No "parque do poder" de MS, defeitos sobressaem após 3 décadas de descuido
Parque dos Poderes tem inúmeros problemas e ainda espera uma revitalização que nunca veio
É famosa em todo o mundo a teoria das “janelas quebradas”, modelo de segurança surgido nos Estados Unidos que, em resumo, difunde a ideia de que “desordem gera desordem”. O contrário, obviamente, também vale. Nos 43 anos de Mato Grosso do Sul, o lugar onde se concentra o poder no Estado, o Parque dos Poderes em Campo Grande tem muitos trechos fora da ordem, capazes de explicar na prática esse entendimento.
Ali, de ondem saem as decisões que importam na vida de cada morador sul-mato-grossense, faltam cuidado, manutenção. Estão ausentes, porque não dizer, conforto e beleza aos olhos de quem passa, ainda que a vegetação da reserva que margeia o lugar equilibre essa imagem.
Perto de completar 35 anos, o complexo reunindo os prédios das secretarias estaduais, Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa, comando das forças de segurança estaduais e também órgãos federais como a Receita e a Justiça Eleitoral, tem exemplos de problemas em toda a sua extensão.
Logo na entrada pela Avenida Afonso Pena, a reportagem deu de cara com buracão, uma voçoroca no terreno, bem na divisa com a Avenida do Poeta, onde ficam parte das secretarias.
Na Avenida, assim como nas outras vias que formam o “Parque”, andar alguns metros a pé evidencia canteiros na pura terra, sem qualquer vegetação, árvore frutífera ou algo do tipo .
Há locais onde o calçamento de paralelepípedos tem buracos com partes soltas. O que vai saindo, fica amontoado.
Não há meio-fio, apenas tocos de madeira pintados de branco na lateral das calçadas. Em alguns trechos, o asfalto cedeu e formou placas soltas.
Nas paredes de concreto afetado pelo efeito do tempo, fica evidente que não houve, depois da inauguração, nenhuma ação mais efetiva. Mesmo o projeto de construir uma sede do Governo ficou parado no tempo e a Governadoria segue num lugar “emprestado”.
Carros - Bem em frente à Governadoria, grudado no prédio, o que poderia ser jardim, está ocupado por uma camionete. Em outros imóveis, o espaço dedicado antes ao gramado, agora também virou vaga para deixar os veículos, como acontece na Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública). Em dias de chuva, vira um lamaçal.
Os carros, ou melhor, os motoristas, são personagens de outro “defeito” pelo Parque, o abuso da velocidade. Hoje, sequer há os radares eletrônicos para punir com multa quem abusa e coloca em risco os animais, moradores nativos da região.
Também são obstáculos aos apressadinhos, como quebra-molas, tornando o lugar pista de corrida em certos horários.
Inseguro – De dia, quando as pessoas estão trabalhando, e de noite, quando a movimentação é menor, falta segurança. A iluminação é frágil e, ainda que haja três unidades da PM, entre elas o comando, e ainda a diretoria e a Academia de Polícia Civil, é raro ver policiamento por lá.
Quem escolhe o parque para uma caminhada, ou uma volta de bicicleta, precisa contar com a sorte e, pelo menos andar em grupo.
Em determinado pontos, a pessoa pode deparar, ainda, com uma espécie de motel a céu aberto, clareiras usadas por casais, notadamente homossexuais, para sexo. A mais usada, pelos sinais na trilha formada no meio do mato, fica na rua mais ao fundo, a Desembargador Leão Neto do Carmo.
É possível ver restos de preservativo e todo tipo de lixo no chão, como garrafas de cerveja. O ponto tem ainda venda e consumo de drogas.
Como um “city tour” ao contrário, o passeio termina no que poderia ser um cartão postal aos visitantes, o Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, mas hoje, do lado de fora, sobressai a placa esmaecida e os sinais de deterioração.
Projeto – Em março, foi anunciado projeto para revitalização do Parque dos Poderes, orçado em R$ 14 milhões. Veio a pandemia de covid-19, e a ideia segue adormecida.
Proposta nesse sentido já havia sido apresentada em 2016, no primeiro governo de Reinaldo Azambuja, com estimativa de custo de R$ 9 milhões. Quando divulgada, a proposta previa recapeamento em 136.644 metros quadrados, drenagem, 20,9 mil metros lineares de meio-fio, além de implantação de luzes de LED e de acessibilidade ao longo do parque assim como sinalização viária.
Há um cantinho no centro de Poder, em frente à Secretaria de Meio Ambiente, onde o visitante já vê uma mostra de quanto o capricho pode deixar tudo melhor. Ali tem banco, um pé de tarumã florixo em roxo, flores vermelhas, e cuidado, patrocinado pelos próprios funcionários.
Com o projeto de revitalização ainda no aguarado de execução, o objetivo, além de melhorar a vida de quem transita e trabalha pelo Parque, é que o espaço seja de fato algo do qual as pessoas que vivem na cidade se orgulhem de mostrar aos visitantes. Perto dali, na Avenida das Araras, obra relativamente recente, está a prova de que há o que mostrar: enfileirados, os coqueiros plantados atraem araras com seus ninhos e filhotes, garantindo os cliques e a foto da redes sociais.
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