Bolsonaro faz balanço da gestão e chora em última live como presidente
Presidente disse que buscou alternativas, mas que apesar de difícil foi melhor ficar calado após a eleição
Durante aproximadamente 50 minutos, o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (PL) fez uma transmissão ao vivo pelas redes sociais dele na manhã desta sexta-feira (30). Perto de deixar o Palácio da Alvorada para encerrar o mandato e fazer a transição ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no domingo (1º), o atual chefe de Estado fez um balanço da gestão nos últimos quatro anos e se emocionou ao falar para seus seguidores.
“Estamos aqui para fazer um balanço, já que a grande mídia não divulgou. Fizemos o Auxílio Brasil, levamos água ao Nordeste, promovemos a paz no campo, levamos internet para as escolas. Fiz tudo pelo Brasil, tenho a consciência disso. Entregamos título de terras aos assentados, aplicamos uma lei de liberdade econômica extensa, facilitando a liberação de alvarás, que liberava meses. Fizemos a privatização das estatais. A Itaipu Binacional está construindo pontes”, elencou.
Bolsonaro também citou os colégios militares e a ampliação de escolas cívico-militares pelo País durante seu mandato. Ele ainda ressaltou a escolha técnica dos ministros durante sua administração, bem como o resgate do patriotismo no Brasil. “Conseguimos mudar a questão da prova de vida dos idosos, dar 36% de reajuste do piso da educação e domamos a inflação. Isso junto com o parlamento e não na canetada. Botamos um teto no ICMS dos combustíveis, mas o novo governo quer que volte a cobrar os impostos federais. Tudo indica que a gasolina vai subir R$ 1. Vai aumentar o diesel e o gás de cozinha”, ressaltou.
O presidente elencou números como a ascensão do País no ranking da digitalização, sendo vice-líder mundial e a volta à décima colocação como melhor economia do planeta. “Infelizmente 51% da população não viu isso”, disse. Após lamentar a morte do jogador de futebol Pelé, ele deu continuidade ao que chamou de ‘segunda parte’ do discurso.
“O voto você vê pelas ruas. Nunca gastamos um real para essas pessoas nos movimentos. Fizemos quase 30 motociatas no Brasil a custo zero pra nós. Movemos multidões e por isso as esperanças eram palpáveis”, afirmou ao se referir à possibilidade de conquistar a reeleição nas urnas, em outubro deste ano.
“Mas sofremos acusações absurdas. Foi uma campanha parcial. Só que se você duvidar da urna, está passivo de responder processo. Nosso partido buscou alternativas. Fizemos uma petição, mas arquivaram e deram uma multa. O que acontece? Qualquer medida de força sempre acontece uma reação. Por isso, temos que buscar o diálogo”, acrescentou.
Segundo ele, não houve uma orientação pessoal para que os manifestantes fossem até os quartéis. “Eu não participei desse movimento. Eu me recolhi, porque a imprensa sempre ávida para pegar uma frase minha e colocar fora de contexto. Não tinha uma liderança. É um protesto pacífico, ordeiro, seguindo a lei e tem que ser respeitado. Não é porque um do movimento foi lá e fez besteira que todo mundo tem que se responsabilizar por isso”, justificou.
Voltando a citar as ‘quatro linhas da constituição', Bolsonaro afirmou que ele buscou alternativas neste período para atender ao pedido da população que foi para as ruas. “Mas muitas vezes, dentro das quatro linhas, tem que ter apoio. Alguns acham que era só pegar a Bic e tá tudo resolvido. Nenhum momento eu fiz isso. Até hoje eu fiz minha parte dentro das quatro linhas. Você que quer resolver o assunto pode ter razão, mas o caminho não é fácil”, considerou.
