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O Cascudo, Por Heitor Freire (*)

Por Heitor Freire (*) | 18/09/2012 15:00

Nos altos da nossa cidade, em direção ao norte, fica o emblemático bairro do Cascudo, atualmente conhecido como São Francisco um dos mais antigos da cidade, com influência muito significativa na nossa história.

Pretendendo obter informações a respeito desse bairro, instado que fui a escrever sobre o mesmo pelo meu amigo Antônio (Tonico) Rodrigues, procurei o dr. Arnaldo Rodrigues, nascido e criado no local.

O dr. Arnaldo, advogado dos mais competentes da nossa comarca, dividia sua banca de advocacia com os advogados Luiz Alexandre de Oliveira, Higa Nabukatsu (depois desembargador e presidente do Tribunal de Justiça) e Cândido Fernandes.

O escritório era localizado na rua Calógeras, onde hoje é a sede da Federação Espírita.

Hoje o dr. Arnaldo, no gozo do ócio com dignidade, depois de uma vida profícua de realizações, com a maior gentileza e boa vontade, franqueou-me estes dados.

A propósito, em virtude da importância do Cascudo, conversando com o professor Hildebrando Campestrini, este me autorizou a propor ao dr. Arnaldo que escrevesse sobre o bairro para a publicação de um livro na série “Eu sou História”, publicada pelo Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, que ele aceitou e já está escrevendo.

O material que me foi disponibilizado daria para alguns artigos, mas a história do Cascudo é tão rica que decidimos pelo livro, ficando sobre ele apenas este artigo, como referência.

Há uma versão muito antiga, segundo a qual o Cascudo era o nome, na verdade o sobrenome de um curandeiro e benzedor. Esse senhor morava nos altos da atual Rua Euler de Azevedo. Como tal, frequentemente atendia a muitas pessoas as quais, ao irem em busca de seus préstimos, diziam: “vamos ao Cascudo”, assim, o nome do curandeiro passou a ser o do bairro.

Outra versão é de que o nome decorreria do córrego Cascudo – um dos afluentes do córrego Segredo, e que tinha uma grande quantidade de peixe da espécie cascudo, peixe de couro.

Na realidade o bairro constituía mais que um aglomerado de casas, tinha uma população unida, consciente, trabalhadora. As atividades desenvolvidas ali eram as mais variadas, destacando-se: oficinas, carpintarias, bares, sapatarias, ferrarias, pedreira, máquinas de beneficiamento de arroz, açougue, barbearias e, nas imediações, o hospital Santa Casa e o colégio Dom Bosco.

Entre tantos fatos ali ocorridos, destacamos um que mostra o lado negativo e triste que caracterizou um período dos anos trinta do século passado: no bairro se instalou uma família conhecida como os baianinhos. Integrantes dessa família, sempre armados, roubavam gado e outros animais da região.

Consta dos relatos dos antigos moradores que, certo dia, um dos baianinhos entrou numa barbearia e ordenou ao barbeiro que lhe fizesse a barba num determinado tempo sob pena de ser morto, caso não obedecesse o tempo indicado.

Sob tal ameaça, o barbeiro começou o seu trabalho, que terminou dentro do tempo ordenado. O freguês lhe teria dito: “muito bem, você salvou a sua vida”, ao que o barbeiro lhe teria respondido: “quem se salvou foi você porque eu estava controlando o tempo e se não me fosse possível cumpri-lo, esta navalha em minhas mãos seria usada para a sua degola”. Ouvindo isso, o freguês, trêmulo, elogiou o barbeiro e dele se tornou amigo.

Aguardem o livro. Tenho certeza que ele agradará não só aos moradores do bairro como aos habitantes da nossa cidade.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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