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Liberdade e responsabilidade em pesquisa científica

Sylvio Canuto (*) | 18/08/2021 13:30

Há, atualmente, uma tendência mundial em desacreditar a ciência e seus avanços, o que contamina a percepção e confiança da opinião pública e até de lideranças políticas. No entanto, é inegável o extraordinário avanço na qualidade de vida e no bem-estar da sociedade, hoje beneficiária de tecnologias de alto grau de sofisticação.

E é digno mencionar o papel exercido pelas vacinas no aumento da expectativa de vida da população brasileira desde meados do século passado. Entretanto, essa percepção não está disseminada e a recente desconfiança na ciência é surpreendente e tem gerado uma grande preocupação nas sociedades científicas e lideranças responsáveis pelo futuro das nações e na sustentabilidade social planetária.

O século 21 está sendo chamado e reconhecido como o século da informação e do conhecimento científico. É imprescindível estabelecer a importância da ciência e, ao mesmo tempo, reconhecer seu alcance sempre limitado. O avanço científico é inesgotável. E não há solução para os problemas de uma comunidade que não passe pelo avanço do conhecimento. Igualmente, é crescente a responsabilidade da ciência e dos cientistas.

O conhecimento científico é acumulativo e deve ser sempre submetido a verificações para sua validação. Não pode haver receio em recuar sempre que correções se mostrem necessárias. Não há compromisso com o erro e só o conhecimento assegurado pode ser parte do acervo científico. Com esse espírito, a ciência tem avançado de forma sistemática desde, pelo menos, o estabelecimento do método científico no século 17.

Para isso, a liberdade de pesquisa deve ser um requisito básico e fundamental assegurado a todas as disciplinas e áreas do conhecimento e sua divulgação deve ser garantida, incrementando o patrimônio do conhecimento.

Deve ser assegurada a disseminação do conhecimento produzido, reportado sem censuras, embora sempre limitada pelas condições éticas e leis sociais estabelecidas.

Princípio essencial

A liberdade de pesquisa deve ser uma condição básica e fundamental, assegurada a todas as disciplinas. Sua divulgação deve ser garantida, incrementando o conhecimento produzido, reportado sem censuras, embora sempre limitada pelas condições éticas e leis sociais estabelecidas. A ciência está a serviço da humanidade e, assim, afora limites éticos e leis estabelecidas, sua fronteira deve ser infinita.

As agências e todos os outros atores que financiam a pesquisa devem ser sempre divulgados e interesses particulares não podem se sobrepor ao avanço do conhecimento científico produzido. As limitações e hipóteses devem ser conhecidas e divulgadas e a possível extensão do conhecimento produzido deve ser apresentada, se conhecida.

A garantia dos métodos utilizados deve ser claramente expressa e apresentada de forma compreensível.

A responsabilidade ética deve sempre estar presente e as pesquisas devem ser realizadas dentro dos critérios éticos estabelecidos e dentro de hipóteses e metodologias bem aceitas pela comunidade científica. A ciência está a serviço da humanidade e, assim, não pode se sobrepor a ela. Afora limites éticos, humanos e leis estabelecidas, sua fronteira deve ser infinita.

A confiança na ciência é essencial para o exercício da cidadania permitindo uma sociedade inclusiva e democrática e os cientistas devem ser comprometidos em compartilhar e disseminar o avanço científico e permitir seu acesso à sociedade. Essa atitude contribui para o exercício mais amplo da cidadania e ajuda no crescente e necessário caminho em busca de uma ciência aberta e cidadã. A ciência é um bem mundial e, por isso, a colaboração científica deve ocorrer em nível global.

(*) Sylvio Canuto é professor titular do Instituto de Física e pró-reitor de Pesquisa da USP.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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