Com poucas opções, PMDB tem dificuldade para escolher vice de Giroto
O PMDB anunciou que decidirá até o final do mês o nome a ser indicado como vice de Edson Giroto (PMDB) na disputa pela Prefeitura de Campo Grande em outubro.
A cinco meses da eleição, o partido ainda vive indefinição com relação a escolha do vice, incluindo na lista de interessados o presidente da Câmara Municipal, vereador Paulo Siufi (PMDB), derrotado por Giroto nas prévias, o ex-deputado federal e desafeto do governador André Puccinelli (PMDB), Dagoberto Nogueira (PDT), e a ex-candidata a governadora na chapa de Zeca do PT, Tatiana Ujacow, também do PDT.
O governador André Puccinelli (PMDB) já declarou que cinco pessoas concorrerão a vaga, que o partido promete ser definida a partir de uma pesquisa qualitativa. Os outros dois nomes, que nos bastidores são apontados como os mais cotados, são mantidos em sigilo. Dentro do partido, o nome de Dagoberto é o que provoca mais rejeição.
Puccinelli justificou que embora haja um desentendimento entre os integrantes da aliança nas indicações para vice, todos devem se comportar "como a seleção brasileira, onde se convoca os melhores, independente do partido que os mesmos defendam".
A rejeição a Dagoberto se dá, principalmente, por conta das duras críticas feitas pelo candidato ao Senado Federal em 2010 contra Puccinelli, principal líder do PMDB no Estado.
Ficha suja-Dagoberto também responde a um processo criminal e dois por improbidade administrativa. As ações por improbidade de Dagoberto ocorrem por publicidade pessoal, em distribuição de cartilhas quando era secretário de Justiça, no Governo Zeca do PT, e irregularidades na instalação de monitoramento eletrônico.
Ele responde, ainda, a um processo por suspeita de desvio de R$ 30 milhões no Detran/MS (Departamento Estadual de Trânsito), que dirigiu na administração petista.
Ex-presidente do Detran, também é acusado de ferir a Lei das Licitações, ao dispensar a realização de concorrência para recolhimento dos valores do DPVAT (Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre).
A S &I, contratada para executar os serviços, é acusada de utilizar-se, indevidamente, do código de identificação que era de um banco extinto, o Excelsior, sob autorização de uma terceira empresa, a ATP Tecnologia e Produtos SA, cujo diretor executivo era Juarez Lopes Cançado.
A investigação é de 2005 e antes corria no STF (Supremo Tribunal Federal), porque Dagoberto tinha foro privilegiado. Neste ano, ele virou réu no processo na Justiça Federal.
Apesar dos processos, o advogado de Dagoberto, André Borges, afirma que ele pode ser candidato, visto que em 2010 o TRE já autorizou a candidatura, mesmo com estes três processos.
Uma outra sombra envolve o partido, que enfrenta uma batalha judicial por conta da nomeação do diretório estadual, presidido por Dagoberto. A questão está sub júdice e segundo o responsável pelo processo, Paulo Dolzan, pode impedir o partido de ter candidato nestas eleições.
Os outros-A lista de concorrentes a vice inclui a ex-candidata a vice ao Governo do Estado na chapa do PT, Tatiana Ujacow, escolha que também significa uma reviravolta. Também é vista, entre os políticos, como algo arriscado, considerando que além da candidatura ao lado de Zeca, ela nunca teve expressão política suficiente para entrar nessa disputa.
O presidente municipal do PDT, vereador Paulo Pedra, entende que Tatiana e Dagoberto são fortes concorrentes e darão “musculatura” para a campanha de Giroto, para que ganhe no primeiro turno. Ele alega que embora não tenha sido eleita para nenhum cargo, Tatiana é professora universitária e tem um trabalho com as minorias.
O PDT segue, pelo menos oficialmente, na disputa pela indicação do vice, com apenas um vereador em Campo Grande e sem nenhum deputado federal ou estadual. Indagado sobre este aspecto, Pedra justifica que a força do partido está na militância e no fato de "Dagoberto estar entre os prediletos pelos eleitores nas pesquisas já realizadas na Capital."
O presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, vereador Paulo Siufi, afirma que é partidário e atenderá ao pedido do partido, caso resolva indicá-lo como vice.
Siufi analisa que a aliança com o PDT é natural. Todavia, entende que as “pesadas críticas” de Dagoberto ao grupo político o descredenciam para o posto. O vereador confidencia que o prefeito de Campo Grande, Nelson Trad Filho (PMDB) já lhe pediu para olhar para frente, mas entende que não se pode esquecer o que fizeram ou falaram.
A vice-governadora e uma das líderes do PMDB em Mato Grosso do Sul, Simone Tebet, relata que o cargo de vice deixou de ser cotado como mero substituto eventual para ter uma importância maior na administração. Ela ressalta que o vice de hoje tem a responsabilidade de substituir o titular, mas também é pautado por missões administrativas.
Simone defende que o cargo seja destinado a pessoas de extrema confiança, visto que a importância da função é institucional e não eleitoral. A vice-governadora defende a escolha de uma mulher para o posto. Caso isso não ocorra, Simone entende que é preciso eleger alguém com "densidade eleitoral", mas que possa contribuir na gestão e no trabalho em prol da população.
Análise externa-O doutor em Geografia Econômica e Política, Tito Machado, analisa que, infelizmente, o vice tem a maligna conotação de ser apenas "uma pedra no tabuleiro de xadrez", sem auxiliar no processo administrativo ou fazer, a exemplo, articulações com os poderes ou entre o prefeito e a sociedade.
Tito explica que quando o vice é do mesmo partido do prefeito acaba tendo um papel de subordinação política. Já quando faz parte de uma articulação, acaba sofrendo o desgaste do isolamento, chegando a uma situação complicada, que em sua opinião, chega a ser cômica. “Ou totalmente submetido à vontade do prefeito ou um elemento a mais. Subjugado a interesses do ator principal ou caso isolado. A função de vice deveria ser recuperada na história”.
O doutor em Geografia Econômica e Política avalia que hoje o vice-prefeito não tem importância eleitoral, mas faz parte de arranjos de composição.
Tito comenta que a maioria das pessoas não sabe o papel do vice e pensa que não vai além de substituir o titular, o que pode ser um problema, já que o eleito para vice pode assumir o lugar em caso de uma fatalidade ou ascensão do titular.
O presidente estadual do PMDB, Esacheu Nascimento, defende uma composição com um vice do partido. Porém, entende que por conta da aliança em torno de Giroto, que deve ter 15 partidos, será difícil que o posto não seja destinado a outra legenda.
Esacheu afirma que o sistema atual ainda não criou a cultura de chapa pura, embora a reforma política exija isso em breve. Ele acredita que um vice de outro partido dificilmente vai dar continuidade ao trabalho que é executado pelo titular.