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Cidades

Há quase um ano sem parquímetro, vagas no centro viram motivo de confusão

Condutores alegam que a disputa por uma vaga tem sido ainda mais acirrada após saída da Flexpark

Natália Olliver | 05/01/2023 07:10
Entrada de um estacionamento particular na Rua 13 de maio (Foto: Paulo Francis)
Entrada de um estacionamento particular na Rua 13 de maio (Foto: Paulo Francis)

Após quase um ano sem os famosos parquímetros no centro da cidade, condutores alegam que a disputa por uma vaga tem sido ainda mais acirrada e são motivos de “caos” nos horários de pico. Com a pouca disponibilidade de espaços nas principais ruas, os motoristas são obrigados a deixar os veículos nos estacionamentos espalhados por todo o perímetro central.

O contrato com a empresa Metro Park, conhecida como Flexpark e responsável pelo estacionamento rotativo, foi rescindido pela Prefeitura de Campo Grande em março de 2022 e segue sem licitação para que uma nova empresa assuma o serviço.

Khrisley Velasque, de 30 anos, ressaltou que achar uma vaga é raridade. “Está difícil e os locais para estacionar são todos pagos. Hoje em dia procuro mais estacionamento, mas se for necessário deixo na rua também. Deixo mais no estacionamento porque sei que vai ter vaga lá. Aqui é lotado. É tudo cheio demais. Durante a semana é bem pior que nos finais de semana.

Velasquez é cantor e está sempre no centro da cidade procurando por cordas para o violão ou instrumentos para as apresentações. “Não tem jeito de fugir”, pontuou.

Abenio Saldanha Saraiva, de 58, também concorda com o músico. “Na realidade é muito difícil. A gente vem estacionar o carro pra resolver algo, tem que parar uns 300 metros fora da área que viemos para ser beneficiado na área comercial. Depois que a Flexpark saiu ficou mais desorganizado. Eu sempre estacionava na rua antes, mas agora não tenho mais coragem. Meu carro é novo e às vezes alguém bate e não tem fiscalização. Qualquer horário está ruim, durante o dia todo encontra barreiras, só de noite, principalmente a 14 de julho”, disse.

Abenio Saldanha Saraiva afirmou que não há vagas em nenhum horário para estacionar no centro (Foto: Paulo Francis)
Abenio Saldanha Saraiva afirmou que não há vagas em nenhum horário para estacionar no centro (Foto: Paulo Francis)

Para o cinegrafista aposentado o que tem contribuído com a falta de estacionamento na rua são as pessoas que deixam os veículos entre duas vagas, não apenas em uma. “Todas as ruas do centro não estão promovendo facilidade de estacionamento. Antes tinha as vagas  bem organizadas, agora um para lá na frente ou no meio da vaga, dificultando que a outra pessoa que vai chegar estacione’. comentou.

Acessibilidade - Além da falta de vagas, os locais destinados ao estacionamento de pessoas com deficiência na rua não estão sendo respeitados pela população. Quem afirma isso é Paulo Sérgio Bazilio da Silva, de 52 anos, que é deficiente físico e trabalha na Caixa Econômica Federal, na Rua 13 de Maio.

Paulo Sérgio Bazilio da Silva reclamou da falta de vagas para pessoas com deficiência (Foto Paulo Francis)
Paulo Sérgio Bazilio da Silva reclamou da falta de vagas para pessoas com deficiência (Foto Paulo Francis)

“Tem dia que tenho que parar lá na Dom Aquino, vir debaixo de chuva para conseguir trabalhar, porque usam as vagas. Tem que sair de casa e encontrar isso. Sábado é terrível. Acho que depois que a Flexpark saiu é uma faca de dois gumes, mas antes tinha fiscalização. Agora nada”.

O homem ressaltou que já chegou a deixar o carro nos estacionamentos do centro, mas que desistiu pelo preço. “A gente fica de mãos atadas. Já paguei várias vezes estacionamento só que você acaba pagando para trabalhar, paga  R$37 a R$40 reais por dia, aí fica difícil”, disse.

Estacionamentos - Quem lucra com o problema são as empresas que oferecem a possibilidade de o condutor deixar o veículo com segurança, mas por um preço maior que a taxa cobrada no estacionamento rotativo.

Bruno Renan Marques, de 25 anos, é caixa no estacionamento conveniado de um cartório, na Rua Dom Aquino, e explicou que a procura foi maior que em 2021 no período devido à pandemia. “Se todo mundo estacionar bem certinho aqui tem a capacidade de uns 250 carros, mas não acontece isso. No Natal teve dia que chegou a exceder”, revelou.

Para o funcionário, quem ocupa as vagas na rua são os próprios trabalhadores do centro da cidade. “Depois que a Flexpark saiu o fluxo aumentou bem mais. Chegando aqui na Dom Aquino o pessoal que trabalha já ocupa as ruas às 7h, não tem onde estacionar. Daqui até a 13 sempre está cheio.

Bruno Renan Marques explica que o estacionamento tem atraído mais pessoas depois da saída da Flexpark (Foto: Paulo Francis)
Bruno Renan Marques explica que o estacionamento tem atraído mais pessoas depois da saída da Flexpark (Foto: Paulo Francis)

Bruno evidencia que durante o Natal o estacionamento chegou a receber 900 carros por dia. Os veículos costumam permanecer no local de 30 minutos a 2 horas. “Esse ano estávamos esperando um movimento menor por causa que o pessoal estava sem dinheiro para pagar as coisas no fim de ano, mas a procura foi grande”, finalizou.

O gerente de outro estacionamento na Dom Aquino, Luiz Douglas, também confirmou sobre os funcionários que ocupam as vagas disponíveis na rua. “Acho que o pessoal, que é funcionário do comércio, ocupa as vagas que eram mais rotativas, agora como não paga mais chegam e deixam os veículos, então acaba sobrando menos vagas para o pessoal.

Para ele, não houve aumento no fluxo de pessoas que estacionam em locais pagos. “De maneira geral, a rotatividade não mudou muito em relação à média antes da Flexpark e antes da pandemia. Nesses períodos normais a média é de 100 a 120 veículos, mas em datas comemorativas é o dobro disso”, comentou.

Licitação - O Ministério Público de Mato Grosso do Sul publicou uma deliberação no dia 7 de dezembro, que cobra a Prefeitura de Campo Grande para que apresente, em um prazo de dez dias úteis, as eventuais medidas e providências para concessão do serviço de estacionamento rotativo.

No pedido, o órgão também pede que o valor não resgatado por condutores até 20 de outubro de 2021 (prazo limite que havia sido estabelecido para o recebimento) seja devolvido com juros e correção monetária. O valor servirá de crédito junto à empresa vencedora da nova licitação. Até o momento, ainda consta em débito R$ 3.510.771,97 a serem devolvido aos condutores.

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Campo Grande para solicitar uma posição sobre a nova concessão do serviço. Em resposta, a gestão afirmou que já está em andamento.

“A licitação em andamento está passando por estudos técnicos preliminares rigorosos, com o objetivo de atingir os principais objetivos da implementação de um estacionamento rotativo: democratizar o acesso às vagas de estacionamento e dinamizar as atividades econômicas da região central", disse.

Até a publicação desta reportagem, a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), pasta também procurada pelo Campo Grande News, não respondeu sobre a fiscalização das vagas para pessoas com deficiência no centro.

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