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Cidades

Pedófilo não tem "cara" e pode estar nas redes dando like nas fotos do seu filho

Delegada Marília de Brito explica que a foto que nos parece inocente, do dia a dia do filho, tem outra conotação para pedófilos

Paula Maciulevicius Brasil | 02/09/2020 15:57
Fotos inocentes aos olhos dos pais podem ser gatilho para pedofilia na internet (Foto: Marcos Maluf)
Fotos inocentes aos olhos dos pais podem ser gatilho para pedofilia na internet (Foto: Marcos Maluf)

Nasce uma mãe e todos os posts se resumirem ao filho. Sejam stories, fotos ou vídeos, as crianças tomam conta das redes sem nem consentirem. Do lado de quem posta, não dá para saber onde as imagens podem parar e nem se entre os amigos e seguidores existem pedófilos.

Já foram nove operações contra pedofilia desencadeadas em Mato Grosso do Sul pela Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), onde houve prisões e apreensões de material.

Titular da delegacia, Marília de Brito Martins explica que a foto que nos parece inocente, do dia a dia do filho, tem outra conotação para os pedófilos.

"O olhar de quem tem atração é diferente, nós temos o olhar comum, de ver uma criancinha fofa, mas eles têm um olhar libidinoso e uma coisinha pode deixá-lo interessado naquela criança da imagem", enfatiza a delegada.

Nas próprias redes sociais da delegacia, foram repostadas orientações do movimento social "Diga não à Pedofilia", de enfrentamento e prevenção ao abuso sexual infantil, sobre a importância de se evitar postar fotos de crianças nas redes sociais sob o abominável argumento de que o Brasil é o maior produtor e exportador de pornografia infantil, alimentando o mundo inteiro, e muitas dessa imagens são de crianças na rotina, roubadas de pais desavisados.

Registro de uma das apreensões feitas nas operações contra pedofilia desencadeadas pela Polícia. (Foto: Arquivo/Henrique Kawaminami)
Registro de uma das apreensões feitas nas operações contra pedofilia desencadeadas pela Polícia. (Foto: Arquivo/Henrique Kawaminami)

"A orientação básica que damos para os pais é de respeitar a idade dos aplicativos. O Facebook tem idade, o Instagram tem idade", frisa a autoridade policial.

Isso vale tanto para se levar em conta a publicação de fotos só dos filhos como também para abrir uma conta para as crianças.

"Tem casos que os próprios pais vão e colocam uma informação falsa da idade da criança para ela ter um perfil. Os dados estatísticos mostram que mais da metade das crianças de seis a nove anos já têm perfis. Bebês com Instagram, sem nem conseguir segurar o celular estão nas redes sociais, a gente tem que usar essa estrutura com sabedoria", enfatiza a delegada.

"Shareting" - Existe até um termo para o uso excessivo das redes sociais pelos pais para compartilhar conteúdo baseado nos filhos com fotos e detalhes as atividades em família. O share, que significa compartilhar, e o parenting, de parentalidade.

"Temos que evitar a exposição das crianças, da intimidade delas e perguntar se aquela criança quer ser exposta, quer ser colocada na rede social", orienta Marília.

E foi isso que aconteceu na família da arquiteta Vanessa Fiorentini. Apaixonada por fotos, quando o filho de quase 3 anos passou a dizer que não queria ser fotografado, ela passou a respeitar. "Só tiro e posto fotos que ele deixou eu tirar, por questão de repeito a ele", explica. O Instagram é privado e com controle sobre quem segue a conta.

Vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB-MS, Ana Maria Assis reforça o ponto da privacidade prevista na própria legislação, como Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, e a Convenção sobre os Direitos da Criança.

"A criança tem direitos, que devem ser resguardados pelos pais, pela sociedade e pelo Estado, e dentre esses direitos, estão o de privacidade, o de imagem, o de dignidade. Mas, também, o de convivência com a comunidade. Então, claro que os pais não precisam esconder seus filhos, mas devem se preocupar com a dignidade deles".

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