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O turismo rural como gerador de renda e riqueza no campo

Por Maurício Antônio Lopes (*) | 09/01/2017 11:22

O turismo é responsável por um em cada onze empregos e por cerca de 10% do PIB global, desempenhando importante papel nos países em desenvolvimento como gerador de riqueza e inclusão social. Estima-se que até 2030 cerca de 1.8 bilhão de turistas estarão circulando pelo mundo anualmente, mais da metade deles em economias emergentes. Neste cenário, o turismo rural tenderá a ganhar destaque em função do apelo que a natureza exerce sobre uma sociedade cada vez mais urbanizada, porém preocupada com o meio ambiente.

A Europa é exemplo dessa tendência. Quem já viajou pelo interior da Itália, França, Espanha e Portugal percebe de imediato o impacto que a integração entre agricultura, cultura, gastronomia e turismo promove nas economias locais, viabilizando imensa gama de novos negócios, emprego e renda, além da preservação das tradições, dos costumes locais e da paisagem rural.

No Chile, o Valle do Colchagua, no sopé da Cordilheira dos Andes, distante 150 km da capital Santiago, é exemplo. Aquela região agrícola concentra importantes vinhedos e incorporou de vez o turismo em sua economia. Além da produção de vinho, da cultura preservada e das belas paisagens que unem mar e montanhas, a região atrai grande número de turistas, que podem desfrutar os vinhos e a culinária locais, além de passeios e aventuras.

No Brasil há exemplo semelhante no Vale dos Vinhedos, baseado no legado histórico e gastronômico dos imigrantes italianos, que chegaram à Serra Gaúcha ainda no século 19. Ali, a integração entre agricultura e turismo funciona como estímulo para a economia regional, favorecida pela hospitalidade de seus moradores e pelas belas paisagens rurais, além da infraestrutura turística de qualidade.

Mas o Brasil pode ainda mais. Formado pela integração das raças europeias, indígenas e negra, nosso país é um "fervedouro cultural" que fascina o mundo por aspectos como a música, a religião, o folclore, as festividades populares e a diversidade culinária. Com uma extensa superfície de terra contínua, imensa riqueza hidrográfica, uma das mais longas costas tropicais do planeta – com centenas de praias paradisíacas, ampla gama de condições climáticas, de temperadas a tropicais − e a mais rica biodiversidade terrestre do planeta, o Brasil conta com paisagens e ambientes únicos. Por isso não é exagero nenhum considerar o nosso país privilegiado para o desenvolvimento de uma possante indústria turística.

Como atividade baseada em recurso natural, cultural ou em ambos, o turismo é uma indústria de imenso impacto potencial para o mundo rural brasileiro. E a culinária e os alimentos tipicamente brasileiros poderão se integrar cada vez mais ao turismo, respondendo à busca por sabores e aromas típicos, por experiências sensoriais únicas e memoráveis, pela autenticidade dos produtores artesanais e das práticas e hábitos tradicionais.

Nossa agricultura tem tudo para se integrar à onda do multiculturalismo, que vem sendo impulsionada pela globalização, pela internet e pela expansão do turismo internacional. Assim, alimentos e bebidas antes considerados exóticos ganham o gosto do consumidor, como é o caso do açaí, do pão de queijo, do churrasco e da caipirinha, hoje apreciados em muitos lugares do mundo.

Para que possamos fortalecer o turismo como alternativa de desenvolvimento rural associado à cultura e à gastronomia, será necessário ampliar o conhecimento da imensa diversidade do que se produz e se consome em diferentes partes do país, à semelhança do que fez a França. Em seu Inventário do Patrimônio Culinário, de 1989, os franceses investiram no conhecimento dos seus produtos culinários, dando um passo essencial para o seu reconhecimento como patrimônio cultural. Se inventário similar for realizado no Brasil, teremos mais elementos para fortalecer a imagem dos nossos alimentos e da nossa gastronomia como produtos turísticos diferenciados, atendendo às necessidades de uma indústria turística cada vez mais dinâmica, competitiva e exigente.

A Embrapa, atenta a essas tendências, vem desenvolvendo um conjunto de projetos e ações que valorizam e dinamizam a produção de alimentos locais e regionais, com um olhar atento para a sinergia agricultura-turismo. Um exemplo é o programa Rota do Cordeiro, originado no Ceará, para profissionalização das cadeias produtivas da ovinocultura e da caprinocultura, com foco na sustentabilidade da produção, na regularização e na padronização da oferta de produtos diferenciados e na promoção do consumo. Em parceria com o BNDES, a Embrapa desenvolve um amplo programa de incentivo à diversificação, especialização e exploração da multifuncionalidade das áreas rurais, com grande potencial de impacto na oferta de produtos diferenciados, na gastronomia e no turismo.

Temos à frente o enorme desafio de organizar o rico leque de saberes, sabores e aromas que marcam a nossa culinária, definem a nossa identidade e conformam produtos turísticos em grande demanda. A agricultura, que projetou o Brasil como grande exportador de alimentos, poderá contribuir também para difundir para o mundo a cultura alimentar brasileira e suas possibilidades gastronômicas, com geração de renda e riqueza no campo.

(*) Maurício Antônio Lopes é presidente da Embrapa

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