Com 10 mortes em 4 dias, homens são o dobro das vítimas nas rodovias de MS
Entre as vítimas no ano, nove eram crianças (zero a 12 anos) e cinco adolescentes (13 a 17 anos)
Nos últimos quatro dias, 10 pessoas morreram no trânsito nas rodovias estaduais e federais de Mato Grosso do Sul. Até o final de junho, a Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública) havia contabilizado 151 óbitos provocados por acidentes só neste ano. Os números assustam e evidenciam a imprudência.
Conforme a pasta, 105 eram homens e 42 eram mulheres. As demais quatro vítimas não foram identificadas. A maior parte das vítimas (80) eram adultos (entre 30 a 59 anos), enquanto 32 eram jovens (18 a 29 anos), 22 idosos (acima de 60 anos), 9 crianças (zero a 12 anos), 5 adolescentes (13 a 17 anos) e 3 não foram informados.
O psicólogo de trânsito Renan da Cunha Soares Júnior explica que, de acordo com levantamento do Ministério da Saúde e Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) de 2010, a utilização da velocidade excessiva ou inadequada é sempre indicada como um dos fatores de sinistros no Brasil.
“Tudo isso tem que ser seguido à risca, porque a segurança não é negociável. O risco é sempre uma potencialidade no trânsito, ou em qualquer contexto que seja, mesmo que seja uma rua residencial, ou que seja uma rodovia mais vazia.”
O doutor em Psicologia da Saúde explica que é necessário estar dentro dos limites compatíveis com a via e conforme as condições de tráfego. “Uma via em que o máximo são 100 km/h, mas você tem condições em que o tráfego está muito pesado, é preciso diminuir essa velocidade para andar com segurança”.
A relação do sujeito com o ambiente é potencialmente arriscada, então é necessário que se siga sempre essas regras. O que vai evitar a ocorrência desses sinistros é justamente seguir essas orientações em específico da direção defensiva”, ressalta o psicólogo Renan da Cunha Soares Júnior.
Ele ressalta que regras da direção defensiva, ensinadas para todos os condutores que passam pela formação, também devem ser seguidas à risca, como forma de evitar acidentes. “Seja para condutores de veículos de quatro ou duas rodas, é preciso que isso seja sempre utilizado. Ou seja, a distância de segmento, a velocidade compatível, as questões visibilidade do veículo, bem como utilização de equipamentos de segurança”.
Imprudência
As 10 mortes foram registradas na MS-141, MS-157, MS-395, BR-163, BR-376 e MS-134, além de colisão na Capital. Pelo menos em quatro ocorrências, as colisões ocorreram porque os motoristas invadiram a pista contrária.
Conforme a PRF (Polícia Rodoviária Federal), na maioria das vezes, sem paciência para aguardar o momento oportuno e local em que a sinalização permita a ultrapassagem, muitos condutores se arriscam e realizam a manobra que é uma das principais causas de acidentes com mortes.
Tal infração é considerada gravíssima, com multa de R$ 1.467,35, além da perda de sete pontos na carteira. Também estão na lista de acidentes fatais: embriaguez ao volante, excesso de velocidade e falta de dispositivos de cinto de segurança.
Segundo dados do Datasus, do SUS (Sistema Único de Saúde), a maior parte (4.317) de 16.743 mortes provocadas por acidentes com veículos motorizados entre 1996 e 2021 eram de motociclistas. Além disso, 3.473 eram ocupantes de veículos, 2.829 eram pedestres e 1.122 eram ciclistas.
Trânsito violento em Mato Grosso do Sul
Na sexta-feira (30), motociclista identificado como Ciander Garcia de Oliveira, 34, morreu no trevo da MS-141, rodovia estadual que corta o município de Novo Horizonte do Sul. O rapaz conduzia uma Yamaha XT 660, quando perdeu o controle do veículo e atravessou o trevo, que liga os municípios de Novo Horizonte do Sul e Ivinhema. Com o impacto no asfalto, a vítima morreu antes mesmo da chegada do Corpo de Bombeiros.
