Os médicos só falavam latim e as cirurgias eram feitas por barbeiros
Hoje em dia, é bem difícil imaginar que todas as cirurgias eram realizadas por barbeiros. Eles não eram doutores em medicina, não falavam latim - tal como os padres, a língua dos médicos - nem tinham estudado Galeno e Aristóteles na faculdade. Mas, ao contrario dos médicos, os barbeiros tinham objetos cortantes, o que era raro fora do mundo dos exércitos. Mas esses objetos eram indispensáveis, tanto para cortar a barba quanto para cortar uma perna.
A placa na porta da barbearia.
No hospital, eles participavam dos cuidados cotidianos - leia-se, cortavam todos que necessitavam de alguma cirurgia. Tinham, em geral, um pequeno estabelecimento na cidade, cuja placa tinha a forma de uma tigela rasa com uma reentrância que permitia o encaixe no pescoço do freguês. Era dourada ou prateada, de acordo com a graduação do barbeiro.
Os padres-médicos.
Os médicos - na imensa maioria, clérigos - deixavam o terreno livre para os barbeiros porque tinham recebido uma proibição formal, dada pelo Concílio de Tours de 1.163, de efetuar qualquer ato de cirurgia. A norma era explicita e surpreendente para os dias atuais: “a Igreja abomina o sangue!”. Esse era o mandamento. Restava aos padres - médicos tagarelar em latim, repetindo os ensinamentos antigos, deixando para os barbeiros incultos e diligentes a tarefa de cortar pessoas a seco. Quando uma guerra começava, todos os exércitos contratavam os serviços de um barbeiro para cuidar da tropa.
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