Área degradada do Pantanal pode chegar a 2,1 milhões de hectares, aponta estudo
Levantamento do MapBiomas abrange danos causados de 1986 a 2021, sendo o fogo um dos principais fatores
A área degradada dos biomas brasileiros ente 1986 e 2021 varia entre 60 milhões de hectares, no mínimo, até cerca de 135 milhões de hectares. Somente no Pantanal, a extensão pode variar de 800 mil hectares (6,8%) até 2,1 milhões de hectares (19%).
No período, o Brasil apresentou entre 11% e 25% de sua vegetação nativa suscetível a processos de degradação. Em outras palavras, até 25% do território brasileiro pode ter vegetação nativa degradada.
No caso do Pantanal, ainda que seja um bioma que convive com o fogo, a incidência de incêndios nos últimos cinco anos fez com que 9% das formações florestais no Pantanal, que são áreas sensíveis ao fogo, tenham sido prejudicadas.
Estes dados foram agrupados, pela primeira vez, de forma ampla e em todos os biomas brasileiros, em uma nova plataforma do MapBiomas Brasil.
O levantamento se limita à vegetação nativa, não incluindo a degradação em áreas antropizadas, tais como lavouras e pastagens. Também não foram analisadas áreas de voçorocas, desertificação e expansão de areais. Isso significa que os números apurados não refletem a totalidade da degradação do território brasileiro.
Eduardo Rosa, da equipe Pantanal do MapBiomas, ressalta que alguns dos vetores de degradação do Pantanal podem estar no entorno do bioma, uma vez que todos os rios que irrigam naturalmente a planície pantaneira nascem em áreas de planalto.
“A remoção de vegetação nativa para a expansão agrícola e pecuária desprotege o solo e interfere na distribuição de água e sedimentos. A quantidade e a qualidade de água que chegam na planície dependem, ainda, de barragens e hidrelétricas que alteram os fluxos naturais da água”, detalha.
Rosa diz que o aumento de períodos de estiagem tem dificultado a resiliência do ecossistema pantaneiro.
Levantamento – A Mata Atlântica é o bioma mais degradado em termos proporcionais, mas é o Cerrado que registra a maior área absoluta de degradação no Brasil, biomas que também estão presentes em Mato Grosso do Sul.
Considerando o intervalo entre um cenário mais restritivo e outro mais amplo, esses valores podem variar entre 36% (12 milhões de hectares) e 73% (24 milhões de hectares) da área de vegetação nativa que ainda resta na Mata Atlântica.
O intervalo com maior área absoluta degradada do Brasil fica no Cerrado, aonde a degradação pode ir de 18,3 milhões de hectares a 43 milhões de hectares – área que corresponde a 19,2% e 45,3% da vegetação nativa remanescente no bioma, respectivamente.
“O Cerrado é um bioma com forte presença da agropecuária, já bastante fragmentado, de modo que as áreas de borda são importantes vetores na disseminação de espécies exóticas invasoras, como por exemplo gramíneas africanas”, explica o pesquisador Dhemerson Conciani, que faz parte da equipe do Cerrado do MapBiomas.
Segundo Conciani, essas gramíneas são uma das principais ameaças para o bioma, pois além de diminuírem a biodiversidade, aumentam significativamente a biomassa disponível e favorecem a ocorrência de queimadas mais frequentes e intensas do que aquelas que o bioma está adaptado.
O estudo concluiu que a Amazônia tem a segunda maior área degradada do Brasil. Os percentuais são baixos, de 5,4% a 9,8%. Em extensão, no entanto, os números a colocam na vice-liderança dos biomas mais degradados: de quase 19 milhões de hectares a 34 milhões de hectares – extensão menor apenas que a do Cerrado.
Conceitos - A vegetação nativa (florestas, savanas, campos, áreas pantanosas etc.) está sujeita a dois tipos principais de ameaças: a supressão (desmatamento) e a degradação. O primeiro caso é quando ela é totalmente removida, sendo substituída por algum uso antrópico (ex. agricultura). No segundo caso, ela não é removida, mas sofre o efeito de fatores que alteram a sua composição biológica e seu funcionamento.
Os vetores de degradação considerados pela equipe do MapBiomas nesta primeira edição da plataforma incluem o tamanho e o isolamento dos fragmentos de vegetação nativa, as suas áreas de borda, a frequência do fogo, o tempo desde a última queimada e a idade da vegetação secundária
As áreas de borda, ou seja, as áreas de contato entre a vegetação nativa e usos antrópicos, são vetores de degradação porque a vegetação nativa fica mais exposta aos efeitos negativos dos ventos, da radiação solar e da deriva de agrotóxicos aplicados nas lavouras adjacentes. Além disso, pode sofrer taxas de predação de animais mais elevadas e é mais suscetível aos incêndios induzidos por humanos.
Outro vetor avaliado – o tamanho dos fragmentos de vegetação nativa – tem relação direta com a quantidade e variedade da fauna e da flora presente.
O fogo na vegetação nativa pode ou não representar um fator de degradação. Isso porque alguns tipos de vegetação naturais, como campos e savanas, possuem uma história evolutiva de convivência e adaptação ao fogo. Em contraste, os ecossistemas florestais não são adaptados à exposição frequente ao fogo e são mais suscetíveis à degradação causada por incêndios. O fogo nessas áreas resulta em perda de biodiversidade, degradação do solo e em alteração na estrutura da vegetação.
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