Alegria de quem recebeu casa é do tamanho da agonia de quem espera
A alegria das 42 famílias da Cidade de Deus que receberam suas casas no Vespasiano Martins é proporcial à ansiedade e incerteza de outras 272 que viviam na mesma favela e foram transferidas para outros três loteamentos. Centenas de adultos e crianças ainda aguardam, há alguns meses, o envio de material para finalmente começarem a levantar suas moradias e deixar para trás a realidade instalada em barracos provisórios.
Algumas cansaram de esperar e tentam melhorar as condições precárias onde moram. Uma delas é Mirian Salviano, de 43 anos, que vive com quatro filhos no Bom Retiro, um dos locais que deverá receber material e infraestrutura na próxima semana, segundo informa a Prefeitura. Na manhã deste sábado (2), Mirian trabalha junto com o marido Antônio Carlos para "levantar" mais duas peças em seu barraco. "Se for depender da boa vontade de políticos, a gente vai viver apertado, sem saber até quando", reclamou.
No local, Jorge Paredes passa pelo mesmo problema. "Aqui está pior que na favela, pois lá eu tinha um barraco melhor", contou à reportagem. Ele foi um dos primeiros a ser transferido para lá, em março, com a promessa de ter a casa pronta até o final de junho - prazo inicial dado pela Prefeitura e que só foi cumprido no Vespasiano Martins. Com 51 anos de idade e uma esposa deficiente, ele convive com o desemprego e a expectativa de um lar digno.
Já a cozinheira Ana Lúcia da Silva, de 34 anos, "ouviu dizer" que os tijolos, areia e cimento chegarão na próxima quinta-feira (7) mas desconfia, diante de prazos não cumpridos anteriormente. Além da expectativa, ela convive com o medo da violência ao descer do ponto de ônibus distante 10 quadras. "Não dá para voltar pra casa à noite, ainda mais porque tenho uma filha de três anos", contou. Segundo ela, a caminhada é longa e difícil, especialmente quando chove, por conta da lama e buracos na rua sem asfalto.
No Bom Retiro vivem 135 famílias. Outro local é o loteamento Pedro Teruel onde moradores contam que o material começou a chegar na semana passada para construção de 87 casas. Já no Canguru, onde serão erguidas 50 moradias, a previsão é que um caminhão traga os primeiros insumos na segunda-feira (4).
Posição da Prefeitura - A assessoria do Município explicou ao Campo Grande News que o prazo para a conclusão das moradias é de três meses, contados a partir da chegada dos materiais. Já a secretária-adjunta de Planejamento, Finanças e Controle, Maria do Amparo, prevê que tudo estará pronto até 10 de setembro. Em abril, a gestora garantiu que todas as casas seriam entregues nos quatro loteamentos até o fim de junho, o que não ocorreu.
Cada casa terá 46 metros quadrados, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro e uma área de serviço coberta. Conforme a Prefeitura, o custo por unidade é de R$ 12 mil e o terreno onde as famílias foram instaladas R$ 24 mil. O valor poderá ser pago pelos novos moradores em 300 parcelas de R$ 120. A Emha (Agência Municipal de Habitação) fará a regularização e começará a cobrança ainda em julho, mesmo sem a conclusão de 272 unidades.
Confira a galeria de imagens: