"Escola de furtos" a bancos tinha nota baixa: de 27 tentativas, só 3 vingaram
Entre tentativas e furtos, 30 casos foram listados só em 2018; nos dois anos anteriores foram apenas oito
Investigações que tiveram início em outubro de 2018 levaram à descoberta da “escola” de furtos a bancos comandada de dentro do Presídio de Segurança Máxima, Jair Ferreira de Carvalho, no Jardim Noroeste, em Campo Grande. Segundo a polícia, o método de arrombamentos de caixas eletrônicos e cofres, ensinado por meio de vídeos enviados por pelo aplicativo de mensagem ‘WhatsApp’, rendeu cerca 30 crimes só no ano passado, 27 frustrados e apenas 3 com sucesso.
De acordo com o Garras (Delegacia Especializada em Repressão a Roubos à Bancos, Assaltos e Sequestros), a forma como as lições eram passados para integrantes da quadrilha chegou a promover o cabeça da organização, Melrison da Silva, que de “Carinha”, passou a ser conhecido como “Professor” – em referência a um personagem do seriado La Casa de Papel.
Segundo o delegado titular do Garras, Fabio Peró Correa Paes, “professor” era o mandante dos crimes e sua ligação começou a ser investigada após participação em diversos furtos realizados entre os anos de 2016 e 2017, mesmo ele tendo sido preso em 2015, pelo mesmo motivo.
“Na verdade, houve uma mudança drástica nos números. Em dois anos, foram cerca de oito casos, quando em 2018 aumentou para 30. Com isso, abrimos inquérito para investigar especificamente ele, uma vez que percebemos que Melrison sempre estava envolvido nos casos e que a forma como os crimes eram praticados era sempre a mesa, com equipamentos de corte”, revelou Peró.
Ainda conforme o delegado, nas ações, os integrantes – que agiam em Mato Grosso do Sul, no Paraná, em São Paulo, Acre e até no nordeste – também utilizavam mantas térmicas para rastejar pelas agências bancárias, sem serem detectados pelos sensores.
As investigações também apontaram que, ao perceber que estava constantemente sendo investigado, o “chefe” da organização chegou a se afastar do celular, passando a contar com ajuda de outras quatro pessoas para repassar as os vídeos e ensinamentos aos demais integrantes. “Os quatro atuavam como uma espécie de braço direito de Melrison”, revelou Peró.
Alexsandro de Mello Balbueno, o Flamenguista; Lucas da Silva Tavares, o “Dentinho”; Xavier dos Santos e Rafael Azevedo da Silva, também conhecido pelo apelido “cabeça”, foram listados pela polícia como os principais ajudantes do líder da organização.
Pelo menos oitos furtos e tentativas registradas em 2018, no Estado, foram creditadas ao grupo. Estão entre os casos, o furto a um caixa eletrônico da Farmácia Drogasil e ao Banco do Brasil localizado na Avenida Zahran, ambos em Campo Grande, a loja do Sicred em Ponta Porã, Banco do Brasil de Chapadão do Sul, e Agência do Sicred em Aquidauana.
As investigações também listaram nomes de diversos outros integrantes, apontando que as pessoas eram escolhidas de forma aleatória para participação nos crimes. “Entre eles tem adolescentes, mulheres, era bem diversificado. Alguns entravam no banco, outros cuidavam da logística e do mapeamento dos locais antes do crime”, revelou Peró.
As investigações apontam ainda que a organização assaltava bancos nos fins de semana e feriados prolongados, e durante a semana estabelecimentos menores, onde a segurança também diminui.
Mandados – Nesta quinta-feira (14), foram cumpridos 10 mandados de prisão, tendo sido oito em Campo Grande e dois em Chapadão do Sul – a 321 quilômetros da Capital. Dois alvos não foram localizados, segundo a polícia. Os mandados foram realizados por equipes do Gaeco, em parceria com o Batalhão de Choque e da Polícia de Chapadão do Sul. Ao todo, 25 pessoas foram presas desde o início das investigações.
Segundo o delegado João Paulo Sartori, também do garras, parte dos integrantes da quadrilha pertenciam ao PCC, incluindo os cabeças.