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Na Íntegra

"Atacados e desvalorizados": Famasul rebate declarações de ministras

Presidente da Federação, Marcelo Bertoni, afirma estar indignado com falta de conhecimento sobre o Pantanal

Por Glaura Villalba | 06/07/2024 12:58

Há 3 anos à frente da entidade que representa os produtores e os sindicatos rurais de Mato Grosso do Sul, Marcelo Bertoni afirma estar frustrado e indignado com o que considera "desconhecimento sobre o Pantanal". Como integrante do grupo que ajudou na elaboração da lei para o bioma, ele diz que a categoria se sentiu atacada e desvalorizada, diante das declarações feitas pelas ministras Marina Silva e Simone Tebet, em visita recente a Corumbá.

Baseadas em dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), as ministras atribuíram à ação humana, a responsabilidade pelos incêndios no Pantanal, seja por desmatamento, seja por queimada, e declararam que 85% dos focos concentram-se em propriedades privadas.

"Ela jogou a culpa no produtor rural e a gente veio para esclarecer. A gente faz parte da sala de situação do Governo, onde tem esse monitoramento dos focos de incêndio. O primeiro que chega para combater os incêndios é o produtor rural. Não é o bombeiro, não é ninguém...é o produtor rural", afirma.

"A gente se sente não só atacado, a gente se sente desvalorizado. Que conhecimento técnico elas tinham para fazer uma declaração desse porte? É com isso que eu não concordo! "

Bertoni diz que são vários os fatores que podem gerar fogo num momento como esse de seca, baixa umidade, calor intenso, vento demais e muita massa. Segundo ele, muitos focos começam na beira das rodovias e dos rios.

"E aí o fogo sai da beira do rio que é a área da União e vai para dentro das propriedades privadas. Aí, é lógico que vão dizer que vai ser nas áreas privadas. Nós temos 97% do Pantanal em mãos de produtores rurais, com 86% do seu bioma preservados. Quem faz a maior preservação é o produtor rural e não tem interesse do produtor rural em botar fogo nessa época. A sociedade tem que estar madura para entender que o produtor faz o seu trabalho com excelência, nós cuidamos da natureza com excelência. Ninguém tem o interesse de destruir o solo de onde tiramos o nosso sustento", explica.

 Fogo - o Presidente da Famasul se posiciona contra a proibição das queimadas controladas para manejo de pasto ou outros cultivos, o que devido aos incêndios atuais ficará em vigor até o fim do ano. Ele argumenta que o homem pantaneiro tem uma experiência secular com a atividade e sabe quando e como deve utilizar o fogo.

"Sempre se trabalhou com fogo no Pantanal. Fogo é renovação em alguns casos, quando você consegue colocar fogo após uma chuva, quando você consegue fazer um manejo. Porque muitas das sementes, se quebra a dormência com fogo. Eu não tô dizendo que você tem que sair botando fogo pra todo lado e saindo queimando. Isso não pode!"

 "Essa é uma questão que a gente tem conversado muito com o Estado, a gente pede o MIF – Manejo Integrado do Fogo, que ele seja realmente aplicado na época em que o pantaneiro-raiz achar que tem fazer, acompanhado pelos bombeiros, tudo certinho, com autorização, na época correta de se fazer. Precisa ter esse manejo, porque o Pantanal é feito de renovações, de ciclos: cheia, seca, fogo”.

Ministério Público - A Famasul compartilha do mesmo entendimento do Ministério Público Estadual que apontou que dos 20 pontos de fogo identificados, 13 eram em imóveis rurais.

"Tem vários cenários que podem levar o fogo para dentro das propriedades rurais, mas não é por isso que devemos afirmar que o fogo começou nas propriedades. Se o produtor ateou fogo, tem que tomar multa. Agora, só não pode atrelar todos os produtores a um que fez uma coisa errada", completa.

Para ele, a aprovação, na última quinta-feira, 04 de julho, do Plano de Manejo integrado pelo Senado Federal foi uma conquista e acredita que se as queimas prescritas tivessem sido colocadas em prática com antecedência, os incêndios não teriam atingido essas proporções.

"Esse ano, o Governo do Estado tentou fazer a queima prescrita porque eles identificam onde tem muita massa e o risco de incêndio, mas a gente não conseguiu colocar em prática por causa de muita seca e muito vento e, resolveu-se que não era o momento de colocar. Mas esse ano, se tivesse implementado um pouco antes, teria mitigado. O que nós precisamos agora, é tentar fazer com que seja implementado isso para outubro, novembro, dezembro e para o ano que vem", defende o Presidente.

ONGS- A Lei do Pantanal e a regulamentação do artigo 10 do Código Florestal também têm um papel transformador para todos que vivem e compartilham do bioma Pantanal, afirma Bertoni, mas ele ressalta que é importante que a sociedade entenda que o produtor pantaneiro precisa ter uma contrapartida.

"Eu não estou reclamando disso, porque se a gente faz esse empenho comum para a sociedade, eu preciso que a sociedade entenda que eu preciso receber por isso. A partir do momento que eu tenho uma fazenda no Pantanal que não é formada, eu tenho uma capacidade de produção menor do que a do produtor que é da serra então, eu preciso fazer com que a minha propriedade seja eficiente no Pantanal, porque senão você vai matar os pantaneiros lá dentro”, argumenta.

Sobre as Ongs a afirmação é direta: "Não são inimigos"!

"Dependendo da ONG, a gente consegue conversar. A gente tem uma boa relação com a SOS Pantanal, tem uma boa relação com o Coronel Rabelo. WWF geralmente dá uns atritos, mas nenhum deles é meu inimigo. Eu posso ter pensamentos diferentes e algumas visões diferentes, mas não são inimigos"!

Futuro -  “Nós temos andado muito. O nosso Estado tem feito diferença. O que falta é a gente conseguir fazer em nível nacional. E aí, eu vejo o seguinte: muitas pessoas ganham com esse pânico, porque é mais fácil eu dizer que está pegando fogo em tudo que é lugar ... ". Bertoni cita os incêndios florestais que ocorrem nos Estados Unidos e afirma que até lá, onde há muito mais recursos, o fogo pode se tornar difícil de controlar e, a todo tempo, reforça que o produtor não pode ser penalizado por preservar mais.

"A preservação tem que estar alinhada a tudo isso, desde que eu receba. Eu não posso ser penalizado, com a sociedade querendo que eu preserve mais. Eu acho que o desenvolvimento do Pantanal tem que ser bem pensado, olhando toda uma sociedade que está lá dentro. Eu não posso quebrar essa sociedade".

O Presidente da Famasul encerra com um manifesto em forma de pergunta: "Como pode ter gente que quer fazer lei para o Pantanal sem conhecer a região"?

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