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Os produtores rurais e a comunidade indígena de Mato Grosso do Sul

Por João Bosco Leal (*) | 23/10/2015 10:47

Nos últimos dias uma declaração tem causado muitos debates na imprensa de Mato Grosso do Sul e sobre a mesma, ao que parece, também foram realizadas veiculações de campanhas publicitárias pagas em países da Europa e dos Estados Unidos.

A frase "A Europa vai parar de comprar carne do Mato Grosso do Sul, porque a carne daqui tem sangue de criança indígena. A Europa vai parar de comprar soja do Mato Grosso do Sul, porque a soja daqui tem sangue de criança indígena", primeiramente foi atribuída ao bispo de Dourados, Dom Redovino Rizzardo.

Ela teria sido dita em um encontro ocorrido no dia 08 de outubro de 2015 no Ipad - Instituto Pastoral da Diocese de Dourados, e dela participaram religiosos e outros defensores da causa indígena, de vários Estados do Brasil e do exterior, que vieram conferir, in loco, a real situação dos indígenas que vivem em Mato Grosso do Sul.

O bispo alega que só esteve no início da reunião para cumprimentar os participantes, e que já não estava no local quando a frase foi dita, mas admite que soube depois que algumas pessoas presentes no encontro fizeram essas declarações.

O próprio bispo alegou ainda que considerou a reunião inoportuna, por estar ocorrendo em um momento de muita tensão entre as partes envolvidas, com muitas áreas invadidas e com a justiça determinando a reintegração de posse das mesmas, devolvendo-as aos produtores, seus proprietários legais.

Independente de quem quer que tenha dito tamanha estupidez, que obviamente pode destruir a economia do Estado de Mato Grosso do Sul, penso ser muito importante esclarecer a estas pessoas o que representa o agronegócio em nosso estado.

No MS, a produção estimada de cana de açúcar para a safra de 2015, de acordo com a Conab - Companhia Nacional de Abastecimento -, é de 50,2 milhões de toneladas.

Mesmo em razão das condições climáticas desfavoráveis, neste ano o MS deve colher 6,6 milhões de toneladas de soja, o que proporcionará uma receita estimada em R$ 5,52 bilhões, conforme dados da Aprosoja/MS - Associação dos Produtores de Soja.

Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de Mato Grosso do Sul deve chegar aos R$ 26,571 bilhões em 2015. O VBP é um indicador da atividade calculado com base nos volumes de produção e preços médios da agricultura e pecuária do estado e, neste ano, 59,01% deve vir da agricultura, que deve atingir os R$ 15,681 bilhões e 40,98% da pecuária, que deve totalizar R$ 10,890 bilhões.

Os três principais produtos da agricultura em Mato Grosso do Sul, no que se refere ao VBP, devem registrar, conforme a previsão dos técnicos do Mapa, crescimento em 2015 em relação a 2014. A soja deve ter um incremento de 7,60% (de R$ 6,848 bilhões para R$ 7,369 bilhões), o milho de 9,58% (de R$ 3,922 bilhões para R$ 4,298 bilhões) e a cana-de-açúcar de 10,59% (de R$ 3,039 bilhões para R$ 3,361 bilhões).

Já na pecuária, na criação de bovinos, a projeção é de um aumento de 2,26% no VBP deste ano em comparação com o anterior (de R$ 8,330 bilhões para R$ 8,519 bilhões). Também está previsto um acréscimo de 3,49% na produção de suínos (de R$ 481,005 milhões para R$ 497,812 milhões) e de 3,39% na de frangos (de R$ 1,457 bilhão para R$ 1,507 bilhão).

Diante destes números - que, apesar da crise política e econômica que vive o país, continuam crescendo -, da geração de empregos proporcionados e dos impostos que o governo arrecada do agronegócio, é no mínimo irresponsável e criminoso fazer declarações como as que foram feitas.

Os produtores rurais de Mato Grosso do Sul só querem poder continuar trabalhando e produzindo em paz. Não precisam de declarações irresponsáveis, que não melhorarão em nada a vida de nenhum brasileiro, seja ele de qualquer etnia, índio ou não.

(*) João Bosco Leal é jornalista, escritor e empresário.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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