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Política

Erro de Bernal foi “parar” cidade e não exorcizar “fantasmas”, diz cientista

Zemil Rocha | 21/10/2013 20:04
Cientista político Eron Brum também culpa eleitores pela situação de Bernal (Foto: arquivo)
Cientista político Eron Brum também culpa eleitores pela situação de Bernal (Foto: arquivo)

O cientista político, jornalista e escritor Eron Brum, professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), considera que o principal equívoco cometido pelo prefeito Alcides Bernal (PP), que vive a iminência de afastamento e cassação do mandato, foi ter paralisado a cidade ao constatar irregularidades deixadas pela gestão passada, de Nelsinho Trad (PMDB).

“Campo Grande é uma cidade rica, com uma arrecadação muito boa, que ficou amarrada. Ele (o prefeito) paralisou a cidade por falta de habilidade. Poderia chegar e ser um coordenador, um gerente, mas ficou muito tempo olhando para o passado, vendo fantasmas”, analisou Eron Brum.

O que está acontecendo com Bernal, na Capital, segundo Eron, já ocorreu este ano em vários municípios. “Ele pensa igual aos outros políticos e quem sofre é a cidade. Estamos vendo uma cidade paralisada e agora com a Comissão Processante vai parar mais ainda.Ele infelizmente não teve habilidade ou percepção de que a cidade espera um grande gerente, com competência”, afirmou Brum, que está preparando mais um livro, desta vez sobre a imigração japonesa em Campo Grande.

Para Eron, Bernal perdeu muito tempo ficando de olho nos erros do passado. “A preocupação dele era o fantasma do governo anterior, as obras superfaturadas. Suspendeu algumas delas, como o prolongamento do Rita Vieira até as Moreninhas, que hoje só uma saída, que é pela Av. Gury Marques. Também parou a da Guaicurus, que tinha verba aprovada do governo passado, que vai de sul a sudeste da cidade. Teve também a questão da licitação da coleta de lixo. Estava errado não, agiu certo. Se tem coisa errada, tem de fazer levantamento e denunciar, mas não podia paralisar e deixar a cidade na situação que ficou”, criticou. “Se acionasse o Ministério Público e a Justiça, se comprovada a irregularidade paralisaria a obra com apoio da população”, acrescentou. “Foi inábil”, sentenciou.

Bernal também falhou, politicamente, na opinião de Eron Brum, em desprezar aliados políticos, como o PSDB. “PT e PSDB também se distanciaram. O PSDB foi ignorado na formação do governo, o que gerou mais crise e resultou na expulsão do secretário José Chadid”, disse.

PMDB em vantagem – Na avaliação do cientista político, o PMDB deve ser o partido mais beneficiado com o fracasso administrativo do prefeito Alcides Bernal. “O PMDB tentará obter vantagem e vai obter”, previu Eron Brum. “A derrota do Bernal vai beneficiar o PMDB”, emendou.

Para Eron, o Poder Municipal sempre influencia em qualquer eleição. “Aqui tem os problemas. Você vota de acordo com seus governantes”, avaliou o cientista, considerando, porém, que a influência é muito mais para a disputa pelo governo estadual do que para a Presidência da República.

Outro aspecto a ser considerado, segundo Brum, é o fato de que a possibilidade de cassação do prefeito Alcides Bernal não está isolado do que vem acontecendo em Mato Grosso do Sul no plano judicial. “Mato Grosso do Sul foi o Estado campeão de cassações de prefeitos no País. É o Estado que mais cassou. O presidente do TRE, Josué de Oliveira, deu uma lição de como se conduz processo político eleitoral. Nunca tivemos tantos prefeitos cassados”, constatou.

A Comissão Processante, recém-criada pela Câmara de Campo Grande por 21 votos a oito, para Eron Brum, veio “em boa hora” para se esclarecerem as acusações apontadas pela CPI da Inadimplência. ”Não se encontra nada de concreto para dizer aqui tem roubo, mas existem dados a serem esclarecidos. Os próprios empresários às vezes fazem acordos. Isso é uma caixa preta”, salientou.

Culpa dos eleitores – Embora destaque a ineficiência política de Bernal, como geradora da crise política, Eron Brum acredita que parte da culpa cabe aos eleitores. “Os cidadãos só se mobilizam no período eleitoral e depois ignoram os acontecimentos políticos. Nós eleitores somos absolutamente ausentes do processo político”, apontou.

A delegação de poder, através do voto, sem cobrança posterior, para Eron, é um grave problema do sistema político. “Delegamos aos representantes e não cobramos, não participamos do processo.Somos parcialmente culpados de tudo isso”, afirmou o professor.

Para ele,o sistema político brasileiro é “arcaico” e precisa de mudanças profundas. “Não é por acaso que os partidos e nossos políticos aparecem lá no fundo do poço em matéria de credibilidade. Parece que não nos identificamos com o político. Isso é grave, porque a vida de todos nós passa pela política, principalmente pela Câmara Municipal, pois o que realmente existe é a cidade. Estado e país são figuras jurídicas, legais”, argumentou. “Do seu solo que é extraída riqueza, há produção, o comércio. A vida do processo político está no âmbito local”, destacou.

Eron Brun avalia como “lamentável que esse processo se repita sempre que se elege alguém da oposição para governar”, visto que há arraigados interesses sendo contrariados. “Quando é eleito o do mesmo partido nada acontece”, observou.

A solução, para Eron, seria uma “reforma profunda no sistema político-eleitoral”, que atacasse as bases dos problemas. “Não está que está aí e que é adereço. As manifestação de rua pediram isso, os políticos acordaram, mas a resposta é pífia. Tinha de ter voto distrital, financiamento público de campanha”, apontou o cientista.

Hoje o País tem 32 partidos políticos, o que Eron considera ser um exagero. “E tem mais 38 esperando aprovação. Isso é uma farra do dinheiro público, já que o fundo partidário sai do nosso bolso. Se todos forem aprovados em alguns anos teremos 70 partidos no País”, afirmou. “Não são partidos, são siglas de aluguel. Pendem para um lado ou outro a cada eleição. O programa partidário parece que um é copiado do outro”, finalizou.

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