Novo secretário tem filhos em escolas estaduais e quer ampliar ensino integral
Hélio Daher fala sobre planos e desafios para o ensino de 190 mil alunos da rede estadual em 2023
O novo titular da SED (Secretaria de Estado de Educação), professor Hélio Daher, já fazia parte da gestão passada, por isso diz ter em mente cada passo para investir os R$ 2,8 bilhões disponíveis para 2023. Com os dois filhos, de 11 e 13 anos, estudando há 3 anos em escola de tempo integral, ele destaca que é uma forma de demonstrar o quanto acredita no trabalho da própria secretaria.
Escolhido pelo governador Eduardo Riedel (PSDB) para substituir a ex-secretária, Maria Cecília Motta, Hélio já foi superintendente de Políticas Educacionais.
Em uma primeira entrevista exclusiva ao Campo Grande News, Hélio fala sobre as metas e os desafios: tornar metade das escolas em integrais neste ano, recuperar o aprendizado afetado pela pandemia, atrair a família para a vida escolar do aluno e preparar os estudantes ao mercado de trabalho, inclusive para o “boom” de oportunidades de emprego que virá com a abertura da Rota Bioceânica, quando ficar pronta ponte que está sendo construída entre Paraguai e Brasil, em Porto Murtinho.
O secretário também quer equiparar o salário do professor contratado com o do efetivo, apoiar os municípios na alfabetização e inaugurar o Núcleo de Prevenção a Acidentes. Não está nos planos criar mais escolas cívico-militares, além das quatro que existem em Campo Grande, Maracaju e Anastácio.
O adjunto, Edio Antônio Resende de Castro, e Hélio estão à frente de 348 escolas nas 79 cidades de Mato Grosso do Sul. O ano terá 190 mil estudantes e 25 mil servidores efetivos e contratados.
Escola integral
A meta nacional é que os Estados tenham 50% de escolas integrais até 2024. No entanto, MS já atingirá esse quantitativo neste ano e, até 2024, o secretário pretende estar com 65% das unidades integrais.
“A meta é a universalização do acesso à escola integral. Isso não significa transformar todas em integrais, mas sim garantir que todos os alunos da rede tenham acesso a uma escola integral. Aquele aluno que trabalha em um turno ou que os pais querem em uma escola de meio período poderão fazer essa escolha, temos que respeitar”, destaca Hélio.
O secretário explica que um aluno custa ao Estado em torno de R$ 8 mil por ano, enquanto na escola de tempo integral esse valor sobe para uma média de R$ 11 mil. Ele enfatiza a importância do ensino integral, tanto para a rede quanto para o aluno.
“Na escola integral tem menos depredação. O aluno cria um vínculo maior com a escola, se importa em participar inclusive das decisões e das mudanças que vão ocorrer. É um aluno até mais crítico e é isso que queremos preparar à sociedade”, detalha o secretário.
Pandemia e recuperação
O Plano de Recomposição do Aprendizado segue com ênfase nas disciplinas de Português e Matemática. As escolas terão uma avaliação no começo do ano e as atividades para recuperar as perdas do ensino remoto serão constantes.
“Se não cuidarmos dessa recomposição agora, teremos evasão no futuro. O professor precisa parar e resgatar cada aprendizado que o aluno precisa, o que inclui conversas com outro professor e chamar a família para participar”, comenta Hélio.
A família
As escolas terão quatro sábados com a “Família na Escola” ao longo de 2023. O secretário explica que uma reclamação frequente de diretores é sobre a falta de participação dos familiares de muitos estudantes.
“É notório: o aluno cuja família participa tem um desempenho melhor. Quanto mais a criança aprende, melhor a comunidade se desenvolve. Por isso, precisamos muito que a família participe, sendo orientada do que pode fazer para ajudar nessa recuperação em casa. Por exemplo, se o aluno tem dificuldade com interpretação de texto, a família pode incentivar a leitura, pode, inclusive, pedir os livros da biblioteca da escola para isso”, diz.
O professor
Atualmente, o concursado para 40h tem salário de R$ 10,3 mil, segundo Hélio. Ele destaca que é a melhor remuneração entre os Estados do Brasil.
Já o contratado ganha R$ 5,4 mil em 40h, mas, geralmente, esses professores são admitidos para contratos com menos horas. O secretário quer diminuir a diferença e equiparar o salário do efetivo e do contratado.
“Nossos contratos são por um ano. Isso já dá uma certa estabilidade nesse período, pois o professor tem férias e décimo terceiro, pode se planejar melhor, mas queremos que ele tenha também o salário equiparado ao do servidor de carreira. O contratado é necessário porque ele entra para substituir, por exemplo, professores de licença e outros que estão cedidos”, comenta Hélio.
A formação continuada também segue, como de costume, on-line e dentro da escola. A Jornada Formativa começa no dia 6 de fevereiro.
O aluno
O secretário destaca que o objetivo é preparar o aluno para o mercado de trabalho e isso inclui a preparação para o vestibular, para a qualificação profissional e ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
“O aluno que precisa trabalhar tem que estar apto para entrar num curso de qualificação, mas isso não significa que não vai para a universidade. Começar com um curso técnico não significa que vai parar ali. Todo estudante deve almejar o ensino superior”, opina Hélio.
Sobre as mudanças que estão ocorrendo a cada edição do Enem, o secretário adianta que vai procurar o ministro da educação, Camilo Santana, para saber mais sobre o que está sendo projetado para o exame.
Escola e universidade
Além disso, a secretaria continua com trabalho para dar apoio psicológico aos estudantes e professores. Outra meta do secretário é acolher melhor o acadêmico estagiário na escola. Após se debruçar sobre o tema em sua pesquisa no curso de mestrado em Educação, Hélio concluiu que a escola não está preparada para acolher o acadêmico da melhor forma.
“A culpa não é da escola. É necessária uma conversa entre a universidade e a secretaria para entender o que o estagiário espera da escola. Ele é o professor do futuro e tem que ser bem acolhido e saber todos os instrumentos e recursos que existem na escola”.
A aproximação por meio de reuniões com gestores das universidades públicas deve incluir ainda discussões sobre como aproximar os estudantes do mundo universitário.