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Cidades

Advogado compara diligência do Gaeco em sua casa com filme "Ainda Estou Aqui"

Para convencer TJ a anular buscas, Alex Viana citou filme que conta a história de Rubens Paiva, morto em 71

Por Anahi Zurutuza e Kamila Alcântara | 21/12/2024 11:07
Advogado compara diligência do Gaeco em sua casa com filme "Ainda Estou Aqui"
Foto divulgada pelo advogado há 4 anos (Foto: Google/Reprodução)

Argumentação no mínimo curiosa foi ouvida pelos desembargadores da 2ª Câmara Criminal nesta semana. O advogado Alex Viana de Melo, que recentemente teve o nome estampado na imprensa pela presença como um dos tribunos do “Caso Sophia”, citou o filme “Ainda Estou Aqui”, sucesso de bilheteria no Brasil e que conta a história do sequestro e assassinato do engenheiro Rubens Paiva durante a Ditadura Militar. Ele comparou o crime cometido pela repressão com ocorrido na casa dele, em Coxim, durante a Operação Grilagem de Papel.

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O advogado Alex Viana pleiteou a anulação de buscas realizadas em sua residência durante a Operação Grilagem de Papel, que investigava fraudes relacionadas à regularização fundiária. Ele alegou constrangimento ilegal e abuso de poder, afirmando que seu escritório foi vasculhado sem a presença da OAB-MS, embora não fosse o alvo da operação, que visava seu namorado, Thiago Cruz. Durante a sustentação oral, Viana fez uma comparação com o filme "Ainda Estou Aqui", que retrata a repressão durante a Ditadura Militar, mas seu pedido foi negado pela 2ª Câmara Criminal do TJMS, que considerou que a operação seguiu os devidos procedimentos legais e que não houve violação das prerrogativas do advogado.

Conforme apurado pelo Campo Grande News, a “batida” do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado na residência foi no dia 13 de novembro deste ano. Amanhecia aquela quarta-feira, quando a equipe do Gaeco chegou ao endereço com ordem judicial para fazer busca e apreensão em mãos. O alvo não era Alex Viana, mas o namorado dele, Thiago Cruz Cassiano da Silva, até então o gerente de Habitação da Prefeitura de Coxim.

A Operação Grilagem de Papel cumpriu 15 mandados de busca e apreensão, 14 deles em Coxim e um em Várzea Grande, no Mato Grosso. Durante a ação foram apreendidos R$ 15 mil em espécie, além de aparelhos celulares e documentos relacionados à regularização fundiária e à transmissão de imóveis feitas de forma suspeita.

A ofensiva do Gaeco resultou, também, no afastamento de dois servidores públicos, em razão de suspeitas de envolvimento nas fraudes investigadas – além de Thiago Cruz, Rodrigo Ferreira Lima, empresário e até então gerente de Tributos e Receitas de Coxim.

Para a investigação, os servidores expediram certidões de regularização fundiária para terrenos abandonados, mas com propriedade definida, sem seguir o procedimento legal exigido. A partir dessas certidões, as propriedades eram transferidas em cartório de registro de imóveis para envolvidos no esquema.

A força-tarefa em busca de provas das fraudes foi autorizada, em sigilo, pela Vara Criminal de Coxim, atendendo a pedido do Ministério Público, que investiga crimes de corrupção passiva, falsidade ideológica e organização criminosa.

Advogado compara diligência do Gaeco em sua casa com filme "Ainda Estou Aqui"
Agente do Gaeco em frente à Prefeitura de Coxim no dia 13 de novembro (Foto: Direto das Ruas)

No TJMS - Inconformado com o fato de ter tido a casa vasculhada, o advogado Alex Viana foi ao TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) pleitear a anulação das buscas, de maneira que quaisquer eventuais provas levadas pela equipe do Gaeco também sejam consideradas nulas. O advogado, em causa própria e em nome de Thiago Cruz, alega constrangimento ilegal e abuso de poder.

Ele afirma que, por exemplo, o escritório que mantém na casa foi vasculhado sem que ele fosse o alvo e sem a presença da OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil), direito que advogados têm de serem acompanhados por colega da Comissão de Defesa e Assistência das Prerrogativas dos Advogados quando estão na mira da polícia ou de investigação.

Para contextualizar o ocorrido, em sustentação oral, feita na terça-feira (17) diante da 2ª Câmara Criminal, Viana lembrou das cenas de “Ainda Estou Aqui”. “No filme, o Estado entrou na casa do Rubens Paiva, matou Rubens Paiva, torturou sua esposa e filha. Assistir aquilo traz uma profunda angústia, pela forma como eles foram violentados pelo Estado”, disse afirmando logo depois que o MP “não determinar que entrem na casa de qualquer pessoa sem fundamentos”.

Advogado compara diligência do Gaeco em sua casa com filme "Ainda Estou Aqui"
Foto divulgada pelo criminalista no dia em que fez sustentação oral na mesma sessão em que o ex-ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Nefi Cordeiro, também defendeu cliente (Foto: Reprodução)

O longa-metragem mostra o momento que militares sem farda chegam à casa de Paiva, em janeiro de 1971, e o levam para “depor”, sem apresentar ordem judicial ou explicações. O militante contra a Ditadura foi torturado e assassinado nas dependências do conhecido DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), quartel militar no Rio de Janeiro para onde eram levados os chamados “subversivos”, as pessoas que contestavam o regime.

Apesar da comparação, a tentativa de convencer os desembargadores a anular as buscas feitas na casa do casal não prosperou. A 2ª Câmara Criminal negou o pedido do advogado, que levou uma “chamada” de um dos magistrados após apresentar as alegações.

“Antes de qualquer coisa, quero dizer que não gostei de o advogado usar o termo ‘falcatrua judicial’. Ele é envolvido na causa, já não concordo de atuar na própria causa, por estar emocionante envolvido, e peço cuidado com os excessos de linguagem”, afirmou o desembargador Carlos Eduardo Contar, antes de dar o voto.

Ainda de acordo com o apurado pela reportagem, o Gaeco também se manifestou na ação que julgaria a legalidade do trabalho e explicou que somente documentos relacionados à investigação foram levados da residência, além do celular de Thiago Cruz. Explicou ainda que a OAB não foi acionada porque o advogado não era o alvo e mantém outro endereço profissional, por isso não houve violação ao escritório, de seus instrumentos de trabalho e correspondências. O Lei 8.906/1994 (Estatuto da Advocacia) assegura a inviolabilidade do local de trabalho do profissional do Direito, que lida muito com informações privadas e sigilosas.

(*) Matéria alterada às 19h06 para correção de informação a pedido do advogado Alex Viana.

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