As florestas e as mudanças climáticas
Abrigo de muitas e variadas espécies de animais – desde pequenos insetos a grandes carnívoros, as florestas também são reconhecidas pela presença de árvores majestosas e inúmeras espécies de outras plantas. Além de ser habitat para essas espécies, as florestas prestam muitos serviços ecossistêmicos para nós, humanos. Podemos citar a regulação do clima, a ciclagem de nutrientes e da água, a produção de oxigênio e a estocagem de carbono. Estes dois últimos ocorrem via fotossíntese, quando os compostos de carbono assimilados são estocados nas árvores na forma de madeira (principalmente), folhas, raízes e demais estruturas, enquanto o oxigênio é liberado para a atmosfera. Nesse sentido, as florestas estocam boa parte do carbono do planeta. Isso reforça a importância de conservar esses ambientes, uma vez que as emissões de CO2 nos últimos 30 anos já ultrapassaram todas as emissões ocorridas desde o período pré-industrial. Ou seja, com a queima de combustíveis fósseis nas últimas três décadas, já superamos todas as emissões derivadas de outras fontes desde que se tem registro.
Trabalhos recentes indicam que florestas com maior quantidade de árvores muito grandes (tanto em tamanho de caule quanto em altura) estocam mais carbono acima do solo. Porém, onde estão essas florestas? No Brasil, os biomas com mais florestas são a Amazônia e a Mata Atlântica, abrangendo o país de norte a sul. A Amazônia é marcadamente uma floresta tropical, caracterizada pela presença de alta pluviosidade e altas temperaturas médias anuais. Por outro lado, a Mata Atlântica possui uma porção tropical e uma porção subtropical (a qual é caracterizada pela presença de uma estação fria durante o ano).
Essas características conferem a essas florestas uma importância cada vez maior, pois essas variações ampliam a variabilidade de formas e espécies presentes, atuando também de modo fundamental para a provisão de serviços ecossistêmicos.
E as árvores grandes, onde estão? De modo geral, árvores grandes estão presentes em florestas em avançado estágio de sucessão, ou seja, florestas mais antigas, sem distúrbios recentes. Muitas Unidades de Conservação (UCs, sistema de áreas protegidas no Brasil) são responsáveis por protegê-las, conservando assim grande parte da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos que elas provêm. No entanto, infelizmente, tanto as UCs quanto os remanescentes florestais não protegidos pela lei vêm sendo alvo de ameaças cada vez mais graves, como desmatamento ilegal, incêndios criminosos, grilagem (posse ilegal de terras), etc. Essas ações têm como consequência principal a perda da rica biodiversidade que compõe essas florestas e dos serviços por elas prestados.
Além das ações de desmatamento, outro fator que vem ameaçando esses ambientes tem relação com as mudanças climáticas globais. Dentre as mudanças, o aumento da temperatura representa sérios riscos à capacidade das florestas tropicais de estocar carbono. Ademais, as mudanças no clima também estão associadas ao aumento de eventos extremos, como secas severas, tempestades e ventos intensos (a exemplo do ciclone bomba registrado recentemente). Esses eventos têm sido responsáveis pelo aumento da taxa de mortalidade de árvores e, infelizmente, as árvores grandes são as mais afetadas. Com isso, os eventos extremos têm forte impacto negativo nos estoques de carbono e em outros serviços prestados por essas florestas.
Ou seja, além de estarem sofrendo com a redução da sua cobertura e com os efeitos da fragmentação de habitats, as florestas também estão fortemente ameaçadas pelas mudanças no clima.
Diante de tantos perigos e ameaças, há esperança ou soluções? Em teoria, sim. Mas, na prática, muito precisa ser feito para que as florestas mantenham sua biodiversidade e seus processos ecossistêmicos e, consequentemente, forneçam seus serviços. Primeiramente, é necessário que as leis de proteção ambiental sejam efetivamente cumpridas, com fiscalização e punições severas aos crimes ambientais. Só assim situações cada vez mais recorrentes, como desmatamento, grilagem e incêndios criminosos, poderão ser evitadas. Para que isso realmente ocorra, é necessário que os governantes e gestores atuem de forma efetiva para a proteção do meio ambiente.
Além disso, muitos hábitos de consumo devem ser revistos por parte da sociedade de modo geral, pois reduzir emissões de CO2 é crucial para minimizar a gravidade das mudanças climáticas e suas consequências. Como vimos anteriormente, em apenas 30 anos já emitimos mais CO2 do que em todo o período anteriormente registrado. É um tempo bastante curto, que também nos mostra que ainda há tempo de agir e mudar.
(*) Kauane Maiara Bordin é bacharela e licenciada em Ciências Biológicas pela Unochapecó, mestra e doutoranda em Ecologia pela UFRGS.