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Código Braille: simplicidade e potência

Por Carolina Dias Pinheiro (*) | 05/01/2024 13:30

Quando conhece pela primeira vez a lógica do código Braille, muitos se surpreendem com sua aparente simplicidade. A escrita braille é formada pela combinação de pontos em relevo organizado em células, ou celas, compostas de seis pontos em duas colunas. Na coluna esquerda, temos os pontos 1, 2 e 3, de cima para baixo. Na coluna da direita, estão os pontos 4, 5 e 6, também de cima para baixo. O sistema permite uma variedade de combinações que escreve de partituras à informática, de equações químicas a línguas estrangeiras. Hoje, cada país e grupo de línguas terá suas definições para escrita braille, o que faz do código um recurso universal, mas ao mesmo tempo adaptável à necessidade de cada sistema de comunicação.

O código braille foi criado por Louis Braille, um estudante francês, em 1825. Na época, Braille era ainda adolescente. Outras tentativas de criação de um código tátil para leitura de pessoas com deficiência visual já haviam sido testadas antes; Braille, entretanto, conseguiu o que nenhum havia conseguido até então: uma escrita simples, de rápida leitura, e que contemplasse também letras acentuadas, sinais de pontuação, algarismos, sinais de operação e mesmo o princípio de uma notação musical, que seria melhor desenvolvida posteriormente.

Com o advento de diferentes tecnologias assistivas, é comum o pensamento de que o braille foi ou poderá ser “superado” por novas tecnologias. Entretanto, para seus usuários, isso não poderia estar mais distante da realidade. É o que nos conta Maria Eduarda Albernaz, aluna na UnB usuária do sistema braille: “Utilizo o braille em meu processo de aprendizagem desde o segundo ano do ensino fundamental e considero que esse sistema de leitura escrita foi e é, extremamente importante não só para mim, mas para todas as pessoas com algum tipo de deficiência visual que utilizem este código.

 O Braille é a única maneira de a pessoa cega conhecer a escrita e as demais simbologias que os demais estudantes têm acesso em sua aprendizagem. Além disso, ele facilita o conhecimento das partituras musicais e permite o conhecimento de gráficos e alguns outros desenhos. Através do braille pude conhecer estruturas de fórmulas químicas e físicas, além de poder mensurar o que eram os mapas geográficos e gráficos. Ademais, acredito que ele me auxilia a diminuir os erros ortográficos em minha escrita, já que permite que eu toque na palavra e memorize a sua grafia. Essa última, eu penso que seja a contribuição mais importante do sistema braille devido à carreira profissional que desejo seguir".

Para escrever o braille, a forma mais básica, é utilizando a reglete e a punção. A reglete indica a posição dos pontos nas celas e a punção é utilizada para criar o relevo no papel. Há também a máquina de escrever, que no lugar de letras tem uma tecla para cada ponto da cela braille e uma tecla de espaço. Por fim, existem as modernas impressoras braille, que recebem textos braille gerados por softwares próprios. Por mais intuitivos que os softwares de escrita braille sejam, criar um texto em braille não é apenas copiar e colar um texto e enviá-lo para a impressora. É preciso conhecer os detalhes da grafia, como também da norma e suas orientações de formatação de diferentes gêneros, além de consciência para adaptar recursos visuais (como tabelas e gráficos), que podem ser barreiras para quem utiliza o código tátil. Um pouco de conhecimento de informática, para entender como os softwares funcionam e configurar corretamente os recursos no computador, também é útil para o profissional transcritor. Para a qualidade de materiais em braille, é crucial o trabalho de transcritores e revisores braille que apliquem corretamente as normas. Principalmente, é crucial e indispensável a atuação dos leitores braille, pessoas usuárias do código que são o público final de produção e que mantêm o código vivo.

Se você sentiu curiosidade para aprender a escrita braille, nunca é tarde para começar!

(*) Carolina Dias Pinheiro é doutora em Literatura pela UnB e revisora Braille da Diretoria de Acessibilidade do Decanato de Assuntos Comunitários.

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