Promotor “de mil júris” deixa tribunais e vai investigar policiais
Douglas Oldegardo ficará na coordenação do Grupo Especial de Controle Externo da Atividade Policial do MPMS
Um mês depois de fazer o milésimo júri popular, Douglas Oldegardo Cavalheiro dos Santos, promotor com 27 anos de experiência, deixou os tribunais. Está agora no comando do Gacep (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial), responsável, portanto, por investigar policiais.
Conhecido pelas performances em frente aos jurados, vestindo a “capa preta” e acompanhado da “007” – pasta de couro onde carrega as ferramentas para os embates –, o tribuno já quebrou os óculos, quase “saiu no soco” com advogado de defesa e até desmaiou em plenário.
Foram 15 anos consecutivos trabalhando na acusação de réus por assassinatos. No ano passado, foi um dos responsáveis, por exemplo, pela condenação de Jamil Name Filho e outros dois por crime que chocou Campo Grande, a morte de Matheus Coutinho Xavier, fuzilado por engano.
Ele se lembra exatamente do seu primeiro dia como promotor do júri. “29 de junho de 2009. Naquela segunda-feira desencaixotei minhas coisas no gabinete que me foi destinado pela chefia, na sede da então ‘Unidade São Bento’ das Promotorias de Justiça da Capital, na Rua José Antônio. Ali, fechava-se um ciclo de 14 anos e meio, passando pelo ingresso na faculdade, a aprovação no concurso, nove anos de serviços prestados nas comarcas do interior às quais servi, até chegar, finalmente, à Promotoria do Júri da capital. O sonho, desde o princípio de tudo”.
Douglas Oldegardo também tem no baú da memória qual a primeira acusação que levou ao conselho popular de sentença. Compartilha as recordações em textos que divulga pelas redes sociais.
“Tenho um problema agudo de memória, com meus plenários. Esqueço as falas, às vezes logo após de dizê-las. E a memória vai misturando os casos no tempo e guardando apenas alguns. Mas aquele duplo homicídio, em 24.12.94, numa chácara chamada Nova Esperança, na saída pra Rochedo, com uma espingarda 22, nunca esqueci. Daquele primeiro júri, contei o segundo, o terceiro, o quarto. Todos eles”, registrou na publicação de comemoração do júri de número 1 mil, no dia 7 de junho.
Mais recentemente, há 3 dias, o promotor, que já era membro Gacep, despediu-se da beca – vestimenta usada nos tribunais – com um “até breve”. “Resgatá-la de seu refúgio de 15 anos para, silenciosamente, dizer a ela que sua batalha silenciará por um tempo, não foi tarefa das mais fáceis. Tampouco sentir seu silente ecoo de centenas de batalhas em minha proteção a me dizer: ‘Quando voltares, estarei aqui’, foi fácil de absorver”, confessa.
Nesta terça-feira (9), o procurador-geral de Justiça, Romão Ávila Milhan Junior, nomeou Oldegardo para atuar como coordenado do Gacep.
Ao Campo Grande News, o promotor afirmou que sua saída dos tribunais do júri não foi surpresa. “Era algo que vinha sendo conversado desde a posse do Romão como PGJ. Mas tudo foi ajustado para ocorrer no tempo certo, por uma série de fatores”.
Não detalhou qual a missão terá no grupo especial que investiga a polícia, mas afirma que ficará “no controle externo por algum tempo”.
O tribuno nunca escondeu a paixão de atuar nos júris populares. “Neles, a sociedade desenha os limites do admissível e do inadmissível”, descreve num dos textos em que demostra o orgulho do trabalho.
“A jornada mais longeva no Tribunal do Júri do nosso Estado. E não. Não me cansou. Ao contrário. Me fez mais forte. A cada sessão. A cada oração proferida. A cada palavra dita com os olhos fitos nos devotos membros do nosso Conselho de Sentença. Minha senda. Meu destino. Minha casa. Meu alimento”, completou o promotor no dia 29 de junho, quando chegou ao 15º ano à frente de um das promotorias do júri da Capital.
Gacep - O Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial existe desde 2015. A equipe investiga casos de abuso de autoridade e quaisquer denúncias sobre atuações das forças de segurança que passem dos limites das atribuições, inclusive quando há mortes.
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