Com 21% de cobertura, baixa vacinação contra polio assusta quem vive com sequela
O índice ficou muito abaixo da meta calculada pelo Ministério da Saúde, de 95% de imunização entre crianças
Em Campo Grande, a campanha de vacinação contra a poliomielite obteve apenas 21% da cobertura desejada entre as 57 mil crianças, enquanto a meta estipulada pelo Ministério da Saúde era de pelo menos 95%. Os números assustam quem enfrentou a paralisia infantil e vive com as sequelas da doença.
Na última segunda-feira (7), o secretário de Saúde de Mato Grosso do Sul, Flávio Brito, classificou a baixa adesão como “uma vergonha”, mas para quem nunca deixou de conviver com as dores, a vacina significa uma vida de liberdade longe da doença.
Paulo Márcio Machado Metello, 65 anos, fez parte das estatísticas da doença na década de 1960. Passou a infância em hospitais e mesas de cirurgia de médicos que não sabiam exatamente o que estavam tratando.
"Meu avô era do Exército, então, tinha mais condições. Aí eu fui para São Paulo tratar, mas os médicos não sabiam o que fazer com essas crianças que tinham paralisia. Conheci um médico no Rio que era tipo um açougueiro, famoso, me operou várias vezes. Tenho várias cicatrizes nas pernas que foram inúteis, não precisava ele ter me cortado, me operado, eu sofria, me deixava engessado por meses", relatou.
A mãe de Paulo se uniu com outros pais de crianças e fundou a ACBR (Associação Campo-grandense Beneficente de Reabilitação), em 1961. Hoje em dia, o lugar é administrado por Paulo, atendendo público em geral que necessita de fisioterapia.
Paulo se preocupa com situação, mesmo com a erradicação da doença, há 30 anos. "É um vírus, e pode voltar mesmo, se não vacinar. As vacinas tem testes, toda uma pesquisa, ninguém vai virar nada. E tem um tempo, tem que ser quando é criança, se não depois é tarde. Não é só sobre paralisia, são várias doenças. Já pensou se não tivesse a vacina de covid, as pessoas iam estar morrendo até hoje", apontou.
Ele ouviu dos médicos que a deficiência o impediria de realizar muitas coisas na vida, entre elas ter filhos. Mas ao lado da esposa, Liliane Bicudo de Moraes Metello, com quem é casado há 33 anos, mostra a foto do primeiro neto.
"É difícil ser atrofiado, dói. Não faço mais fisioterapia porque para mim é pior fazer esforço. Eu era muito ativo antigamente, andava de triciclo, a cavalo, saia correndo, mas eu caía, machucava. Queria ser como as outras pessoas, mas não dá pra eu ser. Mas eu aproveitei muito, tenho filho, família. A família, para quem é deficiente, é a base de tudo".