Acidentes domésticos com crianças dobram na pandemia, aponta pesquisa
No primeiro ano da pandemia, quase 150 crianças foram internadas em hospitais públicos após acidentes em casa
Uma pesquisa da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) apontou que o número de crianças internadas por acidente doméstico em Campo Grande aumentou 70% entre janeiro e outubro de 2020, quando houve isolamento social devido à pandemia de covid-19, comparando com o mesmo período de 2019.
É o que indicam os dados preliminares do estudo realizado por pesquisadoras do Instituto Integrado de Saúde, ligado à universidade, junto a três hospitais de Campo Grande e o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
Intitulado “Acidentes na infância e hospitalização infantil devido o isolamento social por Covid-19”, o projeto é coordenado pela professora Maria Angélica Marcheti e conta com a participação das pesquisadoras do instituto, servidores do Humap-UFMS (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian), do Samu; além de acadêmicas de graduação e pós-graduação em Enfermagem. O projeto teve início em maio de 2021.
“Em decorrência da necessidade de isolamento social e o consequente fechamento das escolas e dos centros educacionais infantis, as crianças permaneceram o tempo todo em suas casas. As famílias precisaram se organizar para dar conta, muitas vezes, dos afazeres domésticos, das atividades profissionais em home office ou remotamente, e dos cuidados das crianças. Nem todas as famílias dispõem de ajuda para tantas tarefas”, declarou a professora.
Para Maria Angélica, todas essas atividades juntas exigem maior esforço e divide a atenção, especialmente a dos cuidadores. “As crianças, por permanecerem em casa e, por vezes entediadas, acabam por explorar mais o ambiente doméstico o que as expõem a riscos”, afirma.
Analisando os prontuários nos três hospitais, a equipe de pesquisadoras contabilizou 85 pacientes, entre janeiro e outubro de 2019, internados devido a acidentes domésticos. No mesmo período, em 2020, o número subiu para 146. “As principais situações registradas são: queimaduras, lesão nos olhos, cortes, fraturas e traumas em geral, que ajudaram a aumentar em 75% as buscas por atendimentos em um hospital de grande porte”, aponta a docente.
Até o momento, é possível dizer que a maior parte das ocorrências aconteceram em comunidades carentes e vulneráveis. “O isolamento domiciliar de longo prazo, devido às medidas adotadas para evitar a propagação da covid-19, apresentou o potencial de aumento do risco de acidentes domésticos em crianças, como um dano colateral adicional da pandemia”, destaca.
O estudo também gerou outros resultados como trabalhos de conclusão de curso e apresentação em evento científico nacional. Além disso, os resultados parciais têm sido apresentados à comunidade, focando à prevenção de acidentes na infância e, segundo Maria Angélica, as ações são realizadas tanto na UFMS como em centros de educação infantil.