O presidente disse que o governo Lula vai ‘começar capenga’ e que muitos eleitores do petista já estão “arrependidos”. “Não quero mudar a cabeça de ninguém no tocante a isso aí. Mas temos que nos responsabilizar pelos nossos atos. Tem que ver quem vai vir aí para a posse. O Maduro vai se fazer presente, o Ortega. Isso é um mau sinal”, disse Bolsonaro. “Hoje esse pessoal, com essa ideologia assumiu, o seu País ficou pior. Não queremos que o Brasil piore. Temos que respeitar, mas é um dever nosso reagir. Qualquer manifestação é bem-vinda. Não queremos o confronto e nem estimulamos a isso. Creio no patriotismo de vocês, sei o que passaram nesses dois meses, Sol, chuva. Isso não é nada que vai ficar perdido”.
Emocionado, ele ressaltou o legado que a polarização deixa para o País. “Aqui dentro despertou milhões de pessoas a estudar o porquê tivemos essas manifestações no Brasil espontâneas. Passaram a entender sobre política brasileira. Cada um passou a saber da importância do voto responsável. Foram para os quartéis pedir socorro, porque queremos transparência, liberdade, respeito da constituição, não queremos a volta no passado. Eles estão lutando pelos que oprimem, até pela imprensa brasileira”, afirmou o presidente.
Durante o discurso, Bolsonaro ainda disse que ‘não vai jogar a toalha’. “Não vamos deixar de fazer oposição, criticar, de conversar com os vizinhos com mais propriedade e conhecimento. Dei meu sangue ao longo desses quatro anos. Foi um chamamento de Deus. Não tem tudo ou nada. Vamos ser inteligentes e mostrar que somos diferentes do outro lado. Deus, pátria, família e liberdade são coisas que ficam para sempre. Mas por falta de conhecimento o meu povo pereceu”, lamentou.
Em seguida ele deixou uma mensagem aos seus apoiadores. “É um momento triste para milhões de pessoas. Alguns estão vibrando, outros em momento de reflexão. Gente chateada comigo porque acha que eu devia ter feito alguma coisa, qualquer coisa. Eu digo que mesmo para conseguir fazer temos que ter apoio. Somos responsáveis. Não quero ficar atacando pessoas, instituições, grupo, seja o que for. Tem que buscar apoio, ajuda, trazer gente para o nosso lado, prepará-las. Quantas vezes eu perguntei: 'meu Deus, o que eu fiz para passar por isso?' Foram muitos sacrifícios. Mas não podemos fazer o que o outro lado sempre fez”, disse em lágrimas.
Depois, Bolsonaro citou a importância do Legislativo nos próximos quatro anos. “O nosso Brasil não vai se acabar no dia 1º de janeiro. Temos 30 dias de recesso do parlamento. O que volta em fevereiro é conservador e menos dependente do Poder Executivo. Eu sei que tem muita gente de cama, de tristeza, quase no velório. Tem gente feliz porque 'a eu tirei o Bozo de lá'. Tá, tirou o B, e agora?”, questionou, se referindo à entrevista do João Amoêdo do partido Novo nesta semana.
Ao concluir, ele disse que durante o discurso no Youtube, Instagram e Facebook foram 840 mil assistindo. “Jamais esperava chegar aqui. Se cheguei, teve um propósito. Jamais deixar o Brasil mergulhar nessa energia nefasta que é a da esquerda. Se você está chateado, constrangido, se coloca no meu lugar. Eu tenho a convicção de que dei o melhor de mim. Não posso fazer algo que não seja bem feito, e assim os efeitos colaterais sejam danosos demais. Tudo que um país faz tem reflexo no mundo todo. Mas o bem vai vencer. O Brasil não sucumbirá. Perde-se batalhas, mas não a guerra. Obrigado a todos vocês por me proporcionarem esses quatro anos. Sabem agora a importância da união, o respeito ao próximo, amar a família, buscar sempre a paz e harmonia não da boca pra fora. Um bom 2023 a todos e que Deus abençoe o Brasil. Vamos em frente”.