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Quanto mais certeza tem, mais ignorante é

André Mazini | 27/01/2021 06:40

Lembra aquele tio que entende mais de vacina e cloroquina do que a Organização Mundial da Saúde? Ou aquele colega de trabalho bem meia boca que se acha o profissional top das galáxias? A psicologia social chama isso de efeito Dunning-Kruger, um fenômeno que leva indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um determinado assunto a acreditarem piamente que sabem mais do que outros que são realmente mais bem preparados.

O problema é que muitas vezes a ilusão de superioridade acaba fazendo a pessoa tomar decisões erradas e perigosas, para ela e os que estão a sua volta, como não tomar vacina ou aglomerar durante a pandemia, por exemplo. Segundo os psicólogos Justin Kruger e David Dunning da Cornell University que desenvolveram os estudos essa pesquisa (publicada originalmente em 1999), é justamente a incompetência que impede a pessoa de reconhecer os próprios erros e, consequentemente, corrigi-los.

Essa ilusão de superioridade foi demonstrada também com alguns indicadores numéricos. Por exemplo, quando os pesquisadores pediram que engenheiros de software qualificassem seu próprio trabalho, mais de 30% disseram fazer parte dos “5% melhores” da empresa.

Por outro lado, quanto mais competente uma pessoa é, menos autoconfiante ela tende a ser sobre os seus conhecimentos. Talvez por isso faça tanto sentido quando Sócrates concluía a famosa expressão “tudo que sei, é que nada sei”. Ou, trazendo para os sombrios tempos de hoje, faz tanto sentido que muitos especialistas em listas de envio do Whatsapp acreditem saber mais sobre ciência do que os cientistas.

De acordo com os psicólogos Justin Kruger e David Dunning da Cornell University, os que tendem a ter melhor ideia sobre si mesmos são, exatamente, os menos capacitados, e quanto menos sabemos sobre um tema, mais tendemos a achar que sabemos o suficiente. Já os especialistas, por outro lado, tendem a subvalorizar ligeiramente suas aptidões.

Ah, vale a pena lembrar de como surgiu esse estudo. O ponto de partida foi um acontecimento que podia estar um filme de comédia, mas aconteceu na vida real. Um sujeito foi preso depois de assaltar um banco sem usar máscara. Quando foi detido, logo após o roubo, o ladrão mostrou-se bastante surpreso. Não esperava ser capturado pela polícia porque passou suco de limão no rosto, e acreditava que isso o tornaria invisível (!) às câmeras de segurança. E olha que ele já tinha testado sua hipótese em casa. Passou suco de limão no rosto e tirou uma foto e simplesmente não viu sua imagem na câmera. Acontece que, ao tirar a foto, ele distraidamente apontou sua câmera para o lado. Quando olhou na tela e não viu seu rosto lambrecado de limão, concluiu que estava invisível e partiu para assaltar o banco.

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