Entenda o que é a "economia criativa", conceito que é aposta na geração de renda
A meta é elevar o PIB do setor no Estado, saindo dos atuais 0,8 para 1,6 até 2026
A economia criativa é uma atividade antiga, mas que ganha força como forma de gerar renda de maneira sustentável e culturalmente importante. Se engana quem pensa que se limita a apenas artesanato. Fotografia, arquitetura, gastronomia, design, moda e museus também fazem parte desse mundo. Tudo o que tem valor cultural, econômico e que é feito pelo talento humano pode ser aliado ao termo, que gera emprego e renda.
Segundo a secretária da Confederação das Federações de Artesãos do Brasil, Bia Barros, a melhor forma de ser um criativo de força e fazer parte do grupo é por meio das associações ou cooperativas que produzem seus próprios produtos.
"A associação tem o importante papel de capacitar seus associados e fortalecê-los. Compras de insumos mais baratos e vendas no atacado, em feiras dentro e fora do Estado, nossa associação, por exemplo, temos no momento seis lojas de comercialização do artesanato em três shoppings da Capital", explicou.
Maria Suzana, de 39 anos, é um exemplo de quem apostou neste ramo. Ela encontrou no artesanato uma maneira de conseguir cuidar e sustentar o filho, que nasceu com hidrocefalia e microcefalia, mas acabou falecendo em junho, aos 17 anos. Antes de se dedicar ao novo trabalho, Maria era técnica de enfermagem.
“Comecei fazendo tapete de crochê e gostei de trabalhar com o artesanato. Eu ficava com ele [filho] a tarde inteira na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e nos períodos vagos aprendi a costurar outras técnicas e comecei a trabalhar com isso. Não pretendo voltar para minha área, pretendo viver do meu artesanato hoje”, destacou.
Atualmente, além dos tapetes, ela produz canecas, estojos, bolsas, porta canecas e vende em espaço próprio. As vendas variam de 5 a 10 canecas por dia.
Para 2024, as expectativas são das melhores. “Espero terminar o meu espaço para viver só da minha criatividade, porque o artesanato nada mais é do que criatividade”, finalizou.
Já a contadora de histórias e fundadora da Casa da Memória Raída de Bonito, Fernanda Reverdito, transformou sua própria casa em um espaço de economia criativa.
O nome do local remete à história da família. No caso, a avó materna da Fernanda se chamava Ruída e era de descendência Terena. Ela também conta que é tataraneta do fundador de Bonito, Luiz da Costa Leite Falcão.
O interesse surgiu em 2002, por justamente querer resgatar a origem da família e da região, que é descendente de Kadiwéu, Terena, Kinikinau e Guaicuru.
Naquela época, ela já tinha algumas memórias reunidas e decidiu se inscrever no FIC (Fundo de Investimentos Culturais), apresentando um documentário sobre Bonito e a Serra da Bodoquena.
“Eu começo a reunir histórias da minha família desde muito criança, porque eu sempre gostei muito de saber da história da região, de conversar com os mais antigos”, lembrou.
Além disso, nesse mesmo período, ela tinha uma loja com produtos de artesanato, em frente a sua casa. Já em 2003, a ideia, então, foi ampliar esse espaço junto com a sala da sua casa e a varanda, onde se tornou a Casa da Memória Raída.
“As pessoas vinham, entravam no nosso espaço e eu contava memórias da história de Bonito dentro da sala de casa. E assim nunca mais parei de juntar essas memórias”, ressaltou.
O museu funciona por meio de agendamento, e é gratuito para a população residente, mas para os turistas é cobrada uma taxa.
“Que essa chama nunca se apague, Bonito pode ser conhecido mundialmente pelo turismo, mas que a gente carregue essa memória coletiva, histórica, cultural, que a gente não perca esse ritmo, de uma cidade que valoriza o humano, que valoriza o seu povo, a sua história”, finalizou.
A contação de histórias é apresentada com objetos e instrumentos musicais, em cima de um palco, dentro da sala da casa. Na varanda está o acervo, que reúne fotos históricas, peças de artesanato tradicional indígena, e uma extensa biblioteca.
Além disso, turistas têm a oportunidade de comprar produtos fabricados na região e conhecer as memórias.
Plano estadual – Mato Grosso do Sul lançou o 1º Plano Estadual de Economia Criativa do país, por meio do programa “MS + Criativo”. Antes da ideia, a superintendência ligada à Setesc (Secretaria Estadual de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania) começou a fazer seus trabalhos no primeiro semestre de 2023, dividindo o Estado em oito regiões: Corumbá, Naviraí, Ponta Porã, Rio Verde, Campo Grande, Bonito, Dourados e Três Lagoas.
Primeiro, as regiões foram visitadas e, depois, foram realizados os encontros regionais, para colher informações e propostas para o plano.
Segundo o superintendente de Economia Criativa de MS, Décio Coutinho, a meta é elevar o PIB do setor no Estado, saindo dos atuais 0,8 para 1,6 até 2026.
O representante do setor acredita que a economia criativa passou a ser mais desenvolvida em Mato Grosso do Sul devido à mudança do Governo Federal e o incentivo maior no Estado.
“O movimento que nós fizemos em todo o Estado, mobilizando os criativos para participarem desse movimento de construção do plano estadual, acredito que foi essa conjunção de fatores que levou a essa maior notoriedade da economia criativa”, pontuou.
Para o próximo ano, ele espera que o plano continue sendo executado e que o mercado seja ampliado.
Além disso, o objetivo do projeto é estabelecer políticas, programas, projetos e atividades que promovam a economia criativa no Estado, com a formação de redes, espaços e ecossistemas, além de fazer o Estado referência nacional em políticas e gestão para o setor.
O plano foi subdividido em oito eixos, a partir de levantamentos realizados através das atividades desenvolvidas nos encontros regionais. Em cada um deles é descrito quais são as ações propostas e quais grupos serão trabalhados.
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