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Política

Interceptação telefônica sugere que Dilma agiu para evitar prisão de Lula

Michel Faustino | 16/03/2016 18:44
A presidente Dilma Rousseff em conversa com o ex-presidente e, agora ministro da Casa Civil, Lula. (Foto: Agência Brasil/ Arquivo)
A presidente Dilma Rousseff em conversa com o ex-presidente e, agora ministro da Casa Civil, Lula. (Foto: Agência Brasil/ Arquivo)

Interceptação telefônica feita pela Polícia Federal encontrou indícios de que a presidente Dilma Rousseff (PT) pode ter agido para tentar evitar a prisão do ex-presidente Lula. Em trecho de diálogo divulgado nesta quarta-feira (16), de conversa entre Lula e Dilma, ela diz que encaminharia a ele o “termo de posse” de ministro que deveria ser usado “em caso de necessidade”.

A conversa foi registrada no início da tarde desta quarta-feira, às 13h32, pela PF, poucas horas antes da publicação da posse de Lula para o cargo de ministro da Casa Civil.

De acordo com informações do jornal O Globo, a conversa foi captada pela PF porque o telefone de um segurança do ex-presidente, o tenente Valmir Moraes da Silva, foi grampeado com autorização da Justiça. Lula utilizava o aparelho do segurança para se comunicar com autoridades e seus interlocutores.

Em uma das conversas interceptadas pela PF, o ex-presidente se diz insatisfeito com a atuação do então vice procurador-geral Eugênio Aragão, em conversa com um dos diretores do Instituto Lula, Paulo Vannuchi, em 27 de fevereiro deste ano. Na gravação, o ex-presidente se mostrou insatisfeito com o vice-procurador-geral, Eugênio Aragão, e diz que colocaria duas parlamentares do PT "em cima" de um outro procurador da PGR (Procuradoria Geral da República), segundo a publicação do jornal O Globo.

"Aquele filho da p... do Procurador antes de dar a notícia da intimação, na quinta-feira, para o advogado, deu pra Globonews. É um filho da p... mesmo (...) O problema é o seguinte, Paulinho, nós temos que comprar essa briga, eu sei que é difícil, sabe?! Eu às vezes fico pensando até que o Aragão deveria cumprir um papel de homem naquela porra, porque o Aragão parece nosso amigo, parece, parece, mas tá sempre dizendo "olha...", diz Lula.

Em outro trecho, o ex-presidente aponta o que seria uma solução para ter alguém de confiança dele na PGR: "Nós vamos pegar esse de Rondônia agora, eu vou colocar a Fátima Bezerra e a Maria do Rosário em cima dele", diz. Segundo a PF, trata-se do procurador Douglas Kirchner.

O relatório da PF também mostra que Lula suspeitava já no fim de fevereiro, dias antes da operação que o teve como alvo, de que haveria um mandato de busca e apreensão em sua casa e na de seus filhos.

Na conversa, registrada em 27 de fevereiro, com o presidente do PT, Rui Falcão, ele diz esperar a ação da PF para o dia 29 daquele mês. O mandado de busca e apreensão acabou acontecendo uma semana mais tarde.

"É eu tô esperando segunda-feira. Eu tô esperando segunda-feira a Operação de busca e apreensão na minha casa, do meu filho Marcos, do meu filho Fábio, do meu filho Sandro, do meu filho Cláudio", diz o ex-presidente.

Quebra do sigilo - O juiz Sérgio Moro decidiu derrubar nesta quarta-feira o sigilo do inquérito que investigava as atividades do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, e o ex-presidente e remetê-lo à Procuradoria Geral da República, por sugestão da força tarefa da Lava-Jato em Curitiba.

"Constata-se que o ex-presidente já sabia ou pelo menos desconfiava de que estaria sendo interceptado pela Polícia Federal, comprometendo a espontaneidade e a credibilidade de diversos dos diálogos", escreveu Moro em despacho divulgado nesta quarta.

Segundo juiz, "alguns diálogos sugerem que tinha conhecimento antecipado das buscas" realizadas em 4 de março. Moro argumenta que "somente o terminal utilizado pelo ex-presidente foi interceptado", e não o de "autoridades com foro privilegiado, colhidos fortuitamente", em menção à presidente Dilma Rousseff e a ministros que conversaram com Lula.

Moro explicou ter mantido no despacho diálogos interceptados de Roberto Teixeira, advogado de Lula, por entender haver motivos para considerá-lo “um investigado”, e não apenas advogado do ex-presidente.

Veja o diálogo:

Dilma: Seguinte, eu tô mandando o "bessias" junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!

Lula: "Uhum". Tá bom, tá bom.

Dilma: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.

Lula: Tá bom, eu tô aqui, eu fico aguardando.

Dilma: Tá?!

Lula: Tá bom.

Dilma: Tchau

(Leia a íntegra do auto de interceptação telefônica da presidente Dilma)

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