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Cidades

Eleitos para comandar 3 cidades com menores IDHs têm lista de desafios à vista

Japorã, Paranhos, Coronel Sapucaia, Tacuru e Sete Quedas têm os piores índices em MS

Por Cassia Modena | 31/10/2024 08:39

Secretário municipal de Agricultura e agora prefeito eleito em Japorã, Malaquias posa com maquinário agrícola recebido na Capital (Foto: Divulgação/Prefeitura de Japorã)
Secretário municipal de Agricultura e agora prefeito eleito em Japorã, Malaquias posa com maquinário agrícola recebido na Capital (Foto: Divulgação/Prefeitura de Japorã)

RESUMO

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Os municípios da fronteira de Mato Grosso do Sul, com os menores IDHMs do estado, enfrentam desafios como falta de emprego, saneamento precário em aldeias indígenas e acesso limitado à saúde. Os prefeitos eleitos, como Vitor Malaquias (Japorã) e Heliomar Klabunde (Paranhos), priorizam investimentos na agricultura familiar, qualificação profissional, acesso à água e serviços de saúde. Apesar de avanços em algumas áreas, como a educação e o saneamento básico em Tacuru, a região ainda busca superar a dependência de programas sociais e atrair investimentos para gerar emprego e melhorar a qualidade de vida da população.

O desenvolvimento está demorando mais para chegar nos municípios da fronteira de Mato Grosso do Sul, que têm os menores IDHMs (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) dentro do Estado. Trabalho e renda, saneamento nas aldeias indígenas, pavimentação de estradas e melhora na saúde pública são os maiores desafios nessas regiões onde quase tudo gira em torno da produção rural, do serviço público e de poucas indústrias, segundo os prefeitos eleitos para comandá-las a partir de 2025.

O menor índice, segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 2018, é o de Japorã.

Seus 8.409 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), elegeram o ex-secretário municipal de Agricultura, Vitor Cunha, o "Vitor Malaquias" (PSDB), para assumir a cadeira de prefeito nos próximos quatro anos.

Horta comunitária na aldeia Porto Lindo, em Japorã (Foto: Divulgação/O Liberal)
Horta comunitária na aldeia Porto Lindo, em Japorã (Foto: Divulgação/O Liberal)

Ele diz que vai apostar primeiro em estruturar a agricultura familiar nos assentamentos e na aldeia Porto Lindo, onde vivem guarani-kaiowás, para elevar os indicadores econômicos. "É o setor que mais emprega em Japorã. Percebemos que podemos ajudar muito", fala.

A falta de emprego é o "grande calcanhar de Aquiles" por lá, diz Malaquias: "Por isso, a prefeitura adquiriu terrenos para servir de incentivo aos empresários, que vão gerar vagas, melhorando a qualidade de vida e a renda do nosso povo", completa.

Entre outras promessas, está criar uma Secretaria Municipal de Cultura para receber e direcionar recursos carimbados para a área, resolver problemas no saneamento, na saúde e instalar duas creches dentro da Porto Lindo.

Arte: Lennon Almeida
Arte: Lennon Almeida

O segundo menor IDHM é o de Paranhos. Eleito com margem apertada nestas eleições municipais, o pecuarista Heliomar Klabunde (PSDB) diz que dar cursos gratuitos para jovens se qualificarem para o trabalho nas fazendas e nas empresas, levar acesso à água encanada aos indígenas e ter médicos especialistas no município serão as prioridades da gestão.

O que de mais básico falta hoje e é considerado para o cálculo do índice, é acesso à água nas aldeias, de acordo com o futuro prefeito. Os povos originários representam 42% de toda a população paranhense. Em aldeias como a Potrero Guaçu, eles precisam fazer longas caminhadas até córregos e carregar galões pesados.

"Não podemos colocar um muro no meio da nossa cidade separando indígenas do restante da população. Não tem nem para tomar um banho, escovar os dentes", diz Heliomar.