Na tarde de sábado (1º), acidente envolvendo carro e carreta matou casal de jovens na MS-157, rodovia que liga Maracaju a Itaporã. Vítimas foram identificadas como Douglas Júlio Bispo Oliveira, 22, e Maria Eduarda Brasil da Silva, 18. O casal estava no Volkswagen Gol, que atingiu a carreta de frente.
Também na mesma noite, José Carlos Batista, 43, morreu na MS-395, entre Anaurilândia e Bataguassu, próximo da entrada do distrito da Vila Quebracho. A vítima seguia numa motocicleta Honda Bros, com placa de Nova Andradina, quando foi atingida na traseira por um Fiat Strada. José Carlos morreu no local.
Na BR-163, Estela Duarte da Costa, 71, morreu após ser atropelada por uma motocicleta. O acidente ocorreu próximo à saída do Bairro Cidade Jardim, em Itaquiraí. A vítima estava de bicicleta no momento em que foi atropelada. O condutor da moto fugiu do local sem prestar socorro. Estela chegou a ser socorrida, mas não resistiu.
Gabriel Soares Capato, 21, perdeu a vida após acidente na BR-376, entre Vicentina e Fátima do Sul. Gabriel seguia em um Fiat Pálio, quando houve a colisão de frente com o Citroen C3. Gabriel seria transferido para hospital em Dourados, mas não resistiu.
Na madrugada de domingo (2), Marcelo de Oliveira Vieira, 33, morreu após colidir o Chevrolet Onix, de cor prata, em um caminhão. O acidente aconteceu no km 93 da MS-134, em Nova Andradina. Todos os casos citados seguem sob investigação policial.
No mesmo dia, em Campo Grande, motociclista identificado como Lucas de Moraes dos Santos, 25, colidiu contra um poste e transportava passageiro de 17 anos. Ambos morreram após o acidente na Rua Pocrane, na Vila Nasser.
Nesta terça-feira (3), motociclista de 58 anos, identificado como Roberto Silva dos Santos, morreu em acidente entre quatro veículos na BR-163, em Campo Grande. A colisão envolveu duas motocicletas, uma Fiat Strada e um caminhão na região do Bairro Jardim Veraneio.
Redução a longo prazo
Apesar de os números assustarem, Campo Grande encabeça uma redução gradual do número de mortes, desde 2011, que faz com que o Estado tenha tido, neste ano, menor parcial de acidentes com morte desde, ao menos, 2013, conforme dados da Sejusp.
“A redução gradual se deve ao programa Vida no Trânsito. Se olhar a série histórica, você vai ver que a diminuição começa em 2011. Até aquele ano, tínhamos um crescimento bastante elevado e aí temos essa diminuição. Campo Grande, desde então, faz parte do programa - aliás, foi uma das cinco primeiras capitais do Brasil a implementá-lo -, e ele funciona aqui até hoje”, explica o psicólogo Renan da Cunha Soares Júnior.
O psicólogo observa que, em 2011, foram 132 óbitos em Campo Grande e, em 2020, o número caiu para 77. “Teve uma redução de 41,6%, porque foi feito um trabalho intersetorial, que envolve não só autoridades de trânsito, como a Agetran, o Detran, a Polícia de Trânsito, a Sesau, mas ao todo, 43 entidades governamentais ou não-governamentais, que fazem parte do GGIT (Gabinete de Gestão Integrada de Trânsito), que opera desde 2011 e faz esse planejamento integrado para que as ações consigam dar conta das problemáticas do trânsito aqui de Campo Grande”.
“Obviamente, esse trabalho por si só já diminui as estatísticas de Mato Grosso do Sul, porque Campo Grande é responsável pela maior frota do Estado. A gente vê que esse trabalho também engloba rodovias estaduais e federais que têm a participação desses outros órgãos”, finaliza.