“Achava que ela era uma grande amiga”, diz idosa sobre pastora
A idosa a levou para dentro da sua própria casa, assinou procuração para ela, deu uma casa de R$ 535 mil e só acreditou que era vítima de um golpe quando um homem a alertou
Comerciante aposentada e vivendo também dos lucros de investimentos em pecuária e imóveis, Orlanda de Oliveira Rosa tinha 73 anos quando foi para a Igreja Evangélica Pentecostal Unidos pela Fé, comandada pela pastora Julieta Souza, 51 anos.
“Um primo me indicou e eu fui. Conheci ela [a pastora]. Eu tinha ela como grande amiga minha”, conta Orlanda. Sete anos depois, Orlanda, agora com 80 anos, descobriu que a amiga a furtou jóias, dinheiro, roupas e causou um prejuízo, segundo a família, de aproximadamente R$ 700 mil.
A família e amigos já a tinham alertado da situação. Mas, Orlanda só acreditava na pastora e agora tem outro pensamento sobre a mulher. “Ela é uma ladra. Ela só me prejudicou”, diz.
Desconfiança- “A gente procurou o Ministério Público em 2008. O pessoal falou com ela [Orlanda], mas, como ela falava que estava tudo certo, nada foi feito. Mas, a gente percebia a situação”, lembra o bancário aposentado Olegário de Oliveira Rosa, 72 anos, irmão de Orlanda.
Desde então, a família ficou “com o pé atrás” e avisava a idosa da situação, mas, com bem menos frequência. Neste período, Orlanda lembra que Julieta dizia que suas coisas estavam “macumbadas” e a fazia se desfazer delas. “Ela tinha mania de dizer que estava tudo macumbado. Aí, ela me roubou dinheiro, mala de roupas, sapatos”.
No ano passado, o advogado da idosa e o estagiário dele descobriram que era Julieta quem estava recebendo o dinheiro de acordos pecuários feitos por Orlanda. Foi então que a Polícia Civil entrou no caso e descobriu toda a situação.
Além de furtar roupas, joias, calçados e dinheiro, Julieta ganhou uma residência avaliada em R$ 535 mil em um bairro nobre da Capital e saiu de uma casa de fundos onde morava de aluguel com o marido e três filhos.
Segundo o delegado Miguel Said, da 1ª Delegacia de Polícia Civil, Orlanda comprou o imóvel e passou para Julieta, que também tinha uma procuração para movimentação financeira da idosa. “A procuração foi eu quem deu para ela. Ela não pediu”, lembra a vítima.
Com o documento em mãos, a pastora recebia a aposentadoria de Orlanda, lucros de investimento e também fez empréstimos consignados em instituições bancárias.
O marido da pastora, Nelson Gimenes, ficava com o dinheiro que era para pagar o condomínio. “Agora descobri que tenho divida até com isso, contou a aposentada.
Segundo a família, Orlanda de Oliveira só descobriu o golpe depois que um homem foi na casa dela e contou que o “anjo Gabriel” havia lhe falado que a líder religiosa estava roubando suas coisas. “Ele foi lá enviado por Deus”, definiu a vítima.
Agora, depois do crime, a aposentada disse que não vai acreditar em mais ninguém. “Agora estou escaldada”, finalizou.
Crimes - A pastora Julieta Souza e o marido, Nelson Gimenes, foram indiciados por estelionato qualificado por ter sido contra idoso e também retenção de documentos. Julieta nega o estelionato e afirma que tudo o que conseguiu até hoje foi por meio de orações.
“Ore bastante que Deus manda”, disse ao delegado Miguel Said, responsável pelas investigações.
O delegado vai pedir à Justiça que a casa da pastora seja seqüestrada e com isso o bem pode ficar indisponível para negociação. Um carro da idosa, avaliado em R$ 20 mil, já foi recuperado. O veiculo estava à venda em uma garagem da Capital.
Agora, Polícia e familiares vão procurar instituições bancárias para saber quanto a aposentada deve em empréstimos consignados.