Prefeito eleito em Paranhos conversa com casal indígena sobre as dificuldades com relação à água (Foto: Reprodução)
Prefeito eleito em Paranhos conversa com casal indígena sobre as dificuldades com relação à água (Foto: Reprodução)

Obras estão contratadas com recursos federais para abrir poços nas terras indígenas. O futuro prefeito já questiona a demora da execução, diz que vai cobrar agilidade e envolver a prefeitura na resolução do problema. "Não quero ver mais uma casa sem água", afirma.

Outro problema é a falta de especialistas na rede pública de saúde. "Até a fratura de um dedo é enviada para atendimento fora. Para atender mulheres, tínhamos um obstetra que vinha trabalhar só nas quintas-feiras e já perdemos mães porque não temos cirurgião no dia do parto", cita. Ele quer viabilizar mais médicos e conseguir recursos para construir um hospital.

Na educação, o prefeito promete ainda dar cursos aos professores e atender a uma reclamação das famílias sobre o ensino infantil. "As creches não funcionam em período integral. Fecham no horário de almoço e as mães precisam buscar e levar de volta. Tem patrão que não aceita que a funcionária tenha que sair [durante o expediente] para buscar o filho, mesmo ela não tendo para quem pedir", diz.

Outra prioridade será buscar junto ao governo estadual a pavimentação da ligação do município a Coronel Sapucaia e a Sete Quedas, ele acrescenta.

Do 3º ao 5º - Com o terceiro pior IDHM e histórico de cidade já considerada a mais violenta do País, Coronel Sapucaia elegeu a atual vereadora e presidente da Câmara Municipal, Niágara Kraievski (PP), para administrar o município. Ela foi procurada para comentar sobre os desafios da gestão, mas não quis se manifestar.

Tacuru, que está na sequência dos índices mais baixos, reelegeu o também pecuarista Rogério Torquetti (PSDB). O prefeito diz que vai priorizar a geração de emprego para a população ficar menos dependente da transferência de renda dos programas sociais e para que a renda média das famílias aumente. Atualmente, ela é de 2,4 salários mínimos, segundo o IBGE.

"Todo mundo quer emprego. A maior empresa, digamos assim, que gera emprego dentro do município, é a prefeitura. Hoje, empregamos mais de 750 servidores. Enquanto isso, na população de 11 mil habitantes, mais de sete mil são beneficiários de programas sociais. A gente tem que correr, dar um jeito de gerar emprego e renda, que é o gargalo do nosso município", fala.

A expectativa é que um laticínio se instale em Tacuru nos próximos anos. "Como somos dependentes do agro, a estiagem está prejudicando bastante. Precisamos diversificar a economia e atrair empresas assim", justificou.

Prefeito de Tacuru em reunião com líderes indígenas e representante de empresa de abate de frangos (Foto: Divulgação/Assessoria de imprensa)
Prefeito de Tacuru em reunião com líderes indígenas e representante de empresa de abate de frangos (Foto: Divulgação/Assessoria de imprensa)

Ele destaca que a comunidade indígena representa 40% da população e também precisa de "olhar especial" para a geração de emprego. A contratação de trabalhadores indígenas por uma indústria de frango sediada em Itaquiraí já ajuda, mas defende que as oportunidades sejam ampliadas.

O prefeito comemora melhoras na educação, saneamento básico e saúde. Ele destacou que o município agora tem leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) no hospital, aparelhos de ultrassonografia e de raio-X, o que antes não tinha. A cobertura da rede de esgoto é de 96% e o município está bem avaliado no Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), ele garante. Por fim, diz que vai dar continuidade aos projetos de cultura, lazer e esportes pensando na qualidade de vida dos tacuruenses.

Sete Quedas, que vem na sequência, será administrada pelo médico veterinário e vereador Erlon Daneluz (PSDB). Ele não respondeu ao pedido de entrevista.

O índice - O IDHM é calculado somando-se notas de mais de 200 indicadores socioeconômicos dos municípios. O índice final varia de 0 a 1, sendo que, quanto mais alto, mais desenvolvida a cidade é considerada.

Em paralelo, o governo de Mato Grosso do Sul divulgou este ano os resultados de um levantamento próprio, feito a partir de pesquisa com 28.850 famílias, entre outubro e dezembro de 2023. Nele, se destacaram Rio Brilhante como a cidade menos vulnerável e Sete Quedas como a mais vulnerável socialmente.

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