A pandemia e a inflação
O que está causando uma inusitada inflação mundial? A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse no programa televisivo Face The Nation, da CBS: “A pandemia está dando as cartas na economia e na inflação". Dois fatores gerados pela Covid-19: a injeção de dinheiro e as travas no suprimento de componentes que estrangulam a produção. É um acontecimento econômico diferente e os esforços para conter a pandemia devem ser coordenados, mas ela traz incertezas pela forma acelerada como se alastrou e pelo desconhecimento da ciência para tratar da nova patologia. Não menos importantes são as disputas políticas pelo poder e desinformações que têm impedido esforços unificados no combate à doença.
O sistema funciona na base da circulação do dinheiro, de forma precária, mas funciona. E de repente a circulação começou a ser travada em vários pontos, e tinha a bolsa e as dívidas. Se a circulação parar de vez surge um prolongado caos até que as coisas possam engrenar novamente, com dinheiro ou sem dinheiro. Mas com cerca de oito bilhões de bocas num planeta no limite, não é fácil pôr o trem nos trilhos. Percebendo isso, os Bancos Centrais passaram a injetar dinheiro no sistema para evitar o pior. Resta saber o que virá agora e como ficará o sistema econômico-financeiro mundial.
Em muitas situações e em muitos lugares têm faltado planejamento e responsabilidade com o futuro. A nossa espécie, em seu imediatismo e ganância, foi a única que deixou de cumprir a sua tarefa, achando que podia tudo. Em 15 de novembro de 1889 houve a Proclamação da República. Não deve ser menosprezado o fato de que com a lei Áurea, que eliminou o trabalho escravo, os produtores de café se incompatibilizaram com o Império. A República não se preocupou com a integração da população liberada, nem ofereceu escola, e teve início o movimento de favelização do Rio de Janeiro.
Completamos 199 anos de Brasil independente e 132 anos de República. O que fizeram governantes e congressistas nesse período? O descuido com a população e suas crianças deu ensejo ao ingresso de extremistas no poder, os quais acabaram enfiando as mãos e os pés na grana. Os governantes pouco se esforçaram para forjar um país independente com população bem-preparada para a vida. Permanecemos fornecedores de matéria-prima e importadores de industrializados. A falha, como sempre, está no ser humano que não reconhece a sua tarefa de promover o bem geral e levar o Brasil à posição que lhe cabe.
Como ajustar o Brasil? Pergunta difícil diante do quadro de incertezas e fragilidades da economia brasileira e mundial. O que faria o Sr. Manuel, dono da padaria, se encontrasse o seu estabelecimento quase falido? Provavelmente usaria o bom senso, austeridade e redução de custos para solucionar o problema. Mas o mundo está virado devido à especulação financeira, geoeconomia e apagão mental. Há insatisfação e revolta por todos os lados. Um cheiro de guerra no ar. É indispensável a prudência do padeiro e a serenidade da população.
As famílias querem passear sob o céu azul. A diferença é que estão mais cautelosas com os gastos e isso é positivo, pois evitam as amarras do crédito, fácil de tomar, penoso para pagar. Mas é isso mesmo que as pessoas, as empresas e os governos devem fazer: planejar, controlar os gastos e progredir mesmo que seja de forma lenta. É tudo o que tem faltado na gestão pública, pois os deslumbrados com o poder iludem a população e tiram o máximo proveito, como se fossem os donos do Brasil.
A humanidade enfrenta a tragédia do aumento da miséria no Planeta Terra. O grande perigo é que são pouco investigadas as causas da decadência da humanidade que quis criar leis próprias sem observar as leis da Criação, pois mesmo sendo habitantes do planeta, os mais fortes impõem restrições aos mais fracos. Quando os seres humanos buscarem o conhecimento dessas leis que regem a vida e as respeitarem, o viver tenderá ao paradisíaco sem as ideologias de medo e ódio que encobrem cobiças.
(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP.