar plantações inteiras e das mais variadas culturas. Os grandes bandos derrubam e se alimentam das plantas, muitas vezes inviabilizando o plantio no entorno em que se instalam", relata em nota enviada ao Campo Grande News.
A orientação para os produtores que têm suas lavouras invadidas pelos animais é procurar a Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal) e o Imasul (Instituto Estadual de Meio Ambiente) para informar os prejuízos.
Os javalis chegaram a Mato Grosso do Sul em 1990, trazidos do Uruguai, e entraram pela região Sul do Estado. As matrizes trazidas para cá cruzaram com porcos domésticos, gerando os javaporcos, que apresentam elevada capacidade reprodutiva. Os animais têm hábito noturno e ninhada de seis a dez filhotes por gestação.
Matéria atualizada às 15:35 para acréscimo de informações.
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