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Política

Da cadeia, Olarte volta a negar em depoimento compra de cassação de Bernal

Prefeito insistiu várias vezes não ser o Goiano, figura com diversas citações nos áudios da operação

Nyelder Rodrigues | 21/05/2021 18:01
Imagem com o momento da audiência, feita a distância, já que Olarte está preso (Foto: Reprodução)
Imagem com o momento da audiência, feita a distância, já que Olarte está preso (Foto: Reprodução)

Eu não sou o Goiano. Essa foi uma das frases mais citadas pelo ex-prefeito Gilmar Olarte em depoimento feito à 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande, em continuidade às audiências da reta final da Operação Coffee Break. Olarte depôs da prisão, onde cumpre condenação de outra ação.

Por aproximadamente uma hora e vinte minutos, o ex-prefeito da Capital foi ouvido pelo juiz David de Oliveira Gomes Filho e pelos promotores Humberto Lapa Ferri e Adriano Lobo. A reportagem do Campo Grande News teve acesso às gravações. A referência a ele como Goiano se deve as iniciais GO, as mesmas de Goiás.

Basicamente, Olarte negou todas as acusações de ter participado de esquema para cassar o mandato do então prefeito de quem era vice, Alcides Bernal (PP), defendeu todas as escolhas que fez na prefeitura, afirmando que foram de cunho técnico e não uma troca de cargos por votos na cassação.

Admitindo ter se preparado para assumir o cargo quando 'burburinhos' de impeachment começaram a acontecer, ele negou ter feito acertos políticos em troca de votos contra Bernal, mas assumiu que houve conversas, já que ele precisava rapidamente fazer a transição e fazer a prefeitura 'andar'.

"Acerto político, não. Conversas sempre há. Isso aconteceu com Temer, Itamar. Vice tem obrigação de se preparar", revelou à Oliveira Filho, sem explicar a diferença entre conversas e acertos, apesar de ser indagado sobre tal posteriormente.

Quanto a indicação de vereadores para secretarias, ele destaca que não houve "no sentindo pejorativo", mas usou como exemplo a pasta de Educação, tradicionalmente gerenciada pelo PSDB, partido o qual ele afirma ter conversado para que fosse usado a experiência de seus quadros em sua gestão.

Compra de votos - Já quando questionado sobre sua relação com os empresários João Amorim e João Baird, acusados de financiar o processo de cassação, Olarte negou relação próxima com ambos e que apenas com Amorim chegou a conversar trivialidades, em conversa na casa do empresário quando ainda era vice.

Além disso, durante todo depoimento o ex-prefeito negou ter participado ou saber do envolvimento dos citados na cassação de Bernal - e assim ele não esteve envolvido em nenhuma 'compra de votos' para que pudesse assumir o posto.

Outra negativa de Olarte foi quando a uma suposta 'ponte' que o empresário Fábio  Machinsky faria entre ele e Baird. "Ele não fazia. Baird tinha contratos com a prefeitura, e eu inclusive não assinei novos", respondeu, confirmando depois que conhecia Machinsky, também chamado de Fabão.

Negando ter se encontrado com João Amorim - mas se contradizendo posteriormente, onde disse que foi até sua casa já que várias pessoas queriam saber o perfil de Olarte quando ainda era vice - o ex-prefeito se mostrou bastante incomodado com a suposição de que ele seria a pessoa atribuída a Goiano.

"Ninguém nunca me chamou de Goiano. Tem alguma ligação de alguém me chamando de Goiano? Então não procede. Outro réu falou? Eles estão induzindo", se defendeu. Em outra oportunidade, ele ainda debochou da pergunta feita.

Questionado sobre se tinha conhecimento de transferência de valores entre Baird e Amorim entre 2013 e 2014, ele respondeu que "como vou saber? Não tem como eu saber envios empresa à empresa", rindo durante e após a fala.

Uma mão lava a outra - Quando colocado áudio em que ele conversa com o então secretário de Saúde, Jamal Salém, afirmando que a gestão deveria ser dividida entre os dois, conforme combinado anteriormente, Olarte precisou ser mais específico na explicação e depositou tal 'acordo' a conversas partidárias.

"Essa conversa foi feita de forma partidária já durante o mandato, para que alinhassem as coisas e atendessem bem a população. Quando falei que o combinado era tocar juntos, estava querendo dizer que não estavam me agradando e eu queria colocar o dedo ali, queria participar para melhorar", concluiu.

Posteriormente, Olarte se disse orgulhoso das indicações para chefiar as pastas municipal que realizou e que todos era quadros com experiência e capacidade para tal.

Dívidas - Outro assunto tratado no depoimento foi Ronan Feitosa e sua participação na cassação de Bernal e no pagamento de dívidas de campanha. "Ele disse que o Bernal tinha [dívidas de campanha] e por isso estaria trocando cheques", comentou Olarte, se referindo a depoimento feito por Ronan.

"As pessoas viajam. Qual o poder de um assessor para negociar cargos e nomear pessoas", completou Olarte, dizendo que não procede as afirmações que ele pagaria seus credores assim que assumisse o comando da prefeitura - já que, segundo ele, suas dívidas eram normais, de dia a dia, nada exorbitante.

Coffee Break - Todos os convocados são réus na ação que tramita na 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande, respondendo por improbidade administrativa sobre os fatos que teriam ocorrido em 2014.

Com quase 18 mil páginas, 21 réus e 64 testemunhas, o processo vem realizando audiências híbridas por causa da pandemia de covid-19. O depoimento dos denunciados será presencial, colhidos em sala especialmente montada no quarto andar do Fórum de Campo Grande. Os demais participarão por vídeo.

O cronograma de audiências vai até junho. A operação foi realizada em 25 de agosto de 2015 pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado). Em 2017, o juiz David de Oliveira Gomes Filhos aceitou denúncia por improbidade administrativa contra 28 pessoas. O pedido era de indenização de R$ 25 milhões.

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