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Política

Escolhido à canetada, nome de MS é polêmica 34 anos depois da criação

Aline dos Santos e Wendell Reis | 11/10/2011 08:05

MS já foi Estado de Maracaju, Território de Ponta Porã, Campo Grande e Pantanal

Nascimento de Mato Grosso do Sul, na visão do artista plástico Humberto Espíndola. (Foto: Reprodução)
Nascimento de Mato Grosso do Sul, na visão do artista plástico Humberto Espíndola. (Foto: Reprodução)

Mato Grosso do Sul chega aos 34 anos em crise de identidade, sem ter certeza nem do próprio nome. Na última terça-feira, a uma semana do aniversário do Estado, a Assembleia Legislativa aprovou alteração na Constituição Estadual, abrindo as portas para realização de um plebiscito sobre mudança do nome.

O Estado segue a sina de ser confundido com o vizinho Mato Grosso e a cada visitante recebido já virou lugar-comum o brado em coro: “do Sul”.

Filha da ditadura, a nova unidade da federação – criada em 11 de outubro de 1977 em decreto assinado pelo presidente Ernesto Geisel – deveria ter levado o nome da Capital.

“Mas a outra cidade, principalmente Dourados, reagiram contra o nome Campo Grande”, recorda o jornalista Sérgio Cruz, que testemunhou o nascimento do Estado.

Para ele, o fato de mais de três décadas depois o nome ainda ser questionado se deve à falta de diálogo à época da criação de Mato Grosso do Sul. “Era época da ditadura, não se discutia nada”. Cruz avalia que o processo democrático que faltou há 30 anos ainda deve ser feito.

Como exemplo, cita a experiência do Tocantins. “Foi discutido antes. Queriam Goiás do Norte, Tapajós, Bananal. Foi escolhido Tocantins”, afirma.

O ex-senador Valter Pereira avalia que houve um pecado original na criação, porque as pessoas não foram consultadas. “Como não ocorreu no devido tempo, nada obsta que se discuta a mudança do nome. Sou a favor, preliminarmente, da discussão, pois um fato é real, existe até hoje uma confusão grande”.

“Trocar de nome não é mudar de roupa. Mato Grosso do Sul está se afirmando, trinta anos é muito pouco para um Estado”, salienta Idara Duncan, carioca de nascimento e sul-mato-grossense de coração. Há 50 anos em Campo Grande, ela lembra que o descontentamento era geral com essa parte do território presa ao Mato Grosso.

“Estávamos cansados de ver todos os nossos impostos indo para o Norte. Nossa cultura era mais ligada a Rio, São Paulo, Paraguai”, recorda. Para Idara, já temos nossa fisionomia, que somadas à produção cultural constroem a identidade local. “É como se olhasse no espelho e perguntássemos quem somos nós”. À pergunta, ela traz a resposta na ponta da língua. “Um povo maravilhoso, lutador e trabalhador”.

Do Mato - Na história de Mato Grosso do Sul, nomes não faltaram. Em 1932, o Sul do Mato Grosso apoiou os paulistas na Revolução Constitucionalistas, e por curtos meses fomos o Estado de Maracaju.

Em 1943, por força de decreto do presidente Getúlio Vargas, Ponta Porã, Porto Murtinho, Bela Vista, Dourados, Miranda, Nioaque e Maracaju viraram Território de Ponta Porã. Três anos depois, os municípios foram reincorporados ao Mato Grosso.

Nos últimos anos, ganhou força o nome Estado do Pantanal. A proposta foi encampada pelo então governador Zeca do PT, mas não prosperou diante da forte oposição.

Parte da explicação pode estar no passado, como lembra João Leite Schimidt, que participou da primeira constituinte. O ex-deputado se recorda que leu o projeto da divisão do Estado antes da apresentação, cujo nome seria Campo Grande, seguindo o que acontecia com São Paulo.

Porém, o pedido de mudança, adotando Mato Grosso do Sul, ocorreu porque os próprios deputados não queriam perder a condição de mato-grossense, ainda do que do Sul.

Eldorado - Mentor da Bovinocultura, o artista plástico Humberto Espíndola retratou o gênesis do novo Estado na tela “Nascimento de MS”. Nos braços de um senhor verde oliva, repousa um bezerro de ouro.

Na divisão, Mato Grosso ficou com 38 municípios e 900 mil habitantes; já o do Sul herdou 55 cidades e mais de um milhão de habitantes. Três décadas depois, o vizinho tem 141 municípios e população de mais de três milhões de pessoas. Mato Grosso do Sul tem 79 cidades e 2,4 milhões de habitantes.

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