Bairro a 15 km de Terenos tem nome misterioso e é endereço do sossego
A primeira nomenclatura foi posto do km 941, e, depois, passou para estação de Alcilândia
Resumida a duas placas às margens da BR-262, Alcilândia é um bairro quase 15 km à frente do núcleo urbano de Terenos, com 23 residências e o endereço do sossego.
A localidade, derivada de uma estação de trem datada de maio de 1958, cabe na poesia de Drummond em que “um homem vai devagar, um cachorro vai devagar...devagar... as janelas olham”.
“Aqui é bom para aposentado”, esclarece Maria Tereza Santos Moraes, 66 anos. Ela e o esposo moram por lá há 25 anos. Para a senhora, a calmaria é bem-vinda.
Foram anos e anos trabalhando como cozinheira em fazendas na região do Pantanal. “Enchia de água. Tinha que pegar os bois e subir para serra”, conta, sobre os pulsos da água que a exilava por dias a cada cheia na maior planície alagável do mundo.
Agora, aproveita o sossego para cuidar da plantação de milho, banana e verduras. A pequenina roça é para consumo próprio. Pela vila, se contabiliza dois bares, uma mercearia, dois campos de futebol e uma igreja.
Na manhã de sexta-feira (dia 12), apenas um bar estava aberto, enquanto um campinho se perde no matagal. No mais, Alcilândia, cuja origem do nome ninguém sabe explicar, vive de lembranças. A pedreira fechou, acabando com possibilidade de empregos.
O trem de passageiros também foi levado pelo tempo, tornando inútil a estação. A única visita é do trem cargueiro. Na frente da estação, porcos curiosos habitam os chiqueiros.
Destelhada, com alguns pneus velhos e um cachorro tristonho, o imóvel retrata uma palavra comum entre os moradores: desativado.
Na mesma classificação entra o colégio, onde Maria Tereza também foi cozinheira, pois os estudantes são levados pelo transporte escolar para a Colônia Jamic. Ao lado da estação, mora a família de Angelita Pereira dos Santos, 36 anos. Ela conta que comprou de um terceiro o “direito” de morar, no valor de R$ 2 mil, mas desconhece a situação legal do imóvel, que faz parte da ferrovia.
No trem, viajava para Campo Grande e Aquidauana. “Ia com a minha mãe, pai, tios. É uma boa lembrança”, diz. Um dos cinco filhos é Larissa Yasmin dos Santos Souza, 11 anos. De férias, a menina reclama do tédio e conta que usa o celular para se distrair. O melhor sinal é da operadora Vivo, mas é preciso caminhar até achar um ponto “ativo”.
Para Kissela Pereira da Silva, 18 anos, o sossego é o de melhor e o pior de Alcilândia. “É muito parado. Não tem loja, o celular funciona só em alguns pontos”, avalia, sobre os pontos fracos. E o que tem de melhor. “Aqui é sossegado”, diz, sobre o local onde mora com o filho Kauan, de 1 ano.
Boa para um bate-papo, com o frescor da brisa e ao som dos pássaros ou do galo que canta às 9h da manhã, a localidade não tem oferta de emprego. Quem precisa, busca trabalho na fazendas vizinhas ou em Terenos.
Bairro - Alcilândia fica a 35 quilômetros de Campo Grande, seguindo pela BR-262, no sentido a Aquidauana. O acesso é pela margem direita da rodovia. Depois, são três quilômetros em uma estreita estrada de terra.
Apesar da distância da cidade, o diretor de urbanismo de Terenos, Wailey Rodrigues Pereira, afirma que o local faz parte do perímetro urbano, com cobrança de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano ).
Contudo, ainda espera benefícios de cidade como a água tratada. A água é do poço e a prefeitura fez pedido à Sanesul (Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul) para o tratamento. Os planos do poder público para Alcilândia ainda incluem coleta seletiva e um veículo para atender à população.
Já o nome segue um mistério. De acordo com a assessoria de imprensa da prefeitura, a primeira nomenclatura foi posto do km 941, e, depois, passou para estação de Alcilândia.
Cidade rural – De acordo com o vice-prefeito Felipe Lopes Salomão (PMDB), Terenos, a 25 km de Campo Grande, tem 23 assentamentos e a maioria da população mora no campo. “São 13 mil habitantes na zona rural ”, diz.
Porém, apesar do visível crescimento da cidade, é o comércio de municípios vizinhos que mais colhe os dividendos. “Os maiores assentamentos ficam mais perto de Dois Irmãos do Buriti e Sidrolândia”, conta.
Conforme a diretora do Departamento de Desenvolvimento Econômico, Diana Duim, a agropecuária movimenta 70% da economia local, seguida por empresas e pequenos comércios. O município é conhecido pela produção de ovos, império dos descendentes de japoneses.
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