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Capital

Após confirmar idade, Polícia vai ouvir menina dependente de droga aos 12

Paula Maciulevicius | 08/02/2012 14:07

Segundo o delegado, a menina será ouvida até esta quinta-feira e pode ser submetida de medidas socioeducativas à internação

“Meu Deus, eu sabia, ela não ia ficar, mas mesmo assim eu tentei e ela chegou de tarde com a mala na mão e à pé”. (Foto: Marlon Ganassin)
“Meu Deus, eu sabia, ela não ia ficar, mas mesmo assim eu tentei e ela chegou de tarde com a mala na mão e à pé”. (Foto: Marlon Ganassin)

Do relato de ontem de uma mãe desesperada, ao ver a filha de 12 anos ser levada pelas drogas e pelo crime, a uma mulher que agora tem os olhos do poder público. Não foi por falta de tentativas. A mãe da menina envolvida em uma sequência de furtos já havia procurado o Conselho Tutelar em janeiro, logo que os crimes começaram, implorando por socorro.

A ajuda até veio e por minutos tranquilizou o coração daquela mãe. “Eles levaram ela para uma clínica, uma chácara. Mas ela foi de manhã e voltou a tarde. Eles disseram que não ficava obrigado, se não quisesse. Meu Deus, eu sabia, ela não ia ficar, mas mesmo assim eu tentei e ela chegou de tarde com a mala na mão e à pé”. Este é o desabafo da mãe – o que ela espera é que este seja o último.

A Polícia já intimou a menina a depor. Entre os quatro registros policiais de furto e tentativa de furto, em três deles a adolescente constava com idade de 10 anos. Só ontem a Deaij (Delegacia Especializada no Atendimento a Infância e Juventude) conseguiu confirmar a idade da menina no cartório, completa 13 anos amanhã.

Segundo o delegado da Deaij, Gomides Ferreira dos Santos Neto, a menina será ouvida até esta quinta-feira e pode ser submetida de medidas socioeducativas à internação. Nos boletins de ocorrências já registrados, ela aparecia como testemunha, porque pela idade até então informada, os furtos não poderiam ser considerados atos infracionais.

“Até 12 anos ela é de competência do Conselho Tutelar, acima disso, da Delegacia”, explica o delegado. A apreensão é apenas em casos extremos, quando os crimes acontecem mediante a violência, o que até o momento não foi registrado.

Para o delegado a aparição de casos de dependência e crimes envolvendo meninos e meninas cada vez mais novos passou a ser comum há muito tempo. O que leva a uma preocupação maior ainda.

Ontem a mãe de uma adolescente que está prestes a completar mais um ano de vida desabafou. Contou que os sonhos, planos e a vida vieram abaixo. (Foto: Marlon Ganassin)
Ontem a mãe de uma adolescente que está prestes a completar mais um ano de vida desabafou. Contou que os sonhos, planos e a vida vieram abaixo. (Foto: Marlon Ganassin)

Segundo a mãe da adolescente, ela mesma dizia aos policiais que não podia ser presa. “Sabia que com ela nada ia acontecer. Ela sabe que não fica presa, daí não adianta, ela responde”, conta.

Hoje a mãe vai até o gabinete do promotor da Vara da Infância e Juventude, Sérgio Harfouche. Na esperança de conseguir o que tanto tem pedido, ajuda, tratamento para não ver a filha morta.

“No Estado não temos preocupação no tratamento de dependentes. Ou essa mãe acorrenta a filha ou ela vai ser apreendida ou morta”, declara o promotor.

Segundo ele, em todo Mato Grosso do Sul existem apenas 12 leitos para desintoxicação. No caso da menina não haverá pedido de internação em unidades de educação. Harfouche defende aplicação de medidas socioeducativas e tratamento.

“Ela tem 6 anos para ver tudo o que tiver que ver dentro da Unei e nada mais além disso. Ela ser representada não vai evitar que ela continue a prática”.

Vizinhança - Ao Campo Grande News o relato dos vizinhos é de arrepiar. Segundo eles em todo o bairro se pode contar nos dedos de uma só mão onde a menina não furtou. As vítimas são muitas e o pior, sustentado por elas, é que todas tentaram avisar.

“A mãe que não via. A gente fica com dó. Mas desde criança ela parecia que ia ser assim. Roubava bala, bolacha no mercado e a mãe não acreditava que era ela. Isso com 6 anos”, conta uma das vizinhas.

Em uma região marcada pela pobreza e principalmente pela criminalidade, o Dom Antônio Barbosa parece ter “acolhido” a menina. Uma outra moradora ressalta o que dói de ouvir. “A gente já via, ela quando chegar aos 12 anos vai comandar o Dom Antônio. E está acontecendo. Dito e feito”.

Drama - Ontem a mãe de uma adolescente que está prestes a completar mais um ano de vida desabafou. Contou que os sonhos, planos e a vida dela e das outras duas filhas vieram abaixo. De janeiro para cá, logo depois da virada do ano a mais nova mulher dessa casa, no bairro Dom Antônio Barbosa trocou as brincadeiras e o aprendizado da idade pela boca-de-fumo.

De casa já foi levado tudo o que ela conseguia carregar. O caso veio à tona nesta terça-feira, depois que a menina foi pega tentando furtar a mercearia do bairro, a poucas quadras de casa.

O que a mãe e a irmã mais velha relataram é desesperador. Na residência elas precisam ficar de olho o tempo todo e vivem sob ameaça.

“A gente é discriminada. Depois que roubam a casa do vizinho ele veio aqui e me humilhou. Só ouço falar que vão matar a minha filha”.

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