"O que não dá pra recuperar é a vida", avalia presidente da Câmara de Vereadores
Embate entre Poder Público e empresários sobre reabertura do comércio revela que falta apoio para vencer o coronavírus
Que todos saem perdendo não há dúvida. A questão é escolher entre salvar vidas ou salvar a economia. E assim, surge o embate que levou às ruas de várias cidades, inclusive em Mato Grosso do Sul, carreatas de protesto daqueles que querem o comércio e todas as empresas e indústrias funcionando à revelia das medidas restritivas adotadas por governos e municípios.
“A arrecadação de estados e municípios também vai ter queda, porque as pessoas não vão ter como pagar as contas, os impostos. Mas eu acredito que precisamos dar dez passos para trás para dar 20 para a frente. A situação atual é uma bola de neve, mas ela vai se dissipar”, avalia o presidente da Câmara de Vereadores de Campo Grande, João Rocha (PSDB).
O vereador diz ainda que o momento é de guerra contra um inimigo invisível e que não pode ser de extremismos. “Dificuldade existe pra todo mundo. Mas é preciso ter responsabilidade social, maturidade pra tomar uma atitude para que depois não fiquemos arrependidos. Não se pode criar impasse nem radicalismos”.
Hoje, representantes do setor se reúnem com o prefeito Marcos Trad (PSD) às 10 horas. O encontro foi marcado em reunião anterior, que ocorreu esta semana.
Mas mesmo sem um segundo encontro, empresários da Capital decidiram fazer o protesto, que fechou a avenida Afonso Pena ontem à tarde. Carreatas ainda foram registradas em Dourados e Três Lagoas. Os movimentos, segundo participantes, foi espontâneo e sem a direção de alguma entidade.
Diante da atitude dos empresários, Rocha destacou que é preciso unidade, diálogo, espírito coletivo e embasamento técnico para as tomadas de decisão.
“Estamos perdendo agora para recuperar lá na frente. O que não dá pra recuperar é a vida. O resto, a gente recupera”, sustentou.
Além disso, enfatizou que “estamos em um país maravilhoso. Nunca passamos por dificuldades que outros países, como guerra civil, por exemplo. Por isso, podemos sim, unidos e com calma, recuperar alguma coisa na economia, embora agora, estejamos perdendo”.
O prefeito Marquinhos Trad, por sua vez, diante da atitude do empresariado local, rebateu o protesto e ainda disse que “em vez de fazer carreata, deveriam economizar o dinheiro da gasolina para comprar e doar cestas básicas aos funcionários”.
Com isso, o chefe do Executivo municipal mostra seu descontentamento diante da pressão empresarial, e revela, de alguma forma, que eles pouco estão fazendo para que a epidemia não se alastre ainda mais e deixam na mão do Poder Público, todas as ações e investimentos necessários ao combate.
Durante a transmissão ao vivo feita todos os dias pelo prefeito, ele chamou atenção dos empresários, dizendo que é hora de nos ajudarmos.
“A gente vai ter que se virar, a gente vai ter que se ajudar. Estamos arrumando alimentos para ajudar as pessoas. O governo federal tem que nos ajudar também. Estamos todos no mesmo barco. Não tem diferença”.
Vale ressaltar que em outros países que vivem epidemia maior que o Brasil, como os Estados Unidos e China, por exemplo, empresas estão ajudando a população e o governo a enfrentarem a doença.
A Boeing doou 250 mil máscaras respiratórias de grau médico para atender à escassez destes suprimentos na China e atualmente estuda ajuda financeira aos EUA. A General Motors já se prepara para produzir respiradores e no Brasil, as Lojas Renner doaram R$ 4,1 milhões a hospitais na região sudeste.
ECONOMIA – O economista Sérgio Torres não se arrisca a ir contra a opinião de médicos e especialistas da saúde e defender que é preciso sim reabrir as lojas e indústrias para que a economia não colapse.
“Por mais que eu defenda uma economia pujante e de crescimento, não posso falar pros especialistas: ei, vocês estão errados”.
Para ele, “se o problema fosse político, ou um furacão, ou de moeda, teríamos alternativas para as coisas não pararem”, sustenta.
No entanto, a questão é saúde e saúde de grande parte da população. “A própria saúde é um limitador de decisões e é pouco provável que voz do economista, do gestor ou do empresário prevaleça se o especialistas e médicos do mundo todo estão falando pra ficar em casa”.
Ele avalia que a própria estrutura governamental não está preparada para momentos como esse, principalmente o governo federal, que “sempre teve recursos, mas sempre gastou muito e mal e se endividou muito. Se tivesse gastado bem e gerado emprego, a situação não seria tão devastadora”, avalia.
O economista ressalta ainda que 40% da população brasileira depende de subsídios governamentais, como Bolsa Família, e que “se não tivesse essa política de assistência, mas de geração de emprego, isso facilitaria, porque então o governo poderia emitir moeda, chegar no cofre e dar cinco anos de subsidio tributário aos empresários para que eles mantivessem a empregabilidade”.
O ideal nesse momento o governo adotar medidas de desoneração de tributos e subsidiar as empresas, para que não fechem, com linhas de crédito e redução de juros também.
Ele explica que cada semana parada corresponde a um ano para que a economia se recupere do impacto negativo e é por isso, que, manter empresas fechadas ou abrí-las à revelia do combate ao novo coronavírus será danoso de qualquer forma.
“Os empresários não vão conseguir arcar com suas contas mesmo, haverá desemprego e aí chega a hora do governo ajudar”, ressalta.