“Poderia ter sido evitado”: há 15 anos Monique perdeu marido no acidente da TAM
Hoje, ela espalha árvores frutíferas numa ode à vida e deixa recado para que ninguém adie a felicidade
Com a vida atravessada por um instante – 18h48 de 17 de julho de 2007-, a microempresária Monique Klein, 60 anos, cumpriu neste mês um ritual particular: plantou árvores frutíferas em homenagem a José Américo Flores do Amaral, o marido que há 15 anos morreu no acidente do avião da TAM, no Aeroporto de Congonhas (São Paulo). Américo foi secretário de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Agrário de Mato Grosso do Sul, entre 1990 e 1994. Ele morava em Campo Grande, tinha 63 anos e deixou quatro filhos.
Na ocasião, o saldo da tragédia do voo TAM JJ3054, que ia de Porto Alegre (Rio Grande do Sul) para a capital paulista, foram 199 mortes, sendo 12 em solo. A aeronave, que estava aterrissando, cruzou uma avenida e explodiu ao bater em um prédio de cargas. Não houve nenhuma condenação.
“Fico muito emocionada quando relembro o dia. Acredito que todo piloto que desce em Congonhas repensa sua vida em questão de segundos. Minha indignação hoje, nos 15 anos, é saber que tudo poderia ter sido evitado. As pistas precisam ser vistoriadas”, afirma.
Nesta linha do tempo entre 2007 e 2022, Monique já contou ao Campo Grande News sobre a falta de esperança na punição dos culpados, que de fato se concretizou, e a revolta pelo acidente.
Por questões pessoais, não voa de Latam e se vê enredada em muitas dúvidas quando entra num avião. “Será que estou segura, será que chegarei ao meu destino? A hora da aterrissagem é sempre um suspense, com enjoo, náusea, me trato de ansiedade”.
Como Américo comemorava aniversário em 28 de julho, o mês é marcado por sentimentos, saudades e tristeza. Os antídotos são espalhar árvores frutíferas em lembrança dos entes queridos e manter vivas as memórias, por meio de fotografias e vídeos. As fitas VHS foram convertidas para digital, enquanto que os relatos verbais ajudam a lembrar ao filho, que em 2007 tinha apenas 10 anos, sobre quem foi o pai.
“Não vou a túmulo, cemitério. Mas sou a porta-voz, digo ao meu filho: seu pai falava isso. Ele perdeu o pai muito cedo”. Já as árvores são testemunhas de que a vida segue. “As pessoas não morrem, só mudam de plano”.
Jornalista, Monique partiu em busca de informações e conheceu histórias dos demais passageiros que morreram no acidente. Das descobertas, também vem consolo. “Todos que estavam naquele voo se despediram de certa forma. Alguns fizeram churrasco com a família, uma mãe conta que o filho estava diferente, a aeromoça deu tchau. Tiveram a oportunidade de se despedir”.
No caso de Américo, um mês antes de acidente, ouviu dele agradecimento pela nova família que tinha construído. “Até disse não precisava, para com isso”, rememora.
Quinze anos depois, ela deixa uma mensagem: “Viva o hoje, não fique postergando a felicidade, o contato, uma palavra meiga, um carinho”.
Histórico – De acordo com a Agência Brasil, ninguém foi responsabilizado ou cumpriu pena pelo acidente.
Em 2015, a Justiça Federal acabou absolvendo a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu, o então vice-presidente de operações da TAM, Alberto Fajerman, e o diretor de Segurança de Voo da empresa na época, Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro, que haviam sido denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) por “atentado contra a segurança de transporte aéreo”, na modalidade culposa. Para a Justiça, os réus não agiram com dolo (intenção).
A pista estava molhada e, por causa de uma reforma recente, ainda estava sem grooving, que são as ranhuras que facilitam a frenagem do avião.