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Cidades

Sheyza escondeu procedimento no Paraguai e família procura amiga que a levou

Família juntou conversas de WhatsApp que mostram como Sheyza foi "coagida" a não contar nada desde que começou a passar mal

Paula Maciulevicius | 21/09/2020 12:14
Sheyza morreu após procedimento de aplicação de hidrogel em clínica clandestina (Foto: Reprodução/Facebook)
Sheyza morreu após procedimento de aplicação de hidrogel em clínica clandestina (Foto: Reprodução/Facebook)

Além de esconder o procedimento, a estudante de Estética Sheyza Ayala, de 21 anos, também foi coagida a manter em segredo a aplicação de gel nos glúteos, feita em uma clínica clandestina em Pedro Juan Caballero. Essa é a afirmação da família da jovem que não sabia do procedimento e nem do mal-estar sentido pela menina ainda no dia da aplicação. Sheyza morreu na madrugada de quinta-feira (17), cinco dias depois do procedimento.

O pai da jovem está destroçado. Ao telefone, repete "linda, linda, minha filha era linda. Nunca tinha feito nada. Fez tudo escondido da gente", diz Diogo Ayala, que em seguida passa a ligação para o filho, Diego, conversar com a reportagem.

Irmão mais velho de Sheyza, Diego conta que a estudante foi para Pedro Juan Caballero no sábado, dia 12, sem falar nada para a família junto de uma amiga. "A gente não ficou sabendo de começo, porque a doutora responsável pelo local dizia que não era para ela falar para ninguém, que estava tudo normal e que nada ia acontecer", descreve o professor Diego Ayala, de 35 anos.

Depois do procedimento, Sheyza voltou para a casa da amiga, onde já começou a se sentir mal e pediu para que a família a buscasse. "E aparentemente estava tudo bem, ela não falou nada para a gente, porque estava sendo coagida a não falar nada. Ela confiou na pseudomédica", diz o irmão.

Ainda segundo o irmão, no sábado ela acabou revelando que havia feito "um procedimento", mas sem detalhes. 'Fiz um procedimento normal, várias pessoas já fizeram e está tudo bem', ela disse e nós acreditamos até ver na segunda que não era nada normal", conta Diego.

Na segunda-feira (14), Sheyza passou a ter febre e muita falta de ar, foi quando a família a levou para o Hospital Regional de Ponta Porã. Sem saber que substância foi aplicada nem o local, familiares procuraram pela amiga que também teria feito o procedimento, mas ela não foi encontrada. "A própria amiga desapareceu, não nos deu nenhuma informação", relata. "Abandonaram ela", completa Diego.

No hospital, o irmão descreve que foram feitos exames para saber o que estava acontecendo e no dia seguinte, na terça (15), a estudante foi para a UTI onde ficou em coma induzido e ventilação mecânica.

"Na terça, os médicos falaram que precisavam fazer este procedimento, do coma induzido e da ventilação mecânica, para preservar a função pulmonar e cardíaca dela. A última coisa que ela falou foi que amava todo mundo e que ia ficar bem".

"Mãe, eu preciso fazer isso para eu ficar bem e voltar logo para casa", reproduz a fala da irmã. "Ela mandou beijo para todo mundo e disse que logo ia estar em casa".

Sheyza morreu na madrugada de quinta-feira. Ainda de acordo com a família, a causa da morte foi insuficiência respiratória generalizada, tromboembolia pulmonar e hemorragia alveolar.

"A nossa intenção é buscar ajuda, estamos entrando com representação tanto no Brasil quanto no Paraguai, para que isso não aconteça com outras pessoas", afirma o irmão.

A própria família diz ter "periciado" o celular da menina onde constata a coação e que Sheyza pediu ajuda. "A gente juntou as conversas como se fosse um vídeo e gravando e mostra o despreparo e o desprezo da doutora irresponsável. Ela fala que está passando mal e dizem que 'não é nada, está tranquilo' e isso e aquilo", diz indignado o irmão.



Sheyza foi enterrada na sexta-feira (18) e desde então a família corre pedindo por justiça. "A gente vai entrar no Paraguai pedindo pela prisão dessas duas pessoas responsáveis e aqui pelo Brasil nós estamos lavrando uma ocorrência para ver se a Polícia consegue encontrar essa amiga", resume o irmão.

Do lado de cá da fronteira, a família quer saber quem levou e buscou Sheyza e a amiga da clínica. "Por que elas foram e se a jovem sabia que a estudante estava passando mal, porque não prestou socorro ou nos contactou?", questiona Diego.

Pelas conversas, a família chegou a dois nomes, o de Danilda que teria feito a aplicação e de Cláudia, suposta médica e dona da clínica.

A família tenta não pensar se poderia ter salvo a jovem caso soubesse ainda no sábado. "Embolia pulmonar é muito complicado. A gente não sabe se tivesse vindo antes, no hospital também falaram que mesmo que ela ficasse viva, ia ter sequelas", explica o irmão. "O que a gente quer é que isso não aconteça com mais ninguém, nenhum amigo, nenhum familiar de ninguém", finaliza Diego.

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