A um clique da tragédia
Faz parte das atribuições do educador apontar prognósticos sobre a vida em sociedade, especialmente, sobre os dramas humanos. Nesse sentido, por conta da diagnosticada dependência emocional e até física da internet, valerá abordarmos o tema.
Historicamente, o homem enxerga-se no que ele produz e na medida que percebe suas capacidades segue trabalhando para se sentir útil e participante. Ocorre que temos o grupo “nem nem” nem trabalha e nem estuda. São pessoas que ficam conectadas por mais de um turno de serviço, criando uma perigosa dependência de sites de entretenimentos, de relacionamentos e outros.
Como alerta o psiquiatra Neury Botega, da Unicamp, “há perigos, principalmente para o jovem mais vulnerável, que sofre e não tem formas de pedir ajuda e está perdido em si mesmo, sentindo-se isolado. Pode ser alguém em depressão, o usuário de drogas, aquele com família disfuncional ou com humor muito instável”.
Pense no indivíduo angustiado, melancólico, baixa autoestima, desempregado e sem acesso a bens culturais. Ao consultar seu reduzido grupo de “amigos” nota que determinada pessoa lhe exclui. A notícia pode causar tamanho impacto, que gera uma tragédia. Ocorre que quem apagou, quem deletou cometeu um erro, ou seja, deu um clique errado. Contudo, seu pequeno equívoco, que um telefonema outrora resolveria, gerou dores, lágrimas e familiares tardiamente reunidos para contemplar o vazio, ao lado do caixão.
Os mais frágeis são aqueles que creem fielmente naquilo que a mídia e o consumo lhe prometem sem cessar: a satisfação imediata dos desejos, a promessa ilimitada de juventude, saúde, beleza, sucesso e felicidade.
Finaliza o especialista “é preciso entender que a tentativa de suicídio, muitas vezes, não objetiva a morte. Ela traz uma mensagem: eu não aguento mais esta situação, não consigo transformar meu sofrimento em palavras e ações construtivas”. A valorização do fator humano é pressuposto básico de todo projeto de desenvolvimento.
Lembre-se outubro (rosa), novembro (azul), dezembro (vermelho) e prudência permanente. Pense nisso, convoque e escute filhos, familiares, amigos e colegas de serviço, trabalho ou profissão. Bons ventos.
(*) Ronilson de Souza Luiz, professor, palestrante e doutor em educação pela PUC-SP (profronilson@gmail.com)