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Capital

Alegria de quem recebeu casa é do tamanho da agonia de quem espera

Alberto Dias e Luana Rodrigues | 02/07/2016 11:06
Moradora do Bom Retiro aguarda há quatros meses a chegada dos materiais de construção.
Moradora do Bom Retiro aguarda há quatros meses a chegada dos materiais de construção.

A alegria das 42 famílias da Cidade de Deus que receberam suas casas no Vespasiano Martins é proporcial à ansiedade e incerteza de outras 272 que viviam na mesma favela e foram transferidas para outros três loteamentos. Centenas de adultos e crianças ainda aguardam, há alguns meses, o envio de material para finalmente começarem a levantar suas moradias e deixar para trás a realidade instalada em barracos provisórios.

Algumas cansaram de esperar e tentam melhorar as condições precárias onde moram. Uma delas é Mirian Salviano, de 43 anos, que vive com quatro filhos no Bom Retiro, um dos locais que deverá receber material e infraestrutura na próxima semana, segundo informa a Prefeitura. Na manhã deste sábado (2), Mirian trabalha junto com o marido Antônio Carlos para "levantar" mais duas peças em seu barraco. "Se for depender da boa vontade de políticos, a gente vai viver apertado, sem saber até quando", reclamou.

Antônio Carlos, 39 anos, cansou de esperar e levanta mais dois cômodos em seu barraco. (Fotos: Alcides Neto)
Antônio Carlos, 39 anos, cansou de esperar e levanta mais dois cômodos em seu barraco. (Fotos: Alcides Neto)

No local, Jorge Paredes passa pelo mesmo problema. "Aqui está pior que na favela, pois lá eu tinha um barraco melhor", contou à reportagem. Ele foi um dos primeiros a ser transferido para lá, em março, com a promessa de ter a casa pronta até o final de junho - prazo inicial dado pela Prefeitura e que só foi cumprido no Vespasiano Martins. Com 51 anos de idade e uma esposa deficiente, ele convive com o desemprego e a expectativa de um lar digno.

Já a cozinheira Ana Lúcia da Silva, de 34 anos, "ouviu dizer" que os tijolos, areia e cimento chegarão na próxima quinta-feira (7) mas desconfia, diante de prazos não cumpridos anteriormente. Além da expectativa, ela convive com o medo da violência ao descer do ponto de ônibus distante 10 quadras. "Não dá para voltar pra casa à noite, ainda mais porque tenho uma filha de três anos", contou. Segundo ela, a caminhada é longa e difícil, especialmente quando chove, por conta da lama e buracos na rua sem asfalto.

No Bom Retiro vivem 135 famílias. Outro local é o loteamento Pedro Teruel onde moradores contam que o material começou a chegar na semana passada para construção de 87 casas. Já no Canguru, onde serão erguidas 50 moradias, a previsão é que um caminhão traga os primeiros insumos na segunda-feira (4).

Posição da Prefeitura - A assessoria do Município explicou ao Campo Grande News que o prazo para a conclusão das moradias é de três meses, contados a partir da chegada dos materiais. Já a secretária-adjunta de Planejamento, Finanças e Controle, Maria do Amparo, prevê que tudo estará pronto até 10 de setembro. Em abril, a gestora garantiu que todas as casas seriam entregues nos quatro loteamentos até o fim de junho, o que não ocorreu.

Cada casa terá 46 metros quadrados, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro e uma área de serviço coberta. Conforme a Prefeitura, o custo por unidade é de R$ 12 mil e o terreno onde as famílias foram instaladas R$ 24 mil. O valor poderá ser pago pelos novos moradores em 300 parcelas de R$ 120. A Emha (Agência Municipal de Habitação) fará a regularização e começará a cobrança ainda em julho, mesmo sem a conclusão de 272 unidades.

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