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Meio Ambiente

Só o difícil acesso e o solo infértil protegem nascentes do Alto Paraguai

Conforme monitoramento, ao menos 60% das fontes na região tem algum grau de comprometimento

Jones Mário | 27/06/2019 13:32
Área próxima a uma das nascentes do Rio Salobra, na Serra da Bodoquena (Foto: Divulgação/IHP)
Área próxima a uma das nascentes do Rio Salobra, na Serra da Bodoquena (Foto: Divulgação/IHP)

Monitoramento e diligências do projeto Cabeceiras do Pantanal, iniciativa do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), identificaram que ao menos 60% das nascentes de rios na região de planalto da Bacia do Alto Paraguai tem algum grau de comprometimento. As fontes mais bem conservadas ficam em locais de difícil acesso, que atraem pouco interesse de produtores rurais.

O Cabeceiras do Pantanal utiliza geotecnologia e levantamentos de campo para monitorar a situação de nascentes e APPs (Áreas de Preservação Permanente) na região onde nascem os rios que banham o bioma. Este acompanhamento resultou na descoberta de erosão e possível desvio de um dos tributários do Rio Salobra, o Salobrão, em Bodoquena, onde resta somente o leito seco. Em nota, o Imasul (Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) diz que examina a situação no local.

Segundo Ângelo Rabelo, do IHP, os quase dois terços de nascentes comprometidas do Alto Paraguai apresentam matas ciliares suprimidas. A degradação representa risco especialmente no período de chuvas, quando a força das águas leva sedimentos para os leitos e pode acelerar processos de assoreamento e turbidez dos rios.

“O olhar para a questão dos rios tem que ser estratégico, e não pontual, para que não aconteçam mais perdas. Temos o alerta de um dano irreparável, que é o Taquari. É um prenúncio de que todos os rios devem ser melhores conservados desde as nascentes”, aponta.

No caso do Rio Salobra, a segunda nascente é exemplo de proteção. Chamada de Salobrinha, a mina d’água está escondida em área de morraria, de difícil acesso, o que, segundo o biólogo e coordenador de monitoramento do IHP, Sérgio Eduardo Barreto, justifica o estado de preservação quase intacto.

Rio Salobra deriva de tributários que nascem em área de morraria (Foto: Divulgação/IHP)
Rio Salobra deriva de tributários que nascem em área de morraria (Foto: Divulgação/IHP)

“No Salobrinha foi encontrado área muito boa, em ótimo aspecto de conservação, mas é uma questão de logística. A área é de difícil acesso, o solo tem muita rocha, então, não há interesse em produzir nada por lá”, garante.

Barreto compara a situação do Salobrinha com outros tributários visitados pelo IHP. “A gente atua nos banhados do Rio da Prata, onde há uma área embargada. Pegamos um banhado do Rio Perdido que também estava sendo seco. No Rio mimoso identificamos mau uso do solo, nenhuma curva de nível, produtor que desviava para lavar um chiqueiro e depois jogava a água suja de volta”.

O biólogo é ainda mais pessimista sobre o cálculo de 60% das nascentes da região comprometidas. “É disso para cima. Essas nascentes estavam esquecidas. As pessoas se esquecem que se prejudicar lá em cima, vai prejudicar o restante do curso do rio. É necessário preservar a nascente”, reforça.

Os cursos d'água localizados na região de planalto da Bacia do Alto Paraguai formam as nascentes dos rios que descem para a planície. Estes tributários transportam grande volume de água e sedimentos, e são estratégicas para a qualidade e a quantidade das águas que determinam o fluxo hidrológico do Pantanal. Além disso, o abastecimento de água das cidades no planalto ou planície pantaneira são afetadas por esse regime hídrico.

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