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Cidades

Com investimento e maior interesse, ensino integral deve crescer em MS e no país

Filhos da classe média estão migrando para o ensino público integral, que chegará a 50% das unidades de ensino

Cassia Modena | 01/08/2023 14:12
Escola da rede estadual em Campo Grande (Foto: Arquivo/Marcos Maluf)
Escola da rede estadual em Campo Grande (Foto: Arquivo/Marcos Maluf)

Estudar só de manhã ou só à tarde ainda é o comum na rotina de crianças e adolescentes do ensino público no Brasil. Isso poderá mudar até 2024, com esforços para metade das unidades escolares ofertarem educação em tempo integral até lá, conforme prevê o plano nacional de educação. Lei sancionada nesta terça-feira (1º) pelo presidente Lula garante R$ 4 bilhões em recursos para ajudar os Estados com a meta.

Em Mato Grosso do Sul, onde 49,4% das escolas já são de tempo integral, o número de matriculados cresceu nos últimos anos e chega a 32,5 mil estudantes atualmente. Depois de o secretário Estadual de Educação, Hélio Daher, anunciar que tem filhos estudando em dois turnos na rede pública, o secretário-executivo da Secretaria Executiva de Direitos Humanos da Sead (Secretaria de Estado de Assistência Social e dos Direitos Humanos) Ben-Hur Ferreira também falou sobre a filha nesta terça-feira (1º).

Como pai, Ben-Hur considera ter feito ótima escolha ao transferir a menina da escola particular para a estadual de ensino integral. Ela cursa o 1º ano do ensino médio e frequenta as aulas entre as 7h20 e 16h20, faz outras atividades curriculares além das aulas e, ainda, quatro refeições na escola. É o mesmo que todas as unidades que adotaram esse modelo de ensino oferecem. "Está envolvida em atividades bem diversas, com boa interação social e numa escola dirigida por profissionais motivados", resume.

O secretário-executivo da Sead, Ben-Hur Ferreira (Foto: Divulgação/Governo de MS)
O secretário-executivo da Sead, Ben-Hur Ferreira (Foto: Divulgação/Governo de MS)

E como secretário-executivo de Direitos Humanos, ele considera positivo o aumento da oferta dessa modalidade de ensino, especialmente para atender as mulheres.

"Antes de tudo, possibilita que ela possa deixar o lar para trabalhar. É compatível com os horários em que estão fora trabalhando". Ele também destaca o impacto para famílias pobres. "Imagine os filhos fazerem quatro refeições na escola, o quanto alivia o orçamento doméstico. Fora a educação de qualidade que recebem, sem ter que pagar mensalidades, e a garantia de outros direitos dentro da escola".

Ben-Hur acrescenta, ainda, que se nota uma tendência de famílias da classe média brasileira reconhecerem o salto de qualidade que o ensino público teve nos últimos anos, transferindo filhos de escolas particulares para as públicas. "A escola pública ficou 'mais forte' e as de ensino integral viraram opções dentro disso", finaliza.

Quase lá - Bem perto da meta de 50%, a SED (Secretaria Estadual de Educação) prevê implantar o modelo em 60% das unidades escolares até o fim deste ano. Em 2024, o número pode chegar a 65% e ficar alinhado ao plano estadual de educação.

A mesma referência, o plano estadual, previa que os 50% fossem atingidos até dezembro de 2022. Faltou bem pouco.

Arte: Thiago Mendes
Arte: Thiago Mendes

Integral não é tempo integral - A professora doutora em História, Política e Sociedade da Faculdade de Educação da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Fabiany de Cássia Tavares, avalia que a educação em tempo integral precisa ser diferenciada de educação integral na proposta de aumentar a oferta dessa modalidade de ensino no Estado e no Brasil,

"Precisamos saber se estamos falando de educação em tempo estendido ou de uma educação integral que, além de mais tempo em sala de aula, precisa discutir uma série de coisas. Organização do trabalho escolar, currículo e acesso a conhecimentos para além do que é cobrado como básico, são alguns exemplos", ela explica. "Não adianta tratar só da expansão do tempo", completa.

Ainda é difícil saber se as escolas já implantadas estão funcionando dentro dessa perspectiva da educação integral, a que a professora se refere. Os impactos da pandemia de covid-19 são os motivos. "Acredito que o Ministério da Educação implantará nos próximos anos as ferramentas necessárias para analisar a qualidade desse ensino", afirma.

Do ponto de vista de pesquisadora, Fabiany confirma o que o secretário-executivo da Sead falou sobre a migração que parte das famílias da classe média. "Em pesquisas, verificamos que isso está ocorrendo em relação ao ensino médio. Com a inclusão do ensino infantil na etapa da educação infantil, a migração poderá ocorrer também a partir dos anos iniciais", prevê.

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