“Expresso das domésticas”, linha é tão cheia que passageiros desistem
Veículos fazem ligação entre terminais Morenão, palco de protesto na sexta-feira, e Nova Bahia
A rotina delas é quase a mesma. Madrugam, algumas acordam bem antes de 5h, deixam os bairros periféricos da região sul, a mais populosa da cidade, para trabalhar na área nobre, Chácara Cachoeira, proximidades do Shopping Campo Grande, Carandá Bosque. No meio do caminho, o Terminal Morenão, palco de protesto na sexta-feira (15) que acabou com trabalhadoras enfrentando arma e spray de pimenta.
É na plataforma que estas passageiras, as que decidiram bloquear a saída dos ônibus no feriado da Proclamação da República, pegam os carros da linha 072, que faz a ligação entre o Morenão e o Nova Bahia. “Só tem esse para o Carandá”, afirma a cuidadora de idosos e diarista Alminda Alzira, de 53 anos.
“Já fui machucada no ônibus de tão lotado que estava. Hoje até que está tranquilo”, completou Alminda na entrevista na manhã desta segunda-feira.
Desistir do primeiro ônibus para pegar o próximo já é quase regra. Em uma hora, entre 6h10 e 7h10, o Campo Grande News contou quatro passagens de ônibus da linha 072 pelo terminal. Todas as vezes, os veículos estavam cheios e houve quem não conseguisse embarcar.
É o que enfrenta a diarista Cícera Barbosa da Silva, 44 anos. “Para chegar 7h30, 8h, tenho de estar no terminal às 6h, 6h15 no máximo. Quase sempre tenho de esperar um ou dois passarem porque não consigo entrar”.
Cícera conta que geralmente acorda às 5h30 e foi ao terminal no dia do protesto. “Acordei de madrugada naquele dia, eu sabia que teria menos ônibus. Mas por sorte eu consegui entrar no primeiro”.
Ela sai da região da Avenida Manoel da Costa Lima e trabalha em casas na região do Autonomista, Giocondo Orsi e região do shopping. A diarista conta que apesar a lotação, o fato do 072 ter como passageiros, nestes primeiros horários, a maioria mulher tem uma vantagem: “se uma grita, todas caem em cima”, revela sobre situações de assédio por exemplo.
O lema na linha usada pelas empregadas domésticas é cumplicidade. “Já vi homem querer brigar por causa de banco. Xingou a mulher e todas se revoltaram”.
Foi o que se viu na manifestação. As trabalhadoras se rebelaram com a demora dos ônibus da linha 072 e falta de funcionários do Consórcio Guaicurus no terminal para dar informações ou tomar providências e decidiram “partir para briga”. “Decidimos fechar, porque o 75 saía, o 87 saía, e o 72 nada”, conta Lucineia de Souza da Silva, de 40 anos.
A diarista narra ainda que havia carros extras no terminal, mas ninguém os colocava para funcionar, por isso a revolta. “Só tinha mulher, era pacífico”, afirma sobre o protesto.
Truculência – Na manhã de sexta-feira, grupo de passageiros, a maioria mulheres mesmo, bloqueou a saída sentido centro e quem participou do protesto reclamou de truculência e falta de diálogo da Guarda Civil Municipal, acionada para dispersar a manifestação. Alguns manifestantes sofreram com os efeitos do gás de pimenta.
Responsável pelo transporte público na Capital, o Consórcio Guaicurus informou que é usual a diminuição do número de ônibus e motoristas nas ruas em até 30% durante feriados e finais de semana.
Os guardas municipais que usaram spray contra os usuários do transporte coletivo não poderão mais atuar na rua a partir de hoje, quando processo administrativo seria aberto contra eles para apurar possíveis excessos na abordagem e, pelo regimento interno, os devem ser afastados até que a investigação seja concluída.
O Campo Grande News questionou o Consórcio Guaicurus sobre a situação e aguarda retorno.
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