Waldir Neves é suspeito de fazer "permutas" e usar imóveis para lavar dinheiro
Sócio do irmão do conselheiro do TCE também tinha maior salário na empresa contratada pelo Tribunal
A operação Mineração de Ouro, que bateu à porta de três membros do TCE/MS (Tribunal de Contas do Estado), levanta suspeita de que o conselheiro Waldir Neves usou permutas e transações imobiliárias para regularizar valores oriundos de corrupção.
Informações bancárias e fiscais de Waldir Neves aponta a existência de operações financeiras atípicas, indicativas de suposta prática de lavagem de dinheiros por meio de "permutas" e venda de imóveis.
Num dos casos, Neves fez permuta em dezembro de 2017 com desembargador do TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) e familiares. O objeto não ficou claro, mas em troca, ele recebeu apartamento na Rua Itiquira, Bairro Santa Fé, em Campo Grande, além de crédito de R$ 300 mil.
O problema é que o mesmo imóvel já aparecia em anos anteriores nas declarações do conselheiro. “Ocorre que o referido imóvel vem sendo declarado em notas fiscais cujo destinatário é Waldir Neves desde o ano-calendário de 2013, restando dúvidas quanto a data da aquisição do referido imóvel e se, de fato, fez parte de uma operação de permuta”.
Na sequência, o apartamento da Rua Itiquira foi permutado em 18 de dezembro de 2018 com imóvel no condomínio de luxo Damha.
“Assim como aconteceu com o imóvel da Rua Itiquira, o endereço Rua Buriri, (...), aparece em notas fiscais eletrônicas emitidas para o destinatário Waldir Neves desde o ano-calendário de 2015, anos antes de sua suposta aquisição, suscitando dúvidas quanto ao tempo e forma que ocorreu tal operação”, aponta a investigação.
Em outra operação imobiliária, o conselheiro declarou que vendeu casa na Rua Antônio Raposo, em Campo Grande, por R$ 600 mil para um assessor de Osmar Jeronymo, também conselheiro do TCE. A venda em 2012 foi à vista e abaixo do valor de mercado: R$ 2.127.586,24. Mas, apesar de Neves ter recebido créditos que ultrapassam R$ 650 mil entre julho e dezembro de 2012, apenas R$ 11 mil foi repassado pelo comprador do imóvel.
“Portanto, há diversas dúvidas sobre a venda de tal bem, principalmente, o valor muito abaixo da base de cálculo do ITBI [Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis], tendo como comprador um outro investigado”. A reportagem não conseguiu contato com os citados. O STJ determinou quebra do sigilo fiscal e bancário de Waldir Neves e Willian.
Favorecimento - Outro ponto da investigação aponta que o advogado Willian das Neves Barbosa Yoshimoto, que é sócio do irmão do conselheiro Waldir Neves, tinha o maior salário na Dataeasy Consultoria e Informática Ltda, contratada pela Corte Fiscal entre 2018 e 2020 por R$ 80.743.353,78.
A suspeita é que a empresa era uma das que funcionavam como cabide de empregos para nomeações por membros do Tribunal e políticos influentes, com "indícios no sentido de que tais pessoas não têm conhecimento técnico na área, apontando se tratarem de funcionários 'fantasmas' para o superfaturamento dos contratos firmados com as citadas empresas (peculato, previsto no Art. 312 do Código Penal) e consequente pagamento de propinas (corrupção passiva".
No caso da Dataesy, "em 2017, a empresa possuía 34 funcionários registrados e passou a ter 118 em 2018"
De acordo com a investigação, apesar de ser advogado em atuação, Willian, por exemplo, foi admitido na Dataeasy no dia 5 de março de 2018 como administrador de redes e de sistemas computacionais com a maior remuneração da empresa. “O seu salário base registrado (dezembro de 2019) foi de R$ 15.194,00, valor que nunca havia sido registrado pela empresa antes, para nenhum funcionário”, aponta documento do Ministério Público.
Atualmente, o advogado tem endereço profissional na Rua Manoel Inácio de Souza. No mesmo local, funcionar a Mineradora Betione, da qual é sócio com Vanildo Neves (irmão do conselheiro) e João Nercy Cunha Marques de Souza (comissionado no TCE desde 2014).
Ontem, Vanildo Neves informou ao Campo Grande News que não é alvo da operação. O local foi roteiro de mandado de busca e apreensão por ser endereço ligado a Willian das Neves, que teve sigilo fiscal e bancário por decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça), instância do Poder Judiciário que autorizou a operação.
A operação também cita que o responsável pela venda de fazenda que seria de Waldir Neves fez procuração em nome de Willian, no município de Anapurus, no Maranhão. Para a força-tarefa, a procuração pode estar relacionada à venda de fazendas de Waldir Neves, “o que representa mais um possível vínculo importante de Willian das Neves Barbosa Yoshimoto”.
Ex-deputado federal, Waldir Neves foi empossado conselheiro em 15 de julho de 2009 e presidiu o Tribunal de Contas entre 2015 e 2018. O Tribunal de Contas informou que não vai se manifestar sobre a operação contra três dos sete conselheiros. O Campo Grande News também tentou contato com o próprio conselheiro, que não atendeu às ligações.