No km 24, Aguão é terra fértil e coração sertanejo dentro da Capital
A cada pergunta se é um lugar bom para viver, a resposta é antecedida por sorrisos largos e elogios
Ao redor do quilômetro 24 da MS-080, cuja placa fica escorada na árvore, ramifica-se uma terra fértil, marcada pelos cursos de água e pelo coração sertanejo que pulsa no Aguão, a trinta minutos da área urbana de Campo Grande, na saída para Rochedo. Elevado a distrito pelo gosto popular, a localidade, no oficial, é mais uma área da zona rural do município.
Noticia pelos problemas, como a dificuldade com a telefonia celular e pelo caso do médico e então vereador que não ia trabalhar, Aguão tem escola, posto de saúde, alguns bares (um famoso pelo forró), lanchonete e uma igreja católica. A cada pergunta se é um lugar bom para viver. A resposta é antecedida por sorrisos largos e muitos elogios.
Pela rodovia, um carro cruza o “núcleo urbano” de Aguão em meio minuto. O começo e o fim são sinalizados por ondulações na via e placas alertando os condutores sobre a travessia de pedestres. Mas, constantemente, o silêncio é rompido pelo ruído dos veículos que passam em alta velocidade.
José Alexandre Toledo, 52 anos, conheceu o Aguão há 20 dias. Ele até passou pela MS-080 nas duas vezes que foi a Rio Negro, mas nunca tinha reparado na localidade. De certa forma, está em família. Na Capital, mora no residencial Oliveira. No Aguão, faz reformas na escola municipal Orlandina Oliveira de Lima, que também é nome de rua na cidade.
Caminho das águas - Antes do Aguão, para quem parte de Campo Grande, placas indicam um caminho de águas, com o córrego Ceroula e córrego Seco. Entre muitas dúvidas, há versão de que o nome vem de tempo antigo, quando havia um riacho no meio do caminho.
Mas nem quem mora há 36 anos pode atestar a origem do Aguão. Caso de José Limiro Duarte, 91 anos. Juntos há quase 70 anos, ele e a esposa Lázara Duarte, 85 anos, chegaram lá em 1982. O casal veio de Dourados, mas as raízes são de Minas Gerais.
“Plantava arroz, amendoim, milho”, conta José. Hoje, brinca que arroz só no prato e o cultivo da terra foi repassado aos filhos. Mas não deixa de observar que o ano está bom para a terra, com as chuvas constantes.
Loteado em chácaras, o solo ganha elogio de Rubens Fernandes, 53 anos, que, entre idas e voltas, conhece o Aguão desde os oitos anos, quando a estrada para Campo Grande tinha porteiras e mata-burro. “As áreas são pequenas, em média 12 hectares. Mas a região é cara”, diz. Segundo ele, uma chácara com 15 hectares é vendida por R$ 500 mil. Se tiver piscina e casa bonita, uma propriedade 2,5 hectares é comercializada por R$ 280 mil.
Pela paisagem, predominam o cultivo de milho e mandioca. “Para vender mandioca, nem precisa sair. Os mandioqueiros vêm comprar”, diz Rubens. Quando o sinal de internet ajuda, a venda é fechada por aplicativo de conversa no celular. Segundo ele, a briga é para que a região tenha uma nova antena de telefonia móvel.
Riquezas do chão – Morador na Associação Sucuri, a 20 km do Aguão, José Melquíades da Silva, 51 anos, faz parte da agricultura familiar que se traduz em laranja, limão, banana e tangerina. A geada foi o contratempo no ano passado para o bananal. “De 2.500 covas, sobrara, 1.500”, conta. A produção segue para a Ceasa (Central de Abastecimento de Mato Grosso do Sul).
“Nossa Senhora. Se tem coisa melhor, não foi feita. É muito bom deitar e dormir tranquilo”, diz Nelson Ferreira da Silva, 62 anos, sobre a vida na zona rural. A Associação Sucuri tem 100 famílias. A região também tem o assentamento Conquista, com 63 famílias.
A entrevista dos amigos foi em frente à UBS (Unidade Básica de Saúde) Manoel Cordeiro. “Aqui tem a melhor qualidade de atendimento”, diz Nelson. A reportagem apurou que o posto não tem ambulância e apenas um médico.
Pipa e celular – Na infância que inclui brincadeiras no celular e pipa, Rodrigo, 11 anos, conta que prefere Aguão a Campo Grande. De férias, o menino jogava bola na varada da Lanchonete da Rosângela, um dos poucos estabelecimentos comercias de Aguão.
“Tem de tudo um pouco e atende os moradores de fazendas e chácaras vizinhas”, conta Rosângela Alves, 40 anos. O local também atende quem está de viagem pela rodovia, com oferta de queijo e carne de porco.
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